tag:blogger.com,1999:blog-5328428066257472147.post7615623919107782242..comments2023-03-02T01:34:09.866-08:00Comments on ATALANTE: Minicurso de história do cinema: o cinema clássico japonêsAtalantehttp://www.blogger.com/profile/15271223739636419805noreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-5328428066257472147.post-38834697886909229092014-09-28T16:02:13.671-07:002014-09-28T16:02:13.671-07:003. Mikio Naruse
3.1. Tormento (filme na íntegra)
...3. Mikio Naruse<br /><br />3.1. Tormento (filme na íntegra)<br /><br />Se tivesse que escolher uma só palavra para catalogar o filme, a palavra seria confronto. Assim, isolado: o confronto – substantivo, sem adjetivos.<br /><br />Naruse recorta, na realidade trivial do quotidiano, ao menos dois acidentes para falar deste essencial: o supermercado que ameaça os pequenos negociantes; e a moral utilitarista, encarnada pelas cunhadas que, não por acaso, se vestem à moda ocidental. Mas esses dois argumentos estão ali apenas para falar de forças que se confrontam.<br /><br />O recorte serve, resguardando-se que a experiência humana resiste à decomposição maniqueísta, pois vigoram o bem e o mal tanto no ocidente como no oriente, tanto na novidade quanto no velho ou no antigo.<br /><br />A que serve o recorte? A dizer de um fundamento do real da experiência humana – duas pulsões, fusionadas. Eros e Tânatus foram os nomes que Freud extraiu da mitologia grega para nomear este Real.<br /><br />Voltando ao filme: os confrontos mais óbvios não passam de ecos do confronto íntimo que a protagonista – Reiko – encarna. Eros transformado leva a mulher à condição de mãe (ou irmã mais velha) de seu cunhado – Koji – e a pulsão se estabiliza. Mas a estabilidade se rompe quando o homem bate à porta da mulher. Esta, dividida entre o desejo e o horror ao incesto, vacila. Ela faz sua escolha. Ele também.<br /><br />À primeira vista, confronto entre o desejo pelo homem e a tradição que lhe nega o acesso. Em outras palavras: o indivíduo – no caso a mulher – massacrado/a pelos valores tradicionais opressivos, que lhe barram a passagem à satisfação.<br /><br />Mas o Real precisa ser buscado ainda mais por baixo do pano, pois o grande confronto não se passa entre a cultura e o indivíduo, mas dentro deste mesmo, a quem nenhuma trapaça pode enganar.<br /><br />Atribuir à cultura a opressão do indivíduo ainda é chegar à borda do precipício apenas para retroceder em seguida. Como a verdade está mais embaixo, para o grande vôo é preciso saltar. Como fez Naruse<br /><br /><br />4. À guisa de conclusão<br /><br />Esta leitura vem me mostrar que, por maior distância que se estabeleça entre ocidente e oriente, desde os marcadores externos da cultura, ainda se trata sempre da mesma humanidade. Vale dizer: sob os múltiplos conteúdos manifestos, os mesmos conteúdos latentes.<br /><br />Sob os semblantes de gueixas e samurais, sob os quimonos e as armaduras, por detrás dos ramos de ikebanas e bonsais, nos versos dos haicais, nos palcos do noh e do kabuki – e nos filmes dos grandes mestres japoneses – pulsa a mesma carne que Freud soube reconhecer e descrever, com palavras, como essencial à vida humana.<br />Atalantehttps://www.blogger.com/profile/15271223739636419805noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5328428066257472147.post-66571947805580046892014-09-28T16:01:07.057-07:002014-09-28T16:01:07.057-07:00SESI – Coletivo Atalante
Curitiba, agosto 2014
Mi...SESI – Coletivo Atalante<br />Curitiba, agosto 2014<br /><br />Minigrafia para um minicurso: o cinema clássico japonês :<br /><br />“uma tentativa de leitura à luz da psicanálise ”<br />ou<br /> “uma pseudoanálise”<br /><br />Vera Lúcia de Oliveira e Silva<br /><br />1. Por que uma pseudoanálise?<br /><br />Porque uma psicanálise é outra coisa: é um trabalho de deciframento do próprio destino a partir da própria produção significante – chistes, atos falhos e sonhos – sob transferência.<br /><br />Tomar a produção de outros – no caso, cineastas – para, no conforto da distância, fazer uma leitura psicanalítica, só se pode classificar como uma pseudoanálise.<br /><br />2. Mizoguchi<br /><br />2.1. A nova saga do clã Taira (fragmento)<br /><br />Freud, escutando seus pacientes, isolou temas recorrentes nas fantasias que compõem a novela familiar do neurótico.<br />No fragmento do filme que se examinou, encena-se uma dessas fantasias: a de não sermos filhos de nossos próprios pais, cujas imperfeições, reais ou imaginárias, não condizem com nossos ideais mais caros.<br />Em vez, fantasiamos que somos filhos de outros pais – sublimes – que, mais dia menos dia, voltarão para nos resgatar de nossa miséria humana.<br /><br /><br />2.2. Os amantes crucificados (fragmento)<br /><br />Sem recusar o possível projeto político de Misoguchi – fazer pensar que uma tradição que crucifica amantes precisa ser revisada e corrigida – essa interpretação não resolve um problema: o que eternizaria esse panfleto, para além da circunstância em que ele comove?<br /><br />Respondo: o trágico.<br /><br />O tema heróico da morte vitoriosa surge em sua grandeza: Osan afirma sua ética – a ética do desejo – subtraindo-se, à moda de Antígona, à lei insensata. Vence porque morre e morre porque vence. Arrasta consigo o seu amante, que não lhe opõe resistência alguma. O que vence é o dualismo pulsional: vencem o amor e a morte - juntos.<br /><br />Para mim, é a tragédia que eterniza esse filme, por encenar um Real que nos concerne a nós todos, em qualquer tempo ou lugar – seres-para-a-morte que somos.<br /><br />Ali, na dimensão trágica, nós nos reconhecemos nosso próprio destino e o preço a pagar por viver.<br /><br />É assim que – ao tocar um tema universal – Misoguchi, sabendo disso ou não, inscreve seu filme no tempo do eterno.<br /><br /><br />2.3. A rua da vergonha (fragmento)<br /><br />Encena-se um elemento recorrente na novela humana: o horror diante do desejo do Outro.<br /><br />2.4. Contos da lua vaga (filme na íntegra)<br /><br />O filme serve para mostrar a decalagem entre o Real e o Imaginário. A guerra é o pano de fundo de horror sobre o qual se encena a aposta nos ideais e suas miragens. Simultaneamente acaba a guerra e caem os ideais, sendo os homens devolvidos à terra: Miyagi, assassinada quando tenta defender o alimento de seu filho, retorna, literalmente, ao pó; Genjuro, à cerâmica; Tobei, à lavoura. Não por acaso, retornam ao húmus, à condição humana fundamental.<br /><br />2.5. Utamaro e suas cinco mulheres (filme na íntegra)<br /><br />O filme encena dois destinos pulsionais possíveis: a passagem ao ato e a sublimação.<br /><br />Okita escolhe o primeiro: toma seu objeto pela via mortífera – passa ao ato. <br /><br />Quando se dirige a Utamaro, antes de se entregar ao próprio castigo, equipara seu crime à arte do pintor. Que, com a máxima alegria, se entrega à sua própria escolha: a sublimação.<br /><br />Se em uma alternativa o que se produz é a pura destruição – a do outro e a de si mesmo – na outra, o que floresce é a vida e a beleza. Uma estética que supõe uma ética.<br /><br />Quando Mizoguchi põe na boca de Okita palavras que aproximam as duas alternativas à sua raiz comum, ele mostra que bebeu na mesma fonte onde Freud identificou a pulsão e seus destinos.<br />Atalantehttps://www.blogger.com/profile/15271223739636419805noreply@blogger.com