sábado, 31 de agosto de 2013

Cineclube Sesi: Cinema Moderno Japonês

O Cineclube Sesi apresenta no mês de outubro uma retrospectiva de um capítulo muito importante da história do cinema mundial: a “segunda fase” da produção japonesa, que à maneira dos Cinemas Novos  do mundo inteiro encampava um conflito geracional riquíssimo.
O cinema japonês clássico (capitaneado pelo mestre Kenji Mizoguchi) oferecia uma leitura da tradição e cultura japonesas, que após a segunda guerra e, mais precisamente a partir dos anos 60, não representava a imensa revolução comportamental empreendida pelas gerações mais jovens: do feminismo, ao rock’n roll, passando por novas formas de expressão artística e ideológica.
O ciclo Cinema Moderno Japonês analisa alguns capítulos da chamada Nouvelle Vaguejaponesa e seu projeto de emancipação sexual nos anos 60, seguido pela perversãosexploitation dos anos 70, e destacando a assimilação do gênero empreendida pelo maior representante do cinema nipônico no ocidente: Akira Kurosawa.

Miguel Haoni
(Cineclube Sesi, 2013)


Programação:
05/09 - "Céu e Inferno", de Akira Kurosawa 12/09 - "Onibaba", de Kaneto Shindô 19/09 - "Duplo Suicídio em Amijima", de Masahiro Shinoda 26/09 - "Female Convict Scorpion Jailhouse 41", de Shunya Ito

Oficina de cinema na escola
Como ação complementar à programação de setembro, o Sesi oferece no dia 14 (sábado) das 8:00 as 12:00 e das 14:00 as 18:00 a Oficina de cinema na escolaque pretende municiar conceitualmente coordenadores, professores e alunos para o desenvolvimento de atividades com o cinema no espaço escolar.Da formação de cineclubes estudantis ao uso do filme como recurso pedagógico, a oficina pretende traçar um panorama das possibilidades de interação entre o ensino formal e a arte cinematográfica.

Serviço:
Sessões toda quinta 
19h30 
na Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema Fiep
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA

Realização: Sesi 
Produção: Atalante

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Contrabando




Moonrise Kingdom, de Wes Anderson (EUA, 2012)

Há uma dimensão francamente política no cinema de Wes Anderson, que só parece vir às claras neste Moonrise Kingdom. Política, pois, em época em que se tornou comum anular o mundo concreto em abstração, seja pela conceituação como fim ou pelos delírios da pura fantasia, a manipulação extrema que Wes Anderson dedica a cada pequeno detalhe de seus filmes (os melhores e os piores, indistintamente) vai pela via oposta: em vez de filmar o mundo tal qual uma casa de bonecas, filmar uma casa de bonecas como se ela fosse o mundo. Essa impressão já ficava clara nas maquetes gigantes que surgiam a partir de Os Excêntricos Tenenbaums para, junto com as caminhadas em slow motion, nunca mais deixar a obra do diretor. Seja a casa da família Tenenbaum, o navio de Zissou, o trem que vai a Darjeeling ou a toca de Mr.Fox, os universos cênicos dos filmes de Anderson são esquadrinhados, desdobrados feito um livro infantil que encontra efeito tanto em sua estrutura pronta, quanto no devir de sua própria montagem – reforçado pela sinfonia decomposta na trilha-sonora que abre e fecha este novo filme.

Moonrise Kingdom
começa de forma parecida, com um disco na vitrola, uma casa aberta ao meio e as pessoas, por ali, cada uma em seu cômodo, fazendo sua parte da coreografia. Até aí, nada que não soubéssemos antes. Mas Moonrise Kingdom assume sua dimensão política trazendo para o primeiro plano uma característica que sempre esteve no cinema de Wes Anderson: se suas crianças se comportam como adultos, é porque seus adultos se comportam como crianças. Aqui, essa proposição é levada adiante, até torcer o rabo e mudar diametralmente de posição no espaço. Os jovens Sam (Jared Gilman) e Suzy (Kara Hayward) não só formam o único casal realmente feliz do filme; mais ainda, a convicção de que devem ficar juntos, aconteça o que acontecer, expõe a fragilidade de todas as relações ao redor. Wes Anderson filma a casa de bonecas como um mundo, pois por meio disso ele pode chegar a uma outra constatação fundamental: este mundo que todos levamos a sério, ele sim é uma casa de bonecas, um divertimento, uma bobagem que assumimos como dignidade cotidiana. Isso rebate inevitavelmente nas instituições: mais ridícula do que a lei, só a maneira como os adultos – advogados, policiais, assistentes sociais ou, piada das piadas, chefes dos escoteiros – se comprometem a segui-la independente de como o mundo se apresenta diante de seus olhos.

A inversão que revela a inversão é justamente o que faz deste Moonrise Kingdom, com toda sua leveza, uma obra tão mais eloquente do que bastiões das alegorias juvenis como “Animal Farm”, de George Orwell, e “The Lord of the Flies”, de William Golding – títulos que nos recebem à porta quando chegamos no acampamento de rapazes do filme. Embora a literatura infanto-juvenil seja referência flagrante no trabalho de Wes Anderson, seu toque está muito mais para J.D. Salinger do que para Orwell ou Golding. Por mais que o nome de Salinger tenha sido evocado de maneira muito justa à época do lançamento de Os Excêntricos Tenenbaums (tão justa que até o nome Tenenbaum é tirado de um conto de Salinger, o primoroso “Down at the Dinghy”), em geral faltava a percepção de que o interesse compartilhado entre os dois autores está em descobrir como a ourivessaria da techné pode revelar a falta de sentido do mundo por meio de epifanias (imagem-chave da obra de Salinger: uma discussão interrompida em um engarrafamento por uma fanfarra completa que desfila, ensurdecedora, pelo meio da cidade), em vez de criar alegorias que professem ideologias. Wes Anderson tem um prazer particular em ver as casas de bonecas que ele mesmo constrói pegando fogo. 

Muito por isso, Moonrise Kingdom torna cristalina uma impressão que, sabe-se lá como, permanecia oculta: Wes Anderson faz os filmes que Luc Moullet faria se fosse americano e filmasse em Hollywood. Tal parentesco fica mais claro aqui em Bob Balaban, que encarna um narrador extremamente remetente à figura de Moullet em seus próprios filmes, e que contrabandeia sua estratégia de deixar o olhar fugir do quadro durante suas narrações, como se estivesse louco para fugir dali (e, em outro momento, Anderson praticamente recriará a dancinha de Minha Primeira Braçada). “Martin Scorsese define boa parte dos cineastas americanos como contrabandistas”, dizia Moullet. “Contrabando é fingir que cocaína é açúcar”. Existe definição melhor para este Moonrise Kingdom e sua perversa confeitaria, capaz de fingir que está falando sobre crianças quando, na verdade, é de nós, do nosso mundo, que ele está o tempo todo a falar?

  Essa clareza se dá por Wes Anderson, sempre um cineasta do patético, estar aqui particularmente disposto ao ridículo, seja pelo tom intensificado das gags ou pela maneira despreocupada com que o filme flerta com o absurdo. O ridículo, porém, não deixa de ser comovente. É inevitável se simpatizar com a maneira como o Scout Master Ward (Edward Norton) se dedica de corpo e alma à inutilidade e incompetência de seu trabalho. O riso, no cinema de Wes Anderson, é sempre um riso triste, o riso da consciência de que gostaríamos de não estar rindo, pois nos reconhecemos ali, e sentimos também em nossos braços o apertão cada vez mais forte de nossas amarras sociais. O riso, no cinema de Wes Anderson, é tudo, menos balsâmico.

Pois, no fundo, Moonrise Kingdom é um filme triste, quase fatal. As crianças são capturadas pela câmera no único momento possível de vida, aquele entre o niilismo da infância e a submissão às convenções do mundo adulto. Suzy beija Sam pela primeira vez e aquele momento de entrega é atravessado pela consciência da ereção do garoto a lhe roçar as pernas. Ele pede desculpas, ela diz que gosta. “Você pode tocar o meu peito”, oferece, mas sequer há peito a ser tocado. O amor, aquele breve clarão que rasga o céu, é rapidamente curvado às convenções. Sam e Suzy começam a se comportar como outras pessoas que se amam se comportam, aprendendo seus passos na triste coreografia da vida adulta. Ao final do filme, Sam vai embora pela janela e Suzy já estará reproduzindo o comportamento de sua mãe infeliz, que deixa o marido em casa enquanto vai se encontrar com o amante. Moonrise Kingdom é um filme comovente justamente por sua dedicação irrestrita e inevitavelmente infrutífera a filmar o reino que nasce e morre no momento em que a lua começa a subir e a noite, certa e incontornável, ainda não terminou de chegar.

Fabio Andrade
(Texto original: http://www.revistacinetica.com.br/moonrisekingdom.htm)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Cine FAP: "O Enigma de Andrômeda", de Robert Wise


Um satélite espacial cai em uma pequena cidade interiorana da terra. Por causa da colisão, uma bactéria fatal que veio do espaço começa a dizimar a população. Enquanto isso, uma equipe de cientistas trabalham em um laboratório no subsolo tentando encontrar a cura, e descobrem que dos infectados só quem sobreviveu foi um bêbado e uma criança. A solução precisa ser encontrada antes que toda a humanidade seja exterminada.

Comentários: Alexandre Magno e César Alves da Rocha
Serviço:
dia 02/09 (segunda)
às 19h00
na Auditório Antonio Melillo
(Rua dos Funcionários, 1357, Cabral)
ENTRADA FRANCA

Realização: FAP
Produção: Cine FAP e Grupo de Estudos de Cinema de Horror
Apoio: Coletivo Atalante

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Cineclube Sesi: "Moonrise Kingdom", de Wes Anderson


Re- inventor do humor chuvoso a La “Peanuts” Wes Anderson retoma perifericamente ao tema da orfandade em seu último filme “Moonrise Kingdom”, um libelo sobre a crueza do amor infanto-juvenil feito por quem nunca subestimou (assim como a supracitada tira de quadrinhos/desenho animado) a sensibilidade das crianças grandes que somos todos nós.

Gabriel Gaya (APJCC)

Serviço:
dia 29/08 (quinta)
às 19h30na Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema Fiep(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)

ENTRADA FRANCA

Realização: Sesi 
  
  (
http://www.sesipr.org.br/cultura/)
Produção: Atalante (http://coletivoatalante.blogspot.com.br/)

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Poiesis - Caminhadas Literárias

Sábado, 31 de agosto de 2013
14:00
Anfiteatro 1100 do Ed. Dom Pedro I (UFPR Reitoria), Rua General carneiro 460.

Palestra do dia 31 de Agosto: Metamorfoses, com o professor Rodrigo Tadeu Gonçalves* (sobre Rodrigo, ler abaixo).

O "Poiesis - Caminhadas Literárias" é um evento de extensão, organizado e idealizado por alunos da UFPR (membros e parceiros do Coletivo Atalante) e coordenado pelo professor Benito Rodrigues. Tal evento consiste em um conjunto de palestras ministradas por professores da mesma instituição. O objetivo principal deste evento é oferecer palestras sobre obras literárias clássicas tanto à comunidade acadêmica quanto à comunidade não acadêmica. Nosso intuito é abrir as portas da universidade a todos os públicos, para assim tornar o saber acadêmico, constituído em torno do universo literário, acessível a quem de direito: o leitor! Dividido em três módulos - Grandes Narrativas, O Romance e A Poesia - este evento terá três anos de duração (2013-2015), sendo que em cada módulo (que terá um ano de duração) os organizadores optaram por dispor as palestras em uma ordem que não obedecesse à cronologia de publicação das obras (como geralmente é feito), mas sim ordená-las ao acaso (a ordem das palestras foi determinada em lances de dados, em homenagem ao poema "Um Lance de Dados Jamais Abolirá o Acaso", do poeta Mallarmé). Isso é para nos aproximarmos mais da experiência real de qualquer leitor, que lê antes movido por desejos e impulsos do que seguindo cronologias rígidas, dai o nome "Caminhadas Literárias", que nos sugere uma mobilidade intermitente e não vetorizada. Outro objetivo importante está atrelado à estrutura das palestras, que serão divididas em dois momentos: um destinado a uma consideração teórica e crítica sobre a obra em questão e o outro voltado à leitura de um trecho (ou trechos) da obra, ou seja, um momento de fruição, sendo que a ordem destes "momentos" será determinada por cada palestrante. O evento é gratuito e a cada término de módulo sortearemos as obras que serão analisadas em cada palestra, mas só concorrerá ao sorteio aqueles que tiverem ao menos 80% de frequência.

- Local: Anfiteatro 1100 do Ed. Dom Pedro I (UFPR Reitoria), Rua General Carneiro 460.
- Horário: 14h às 18h. Todas as palestras ocorrerão aos sábados.
- informações: poiesiscaminhadasliterarias@gmail.com

Programação:

- 22/06: Os Lusíadas, com Marcelo Sandmann.
- 13/07: Fausto, com Paulo Soethe.
- 27/07: Odisseia, com Roosevelt da Rocha.

- 31/08: Metamorfoses, com Rodrigo Gonçalves.

- 14/09: Ilíada, com Bernardo Brandão.
- 21/09: Canção de Rolando, com João Arthur.
- 28/09: A Divina Comédia, com Ernani Fritoli.
- 19/10: As Tragédias de Shakespeare, com Liana Leão.
- 09/11: Teogonia, com Roosevelt da Rocha.
- 14/12: Bíblia, com Bernardo Brandão.

* Rodrigo Tadeu Gonçalves é Professor Adjunto de Língua e Literatura Latina na graduação e pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Paraná e Doutor em Letras na linha de História e Filosofia da Lingüística pela mesma instituição. Pós-doutorado no Centre Léon Robin de recherche sur la pensée antique do CNRS-Université Paris IV-Sorbonne e École Normale Superieure, sob orientação de Barbara Cassin e Florence Dupont. Áreas de interesse recentes incluem língua e literatura latina (especialmente comédia latina), filosofia da linguagem, estudos da tradução, sofística e filosofia da linguística. Atualmente atua como vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPR.

domingo, 25 de agosto de 2013

Som de Todas as Cores



FESTA A FANTASIA

Sábado, 7 de setembro de 2013,  22:00

E ae pessoal! Está chegando mais uma festa com muito Som de Preto pra agitar essa cidade! Nesta 4° edição, no dia da independência e consecutivamente dia da padroeira de nossa cidade (ui!), estaremos celebrando a expressão sexual em suas mais variadas formas, viva a diversidade! Seja Homo! Trans! Pan! A! Aqui, agora e sempre, VALE TUDO (até mesmo dançar homem com homem e mulher com mulher - ouviu Tim Maia?). 

Ah! E repare que a festa será à fantasia, então vai rachando a cuca ai pra preparar algo bem bacana pra curtir conosco!

ATRAÇÕES:

Na pista:
Adara (Som de Preto)
Caetano (Som de Preto)
Haroldo
Miguel (Som de Preto)
Serge (Abravanagem)

No Jardim discotecagem em vinil com:
Matheus Reinert (Disco Veneno)
Lucas Nonose (Disco Veneno).

Performances com O Estábulo de Luxo.:
A verdadeira história de Stéfano Belo ou as aventuras da Diva Freak Freak Ton Ton na contracultura curitibana.
Goliardx (dança de um corpo fora dos padrões de Ricardx Nolascx)
Cinderéla Radioativa (Danielle Campos)

Docinhos maravilhoso e muita cocada com as meninas do Cocaderia.

Concurso de Dublagem com apresentação de Dalvinha Brandão. Inscrições pelo e-mail festasomdepreto@gmail.com, mande seu nome, "música que irá dublar" e "por quê?". - VAGAS LIMITADAS -
Mais informações: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=488065527949306

A festança será ali no 351, Trajano Reis (Antigo Kubrick).
A entrada será 10 pila até 01 hr, após, 15.
E fique ligado! Se quiser pagar mais barato estará rolando a lista amiga até as 01 hr, são só 7 pila, camaradagem. (é só enviar teu nome para festasomdepreto@gmail.com até 12:00 do dia 6)


Video de Haroldo Castro Alves: https://vimeo.com/72357571

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Textos sobre "Marrocos" de Josef Von Sternberg


MARROCOS

Sem extras dignos de nota e numa cópia que – o trocadilho é irresistível – já está pra lá de Marrakech: é assim que nos chega em DVD esse famosíssimo filme de Josef von Sternberg, o mítico Marrocos. Mítico por vários motivos: primeiro porque boa parte do acervo iconográfico de Marlene Dietrich tem aqui suas imagens mais clássicas. Segundo porque o deserto, o vento, a noite, a jornada dos heróis, tudo isso se vê fincado em solos mitológicos na estrutura ficcional do filme. Para completar a celebridade de Marrocos, e puxando a brasa para a sardinha do universo crítico, tem também o fato de que ele foi alvo de um daqueles rigorosos textos coletivos de revisão do cinema clássico nos Cahiers du Cinéma em 1970.

Marrocos é sem dúvida uma interseção histórica entre o poder da mulher de encarnar os fetiches da sociedade moderna e o poder do cinema de ilustrar esse desejo vital de fetiches. Um ponto de tamanha convergência só poderia resultar num enredo que coloca a mulher como centro narrativo do filme – e, por tabela, como eixo gravitacional do universo da ficção. Da mesma forma que o papel anterior de Marlene Dietrich (O Anjo Azul) e seu passado extra-cinematográfico (cantora de cabaré) são recrutados pelo filme, o passado extra-cinematográfico do cinema também será convidado a participar do espetáculo: cenários de teatro, números de music-hall, romance de folhetim.

No começo do filme, vemos os legionários chegando do deserto, emergindo do fundo do campo – como miragens que ganham vida. Em meio aos legionários está Tom Brown (Gary Cooper), por quem Amy Jolly (Dietrich) irá se apaixonar. Como os Cahiers bem observaram, as determinações eróticas do filme pervertem a hierarquia que engendra as relações sociais entre os personagens.Marrocos estabelece um jogo erótico segundo o qual o objeto de desejo é sempre de um escalão inferior ao de quem deseja. É por isso que a seta da paixão aponta, no fim de tudo, para Brown, o legionário, aquele que, na escala social que envolve os protagonistas do filme (os marroquinos seriam um caso à parte), ocupa o último degrau. O rico e culto La Bessière, que conhece Amy Jolly no barco que aporta em Marrocos, embora apaixonado pela dançarina, acaba sendo um mediador entre ela e Brown, chegando mesmo a levá-la de carro até o lugar onde o soldado está partindo junto ao resto da tropa na cena final. O elemento nobre, portanto, acaba sendo um meio de ligação entre as pontas “vulgares” da narrativa. 

Ir atrás de Brown, como Amy Jolly faz, é ir atrás de uma miragem (o ponto de atração – e de fuga – é o deserto). Ela se junta ao que La Bessière, em cena anterior, chamara de “retaguarda”: as mulheres dos legionários, que os seguem pelo deserto, mas que freqüentemente os encontram já mortos, abatidos em algum combate. O plano de Amy Jolly olhando a legião se distanciar, em silêncio, possui um ar antecipatório, prenunciando o que ocorrerá na segunda metade do filme. Para atingir o deserto, esse lugar de abstração radical, Amy Jolly se desfaz pouco a pouco dos adornos, dos enfeites. Há dois momentos marcantes: o colar de pérolas se arrebentando em meio ao jantar, quando ela recebe a notícia de que Brown está retornando à cidade, e a clássica cena final, em que ela corre para se juntar às mulheres da “retaguarda” e tira os sapatos de salto alto, deixando-os para trás na areia do deserto, cena que Sternberg, naturalmente, mostra em detalhe. O filme parece feito para ressaltar efeitos de escritura – efeitos de superfície – que hoje soam inevitavelmente icônicos. Não é preciso já ter visto antes a cena dos sapatos na areia do deserto para reconhecê-la de alguma forma: Marrocos tem essa poderosa mística do déjà vu. 

A outra cena antológica de Marrocos é aquela em que Amy Jolly encontra Brown num bar acompanhado de uma prostituta. Ela senta à mesa em que ele acabara de escrever seu nome com um canivete e eles conversam não muito à vontade. Depois que Brown se levanta e Amy Jolly fica sozinha, ocorre uma espera, por parte de nós, espectadores, até que Amy Jolly descubra o que o filme já nos mostrou poucos minutos antes. Ela mexe nas cartas que estão sobre a mesa, se perde em pensamentos, desvia o olhar. Uma forte tensão se cria, pois o espectador torce para que ela veja seu nome escrito na mesa, mas algo a bloqueia. Sternberg, nesse momento, nos dá a oportunidade de realmente entrar no filme e ocupar o lugar dos personagens, querer que eles saibam de algo que nós já sabemos. Quando ela finalmente vê seu nome escrito na mesa, é uma surpresa e também uma obviedade, por mais estranho que isso possa parecer.

Os close-ups de Dietrich suavizados atrás de um tecido fino anteposto à câmera servirão sempre de argumento para dizer que ela mesma – ainda que o enredo pareça ir na direção contrária, ao fazê-la se desprender dos objetos-símbolos – seria o fetiche último do filme, guardado em um estojo, como sugere a imagem algodoada de seu rosto. Dietrich é em Marrocos o que outras musas de seu período também foram em outros filmes: “a encarnação mesma do desejo massivo no cinema” (Antoine de Baecque, “De la vamp à l’actrice”). De todo jeito, sabemos que o rosto mais fotogênico é também o mais frágil, o que se equilibra de forma mais perigosa na linha que separa sua beleza aureolada, sua face gloriosa, do horror da pele, da proximidade repulsiva que um plano detalhe pode assumir (ver Pascal Bonitzer, “La metamorphose”). E se Marrocos se posiciona exatamente nesse ponto limítrofe, nesse lugar em que o rosto da vedete é lívido e incandescente ao mesmo tempo, é porque Sternberg sabe a intensidade exata com que deve tocar nesse rosto.

 Luiz Carlos Oliveira Jr.
(Texto original: 
http://www.contracampo.com.br/85/dvdmarrocos.htm )



Tudo é sexo

“Marrocos” foi produzido poucos meses depois do encontro histórico de Sternberg com Marlene Dietrich, na Alemanha, durante a produção de “O Anjo Azul”, encontro este que rendeu a ambos uma prolífica parceria durante os anos 30, no que é considerado o ápice de suas carreiras. Dietrich foi o grande símbolo do cinema erótico de Sternberg, que afirmou em determinado momento “Marlene sou eu”, tamanha a mistura entre as duas imagens.

O erotismo nessas obras foi explorado de maneira nunca antes repetida na história do cinema hollywoodiano. Sua liberdade na representação de temas tabus é assustadora quando comparada com o cinema dos anos seguintes – principalmente nas décadas de 40, 50 e 60 - marcado pela censura e o conseqüente enriquecimento dos subtextos. Aqui, sexualidade e desejo são explorados num nível muito objetivo, direto na epiderme do filme, nas suas linhas e entrelinhas.
Dietrich interpreta uma cantora de cabaré chamada Amy Jolie, é caracterizada por certo peso, e como nos motivos cênicos, envolta em mistérios que nos permitem entrever uma solidão pungente. Ela representa o paradigma para a imagem da mulher independente no cinema. Em sua primeira aparição, no cabaré, surge vestida de homem, fumando, flertando com as mulheres e beijando uma na boca. Essa “masculinidade” da personagem reaparece, por exemplo, na maneira ríspida com que ela expõe seus sentimentos, dentro de uma máscara de indiferença que durante o filme vai sendo substituída pela plenitude de seu desejo amoroso. O rompimento do colar de pérolas e o abandono dos sapatos de salto no deserto são reveladores deste desnudamento e conseqüente libertação.
A representação do desejo está também nos corpos dos personagens, na maneira como se posicionam em relação uns aos outros como objetos do olhar. Curiosamente, invertendo o cânone hollywoodiano, a base do triângulo amoroso é um homem: Tom, interpretado por Gary Cooper, é vítima do desejo de todas as mulheres da cidade e na sua aparente “ausência” é muito mais objeto que sujeito dos olhares.
Esta abordagem freudiana, de reencontrar o sexo em todos os dados da estrutura social é muito bem representada no número das maçãs. Amy Jolie desce ao nível dos pobres, na base da pirâmide cênica do cabaré e entabula uma rápida conversa com Gary Cooper na qual lhe oferece uma maçã, dizendo que se quiser ele pode “pegá-la de graça”. Obviamente o diálogo não trata de maçãs, mas propõe um retorno a imagem bíblica da maçã como símbolo erótico.
Outros dados permanentes no filme são a evidência da dissimulação e os diversos níveis de infidelidade que sustentam os dramas. Neste sentido, a cena do enfrentamento entre oficial e soldado raso mascara um conflito entre traidor e traído.
A retaguarda feminina em contraste é movida quase exclusivamente pela evidência do amor. E é a este amor que Amy Jolie se lançará no final do filme, ao atravessar um portal simbólico que rompe a máscara de solidão da personagem e a permite mergulhar integralmente no universo de seus sentimentos.

Miguel Haoni
(Cineclube Sesi Portão – 2013)



Cine FAP: "Invasores de Corpos", de Philip Kaufman


São Francisco. Um inspetor do serviço de saúde, Matthew Bennell (Donald Sutherland), e uma colega de trabalho, Elizabeth Driscoll (Brooke Adams), começam a reparar que as pessoas à sua volta estão se comportando de forma bem estranha. Gradativamente descobrem que alienígenas com exatamente a mesma aparência estão tomando os lugares dos humanos, quando estes dormem.

Comentários: José Fernando Costa e Cristofer Pallú

Serviço:
dia 26/08 (segunda)
às 19h00
na Auditório Antonio Melillo
(Rua dos Funcionários, 1357, Cabral)
ENTRADA FRANCA

Realização: FAP
Produção: Cine FAP e Grupo de Estudos de Cinema de Horror
Apoio: Coletivo Atalante

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Cineclube Sesi: "Viagem a Darjeeling", de Wes Anderson



Nesta quinta-feira dia 22 o Cineclube Sesi apresenta o filme "Viagem a Darjeeling", seguindo o ciclo Wes Anderson que contará ainda com "Moonrise Kingdom" (dia 29).
Sempre com entrada franca!

Cineclube Sesi: "Viagem a Darjeeling", de Wes Anderson

Sinopse:
Após a morte do pai e desaparecimento da mãe, três irmãos americanos fazem uma viagem. Em um vibrante e sensual cenário indiano, eles buscam estreitar os laços familiares. A viagem inicia-se em um trem, momento no qual o irmão mais velho Francis (Owen Wilson) deseja se reaproximar dos outros dois. Mas, devido a mau comportamento, os irmãos são expulsos do trem em que viajam. Enfrentando as dificuldades, eles são forçados a aprender muito mais sobre eles mesmos e sobre a Índia.

Sobre o filme:
Vida e morte. Todo artista em sua trajetória se depara com estas duas palavras e o abismo enigmático que ambas representam. Em 2007 Wes Anderson realizou este encontro no cinepoema "Viagem a Darjeeling".
Através dos passos errantes de três órfãos perdidos numa Índia onírica, o diretor realiza a sua redenção cósmica definitiva e nos oferece, como o sábio Max Ophüls, o presente mais maravilhosamente simples na caixa mais maravilhosamente exuberante.
Segundo o também sábio Max Fischer, o segredo é encontrar algo que amamos fazer, e fazê-lo durante o resto de nossa vida. Para ele era Rushmore. Para Anderson e seus personagens é a busca pela simplicidade essencial, esteja ela num hotel em Paris ou na pessoa ao lado, na Morte como libertaçãoou nas obsessões do dia-a-dia. Basta uma panorâmica em 90° e todo o universo muda de cor...
Wes Anderson se despede do Cine CBEU deixando sorrisos nos rostos e cabeças cheias de música - o que me lembra as palavras do três vezes sábio Max Andreone: "existem filmes que são a trilha sonora do nosso tempo".
Ainda bem.

Miguel Haoni
(APJCC - 2010)

*Para ler ouvindo "Champs Elysees" de Joe Dassin
(eu sei que agora já foi, mas...)
Serviço:
dia 22/08 (quinta)
às 19h30na Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema Fiep(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)

ENTRADA FRANCA

Realização: Sesi 
  
  (
http://www.sesipr.org.br/cultura/)
Produção: Atalante (http://coletivoatalante.blogspot.com.br/)

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Cineclube Sesi Portão: "Marrocos" de Josef Von Sternberg

O Cineclube Sesi Portão apresenta no dia 21 de agosto (quarta), às 19h30, o filme "Marrocos" de Josef Von Sternberg. Entrada franca sempre.

Cineclube Sesi Portão apresenta: "Marrocos" de Josef Von Sternberg

Amy Jolly chega ao Marrocos para tentar esquecer seu passado e ganhar a vida como cantora de cabaré. Acaba conhecendo um viajante milionário e um jovem soldado da legião de combatentes que atua no país, com os quais acaba formando um triângulo amoroso.

Serviço:
dia 21/08 (quarta)
às 19h30
no Teatro do Sesi no Portão 
(Rua Padre Leonardo Nunes, 180 – entrada pela rua lateral Rua Álvaro Vardânega)

ENTRADA FRANCA

Realização: Sesi 
  
  (
http://www.sesipr.org.br/cultura/)
    

Produção: Atalante 
(http://coletivoatalante.blogspot.com.br/)

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Cine FAP: "O Jogo da Guerra" e "Lições da Escuridão"

Cine FAP apresenta:
"O Jogo da Guerra", de Peter Watkins e "Lições da Escuridão", de Werner Herzog

Sinopses:
"O Jogo da Guerra"

Um cenário pós-ataque nuclear numa cidade da Inglaterra. Uma mistura de cinejornal, ficção e documentário. Presente, futuro e pretérito. Um duro retrato do que restou depois da aniquiladora e catastrófica Terceira Guerra Mundial.

"Lições da Escuridão"

Documentário narrado por Herzog, que mostra os campos petrolíferos do Kuwait em chamas, emanando altas colunas de fumaça. Através da narração, o enredo em si aborda um país desconhecido que sofreu com uma feroz guerra e arca com as conseqüências.

Comentários: José Fernando Costa e Cristofer Pallú

Serviço:
dia 19/08 (segunda)
às 19h00
na Auditório Antonio Melillo
(Rua dos Funcionários, 1357, Cabral)
ENTRADA FRANCA

Realização: FAP
Produção: Cine FAP e Grupo de Estudos de Cinema de Horror
Apoio: Coletivo Atalante

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Cineclube Sesi: "Vida Marinha com Steve Zissou", de Wes Anderson

Nesta quinta-feira dia 15 o Cineclube Sesi apresenta o filme "Vida Marinha com Steve Zissou", seguindo o ciclo Wes Anderson que contará ainda com "Viajem a Darjeeling" (22) e "Moonrise Kingdom" (29).
Sempre com entrada franca!


Cineclube Sesi: "Vida Marinha com Steve Zissou", de Wes Anderson

Sinopse:
Steve Zissou (Bill Murray) é um lendário explorador subaquático, famoso pelos seus rompantes de temperamento e também pelos documentários que faz sobre a vida no fundo dos oceanos. Entretanto os últimos dias não têm sido felizes para Zissou. Esteban (Seymour Cassel), seu melhor amigo e parceiro de longa data, foi recentemente devorado por um tubarão-jaguar. Além disto Zissou precisa lidar com os boatos de que está perdendo seu talento, sem contar o súbito aparecimento de Ned Plimpton (Owen Wilson), um co-piloto que diz ser seu filho nunca visto. Em meio a todos estes problemas Zissou se prepara para realizar seu maior épico cinematográfico, que permitirá que recupere sua nobreza, seja o pai que nunca imaginou poder ser e ainda por cima se vingue do tubarão-jaguar.

Sobre o filme:
Steve Zissou é o espécime perfeito da ecologia de Wes Anderson: um adulto concebido por uma criança. Suas atitudes e reações misturam cansaço e graça infantil e, através do talento de Bill Murray, conduzem o espectador no universo agridoce do filme.
O universo de “Vida Marinha com Steve Zissou” é o da artificialidade: neste mundo documentários científico-educativos estreiam em grandes festivais de cinema e alcançam sucesso estrondoso de público enquanto a estranha fauna ultra-marina é representada no lirismo da animação em stop-motion.
Como sempre Anderson consegue aliar tal fantasia aos dramas existenciais de maneira rigorosa, dando aos seus personagens a dose de inocência e humor necessária para encarar a aventura diária de ser exatamente quem são.
Miguel Haoni ( 2010)
Serviço:
dia 15/08 (quinta)
às 19h30na Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema Fiep(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)

ENTRADA FRANCA

Realização: Sesi 
  
  (
http://www.sesipr.org.br/cultura/)
Produção: Atalante (http://coletivoatalante.blogspot.com.br/)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Cine FAP: "Limite de Segurança", de Sidney Lumet


Sinopse:
Em momento alto da Guerra Fria, falha técnica faz com que bombardeiro nuclear americano receba ordem para atacar Moscou. O pesadelo toma o tamanho do mundo na medida em que os líderes das duas potências podem fazer cada vez menos pra evitar a destruição mútua.

Sobre o filme:
E se, durante a Guerra Fria, os Estados Unidos tivessem bombardeado o território soviético? A premissa absurda é o gatilho para um dos maiores suspenses de guerra da história do cinema. Entre o drama clássico e a ficção de vanguarda, Limite de Segurança mostra Sidney Lumet no auge de sua forma. Radicalização da poética do confinamento, mergulho em espiral nos traumas do homem contemporâneo e sua pretensa civilização, o filme congrega toda a ousadia acumulada pelos jovens realizadores na Hollywood pós-macarthysmo. A claustrofobia silenciosa das salas de guerra, escondem personagens cuja humanidade irrefreável representa o espírito desesperado da época. Em 1964, Sidney Lumet realizou o psicodrama de seu paranóico e violento país, mas ao se atacar acabou ferindo a todos: Limite de Segurança coloca no banco dos réus nossos princípios de justiça e civilização. Ninguém sai ileso.
Comentários: Guilherme Gomez e Miguel Haoni
Serviço:
dia 12/08 (segunda)
às 19h00
na Auditório Antonio Melillo
(Rua dos Funcionários, 1357, Cabral)
ENTRADA FRANCA

Realização: FAP
Produção: Cine FAP e Grupo de Estudos de Cinema de Horror
Apoio: Coletivo Atalante