sábado, 13 de junho de 2015

Z – Costa-Gavras


Por Roger Ebert, 30 de dezembro de 1969

Algumas coisas se recusam a serem ocultas. Seria mais conveniente, sim, e mais fácil para todos se a versão oficial fosse acreditada. Mas então os fatos começam a tropeçar uns sobre os outros, e as contradições emergem, e um “acidente” se revela como um crime.
O filme "Z" é sobre uma dessas coisas: sobre o assassinato, há seis anos, de um líder político da oposição na Grécia. É também sobre todas as outras coisas. Para os americanos, é sobre o massacre de My Lai, o assassinato de Fred Hampton, a Baía dos Porcos. Não é mais sobre a Grécia do que "A Batalha de Argel" era sobre a Argélia. É um filme de nosso tempo. É sobre como até mesmo vitórias morais estão corrompidas. Ele vai fazer você chorar e vai fazer você se irritar. Ele vai rasgar as suas tripas para fora.
O filme é contado de forma simples, e é baseado em fatos reais. Em 22 de maio de 1963, Gregorios Lambrakis foi fatalmente ferido em um “acidente de trânsito”. Ele era deputado do partido de oposição na Grécia. A teoria do acidente não cheirava bem, e o governo nomeou um investigador para analisar o caso.
Seu dever tácito era reafirmar a versão oficial da morte, mas sua investigação o convenceu de que Lambrakis havia sido, na verdade, assassinado por uma organização clandestina de direita. Oficiais de alto escalão do exército e da polícia foram incriminados. A trama foi desmascarada no tribunal e as sentenças foram proferidas – penas duras para os peixes pequenos (joguetes, realmente) que realizaram o assassinato e absolvição para os oficiais influentes que o encomendaram.
Mas a história não estava terminada. Quando a junta do Exército executou seu golpe de Estado em 1967, os generais de direita e o chefe de polícia foram inocentados de todas as acusações e “reabilitados”. Os responsáveis por desmascarar o assassinato se tornaram agora criminosos políticos.
Estes eventos pareceriam completamente políticos, mas o jovem cineasta Costa-Gravras os contou em um estilo que é quase insuportavelmente emocionante. “Z” é ao mesmo tempo um grito de raiva e um thriller de suspense brilhante. Ele até mesmo termina em uma perseguição: não pelas ruas, mas através de um labirinto de fatos, álibis e corrupção governamental.
Como Gillo Pontecorvo, que dirigiu "Batalha de Argel", Costa-Gravas mantém um ponto de vista acima do nível dos eventos que fotografa. Seu protagonista muda durante o filme conforme ele nos leva de um envolvimento pessoal inicial para a denúncia de todo um sistema político. Em primeiro lugar, estamos interessados em Yves Montand, o líder político sábio e gentil que é assassinado. Então a nossa atenção é dirigida para a viúva (Irene Papas) e aos líderes da oposição que restaram (Charles Denner e Bernard Fresson).
E então, no magistral último terço do filme, seguimos o investigador obstinado (Jean-Louis Trintignant) conforme ele resiste à pressão oficial para ocultar o escândalo. Ele reúne suas evidências quase relutante; ele não tem vontade de derrubar o governo, mas precisa ver a justiça sendo feita se possível. Suas simpatias são neutras, e um juiz verdadeiramente neutro é a coisa mais temível que a Instituição pode imaginar. De que adianta a justiça se ela pode ser posta de fora do estado, bem como de fora das pessoas? (Aqui, as implicações em relação ao julgamento de conspiração de Chicago são óbvias).
O filme primeiro parece terminar com um triunfo. O núcleo podre do governo está exposto. Os militares e o chefe de polícia são acusados de homicídio, improbidade oficial e obstrução de justiça. Um dos jovens seguidores do líder assassinado corre para trazer à viúva as boas notícias. Ele a encontra à espera na praia. Ele está triunfante; a justiça será feita; o governo vai cair. Irene Papas ouve a notícia em silêncio e então se vira e olha para o mar. Seu rosto não demonstra nenhum triunfo; só sofrimento e desespero. O que realmente resta para ela dizer?
Nada, como agora sabemos. A direita ganhou a longo prazo e hoje controla a Grécia. A Senhorita Papas, o diretor, o escritor e o compositor deste filme estão todos banidos na Grécia ("banido" - essa palavra terrível que ouvimos da Rússia e da África do Sul, e agora da Grécia). Até mesmo a letra "Z" (que significa "ele está vivo") está banida na Grécia.
Quando o filme foi exibido no Festival de Cinema de San Francisco ele foi atacado em alguns setores como sendo antiamericano, mas o que ele conta não é a simples verdade? Nós apoiamos a junta militar grega. Nós reconhecemos o governo que assassinou Lambrakis. Nós permitimos que a junta militar impedisse as eleições livres na Grécia. E no Vietnã, o candidato que ficou em segundo nas “eleições livres” que nós patrocinamos hoje está sentado em uma prisão de Saigon. Seu nome também está banido.

Tradução: Jéssica Andrade de Lara e Dankar Bertinato

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Entrevista com a diretora: Lucrécia Martel



CINEFILIA | ESCRITA | CONTO | ANESTESIA | ARGENTINA | RENOVAÇÃO | CLAUSTROFOBIA

CINEFILIA - Nasci numa pequena cidade no Norte da Argentina, onde, nos anos 70 e 80, a programação das salas de cinema alternava entre o cinema porno e os grandes sucessos americanos. Vi poucos filmes na minha infância, vi sobretudo westerns na televisão. Gostava imenso. Aos 15 anos recebi de presente uma pequena câmara e comecei a filmar os meus pais, os meus irmãos e as minhas irmãs. LA CIÉNAGA/O PANTANO inscreve-se nesta atitude: filmar o próximo, o quotidiano, a casa. Mas também é uma ficção.

ESCRITA - É um filme que escrevi muito depressa, mas durante muito tempo (risos). Já pensava na história há muito tempo, mas depois a passagem à escrita foi muito rápida. O tecido da história é composto por lembranças autobiográficas, mas não é uma autobiografia. Gostei muito de trabalhar na sua estrutura. Queria mostrar laços muito frágeis, exprimir a fragilidade dos seres através das relações que estabelecem com os outros, numa espécie de rio existencial. Em Sundance, os distribuidores americanos disseram-me que faltava coerência à narração. Achavam que o filme não tinha sido suficientemente construído. Mas eu não queria que LA CIÉNAGA/O PANTANO fosse a história de uma mãe alcoólica ou sobre a decadência de uma família. O que me interessava era mais atmosférico.

CONTO - Os contos negros marcaram a minha infância. A minha avó contava-me as histórias de Horacio Quroga como se fossem histórias que ela inventava. São contos muito mórbidos. Quroga é muito popular na Argentina. Durante toda a minha infância não tinha bem a certeza se estas histórias eram ou não da minha família. E, verdade seja dita, olhando para a minha família não era de todo impossível. A presença ameaçadora dos animais no meu filme vem daí. O filme enraíza-se nos meus medos de infância.

ANESTESIA - A casa da família chama-se Mandragoa, porque esta planta me seduz. Seduz-me porque na Europa, há alguns séculos, era usada pelas suas propriedades analgésicas e afrodisíacas. Queria que o filme oscilasse entre estes dois pólos, o adormecimento e a volúpia. É talvez o maior drama do filme. Cada personagem inventa proteções para fugir da realidade e, de repente, instalam-se, conseguem sobreviver e não tratam o que está mal. Há uma espécie de deleite em acomodar-se no sofrimento em vez de lutar. Acho isso muito característico dos argentinos.

ARGENTINA - Acho mais fácil rodar o primeiro filme na Argentina do que noutros países da América Latina ou outros países do mundo. O Instituto do Cinema faz esforços para apoiar o novo cinema. Uma cadeia de televisão injeta também dinheiro no cinema, mesmo se não é tanto como o Canal+. Há na Argentina cinema comercial, que continua a funcionar. Todos os anos um ou dois filmes têm imensos espectadores. O cinema argentino representa 20% dos filmes exibidos. LA CIÉNAGA/O PANTANO teve 120 mil espectadores, o que é um enorme sucesso para um filme de autor.

RENOVAÇÃO - Uma nova geração de cineastas apareceu há cinco anos. Mas não é um grupo unido de pessoas ligadas entre elas como a Nouvelle Vague. Este sete ou oito cineastas fazem filmes muito diferentes: Mundo Grua de Pablo Trapero não se parece em nada com LA CIÉNAGA/O PÂNTANO. O eco que os filmes estão a atingir no estrangeiro, o Prêmio em Berlim para LA CIÉNAGA/O PÂNTANO, são muito importantes na Argentina. Os argentinos são muito sensíveis ao reconhecimento internacional.

CLAUSTROFOBIA - Em Paris, apresentam-me cineastas franceses, mostram-me os filmes deles. Tento recuperar os anos perdidos e uma cultura de cinema que não tenho. Vou pouco ao cinema, sou muito claustrofóbica, não gosto de estar fechada numa sala. É engraçado porque LA CIÉNAGA/O PANTANO é um filme muito claustrofóbico, em quartos, camas, sai-se pouco da cama. Acho que seria incapaz de o ir ver senão tivesse sido eu a fazê-lo.

Entrevista por Jean-Marc Lalanne, Cahiers du Cinema

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Cineclube do Celin apresenta: "Z" de Costa-Gavras


Suspense político, trata de fatos reais ocorridos em 1963 na Grécia. Em cenário político tenso, professor de medicina e deputado grego, um dos líderes da oposição esquerdista, organiza juntamente com correligionários uma reunião pela paz e contra a permissão de instalação de mísseis balísticos americanos em território grego. Com dificuldades, a reunião é realizada mas ao concluir sua fala, o deputado é atropelado e acaba morrendo dias depois. A polícia conclui que foi um acidente mas há indícios que levam o juiz de instrução a suspeitar da versão da polícia. Quando mais ele se aprofunda nas investigações, mais descobre até onde os políticos de direita estão dispostos a ir para encobrir o assassinato.

Serviço:
dia 12/06 (sexta)
às 19h30
No Anfi 400 da UFPR
(Rua General Carneiro, 480 - Reitoria, Edifício Dom Pedro I, 4° andar)
ENTRADA FRANCA

terça-feira, 9 de junho de 2015

Cineclube Sesi: "O Pântano" de Lucrecia Martel

Nesta quinta-feira, dia 11, o Cineclube Sesi exibe "O Pântano" abrindo o ciclo Lucrecia Martel, que contará ainda com "A Menina Santa" (dia 18) e "A Mulher sem Cabeça" (dia 25).
Sempre com entrada franca!

Cineclube Sesi apresenta: "O Pântano", de Lucrecia Martel



A cidade de La Cienaga é conhecida pelas extensões de terra que se alagam com as chuvas repentinas e fortes, formando pântanos que são armadilhas mortais para os animais da região. Perto da cidade fica o povoado de Rey Muerto, em que está localizado o sítio La Mandrágora, onde são cultivados pimentões vermelhos. Para ele vão duas famílias, lideradas por Mecha (Graciela Borges) e Tali (Mercedes Morán). Mecha é uma mulher em torno de 50 anos, que tem 4 filhos e um marido que procura ignorar bebendo cada vez mais. Já Tali é prima de Mecha e também tem 4 filhos, sendo que ama seu marido e sua família. Em meio a um verão infernal, as duas famílias entram em conflito quando a tensão entre elas aumenta.

Serviço:

dia 11/06 (quinta)
às 19h30
na Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema Fiep
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)


ENTRADA FRANCA
 


Realização: Sesi 
   
   (
http://www.sesipr.org.br/cultura/)
Produção: Atalante (http://coletivoatalante.blogspot.com.br/)

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Cineclube Sesi: Lucrecia Martel

Programação
11/06 - O Pântano
18/06 - A Menina Santa
25/06 - A Mulher sem Cabeça

Serviço:
Sessões às quintas
19h30 
na Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema Fiep
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA

Realização: Sesi 
Produção: Atalante

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Um curso sobre os primeiros anos do cinema


Sobre a questão narrativa:
Um problema fundamental se impõe ao estudante de cinema: que vocação é esta para contar histórias que atribuímos à arte das imagens em movimento? Sobre tal questionamento se fundamenta o curso aqui proposto.
No percurso dos primeiros anos desta história, seguiremos em três passos: 1) O contexto da invenção do cinema no fim do século XIX e suas primeiras intervenções na vida moderna; 2) A guinada em direção ao modelo narrativo clássico, sua formação no cinema americano, bem como seus dois modos canônicos de representação: o melodrama e a comédia; 3) As primeiras manifestações de resistência ao domínio deste modelo, a partir da experiência européia dos anos 20, com o estudo de caso do 'Cinema puro' de Viking Eggeling e Hans Richter.
Através de 6 aulas de 4 horas cada, 4 unidades temáticas, 7 textos e 2 filmes abordaremos o problema da narrativa cinematográfica no contexto localizado de seus primeiros anos, bem como seus desdobramentos para os anos seguintes.

Serviço: 
Curso de História do Cinema com Miguel Haoni. C
arga horária: 24 horas, de 22 a 27 de junho (segunda a sábado) das 8 às 12 horas no Núcleo Cine (Rua Belém, 888 - Cabral- Curitiba/PR).Inscrições de segunda a sexta das 14 às 18 horas no Núcleo Cine. Investimento: R$120,00. VAGAS LIMITADAS.Informações: (41) 3026-0472, 9977-7239 (André), 9163-1253 (Marina) ou coletivoatalante@gmail.com .
Realização: Núcleo Cine (http://www.nucleocine.com.br/). Apoio: Coletivo Atalante (http://coletivoatalante.blogspot.com.br/)

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Cineclube da Cinemateca: “Close-up” de Abbas Kiarostami



Neste sábado, dia 06, o Cineclube da Cinemateca exibe "Close-up", do cineasta iraniano Abbas Kiarostami. Sempre com entrada franca!
Cineclube da Cinemateca apresenta:
“Close-up” de Abbas Kiarostami
  


Hossaim Sabzian é um homem pobre e humilde que é apaixonado pelos filmes do diretor Mohsen Makhmalbaf e, ao conhecer uma senhora em um ônibus, começa a se passar pelo cineasta. Forjando ser outra pessoa, ele entra na casa da família e promete colocá-la no seu próximo filme, caso ela lhe dê dinheiro. Percebendo que pode se tratar de um golpe, eles avisam a polícia e Hossaim vai a julgamento por tentativa de fraude.
Serviço:
06 de Junho (sábado)
Às 16h 
Na Cinemateca de Curitiba (Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco)
(41) 3321 - 3552
ENTRADA FRANCA

Realização: Cinemateca de Curitiba e Coletivo Atalante