quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Cineclube do Atalante: Ópera

O Cineclube do Atalante na Cinemateca de Curitiba exibe neste sábado um filme de Dario Argento. Entrada franca, sempre.



ÓPERA
Dirigido por Dario Argento.

(Opera, Itália, 1987, suspense/terror, 107 min., 16 anos)
Com Cristina Marsillach, Urbano Barberini, Daria Nicolodi.

Uma suposta maldição persegue a montagem da ópera "Macbeth", de Verdi. Reforçando a lenda, a apresentação do espetáculo no Teatro Scala de Milão inclui corvos que aparecem degolados, operários assassinados e acidentes bizarros, como holofotes que caem na platéia. Tudo parece girar em torno da soprano Betty, que tornou-se alvo de um perigoso psicopata mascarado capaz de tudo para tê-la.

Serviço:

CINECLUBE DO ATALANTE
“Ópera” (1987), de Dario Argento
Sábado, 25/11
Às 16h
Na Cinemateca de Curitiba
(Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco)
(41) 3321-3552
ENTRADA FRANCA

Realização: Coletivo Atalante

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Cineclube do Atalante: Phenomena

O Cineclube do Atalante na Cinemateca de Curitiba exibe neste sábado um filme de Dario Argento. Entrada franca, sempre.

PHENOMENA
Dirigido por Dario Argento.

(Phenomena, Itália/Suíça, 1985, suspense/terror, 115 min., 16 anos)
Com Jennifer Connelly, Daria Nicolodi, Donald Pleasence.

Uma jovem, com uma incrível habilidade de se comunicar com insetos, é transferida para um internato exclusivo na Suíça, onde sua capacidade incomum pode ajudar a solucionar uma série de assassinatos.

Serviço:

CINECLUBE DO ATALANTE
“Phenomena” (1985), de Dario Argento
Sábado, 18/11
Às 16h
Na Cinemateca de Curitiba
(Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco)
(41) 3321-3552
ENTRADA FRANCA

Realização: Coletivo Atalante

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Clube do Filme: Atarrabis & Mikelats

O Clube do Filme do Atalante e o seu ciclo "O Cinema de Eugène Green" chegam a sua última edição do ano.

De volta para a quarta quarta-feira do mês, nos reunimos para uma discussão de um filme e textos relacionados, abordando neste ciclo a obra de um dos cineastas mais interessantes e encantadores deste século.

Em novembro: "Atarrabis & Mikelats" (2020, 123 min.).

Nosso encontro será no dia 22 de novembro, quarta-feira, às 19h15, via Jitsi, ao vivo, entrada livre e gratuita.

As cores são muito importantes no meu cinema. Tem um papel simbólico e emocional. Atarrabi, por exemplo, veste azul e ocre, as cores do céu e da terra; Mikelats vem de vermelho, a cor do fogo, associado à destruição. (...) A roupa dos personagens é contemporânea porque queria que o espectador entendesse que a história nos concerne hoje, inclusive que identificasse algumas categorias sociais precisas: o Diablo se vê como um homem de negócios moderno (branché), e Mikelats e os jovens demônios têm um ar esportivo.
- Eugène Green, em entrevista a
Rubén Seca sobre o filme do mês.

O filme encontra-se disponível aqui. Qualquer problema, só avisar.

Textos recomendados para leitura:

A) Entrevista com Eugène Green, por Hugo Gomes, disponível aqui.

B) Crítica de "Atarrabis & Mikelats" por Michel Gutwilen, disponível aqui.

Como de costume, nosso propósito no Clube do Filme é discutir obras e textos com um pouco mais de tempo que nos debates após as sessões do cineclube, logo, o filme não será exibido na data. Recomendamos que o filme já tenha sido visto e também a leitura dos textos, porém isso não é exigido para participação. Devido ao formato virtual, não poderemos exibir com qualidade trechos do filme e de outros trabalhos, mas acreditamos ser importante retomarmos as atividades possíveis durante a pandemia. O ingresso, como sempre, é gratuito.

Devido a limitações de tempo do Meet, voltamos com nossa sala do Jitsi. O Jitsi dispensa downloads de aplicativos e senhas no PC, mas caso acesse pelo celular, recomendamos o download do aplicativo (gratuito).

Serviço:

Clube do Filme:"Atarrabis & Mikelats" (2020), de Eugène Green
Dia 22/11 (quarta-feira)
Das 19h15 às 21h30
Via Jitsi:
https://meet.jit.si/ClubedoFilmeAtalante
ENTRADA FRANCA

Coordenação e mediação: Giovanni Comodo
Realização: Coletivo Atalante

sábado, 14 de outubro de 2023

Clube do Filme: Correspondências + O Filho de Joseph

O Clube do Filme do Atalante continua com seu novo ciclo: o Cinema de Eugène Green.

De volta para a quarta quarta-feira do mês, nos reunimos para uma discussão de um filme e textos relacionados, agora abordando a obra de um dos cineastas mais interessantes e encantadores deste século.

Em outubro, um programa duplo: "Correspondências" (2009, 36 min.) e "O Filho de Joseph" (2016, 113 min.).

Nosso encontro será no dia 25 de outubro, quarta-feira, às 19h15, via Jitsi, ao vivo, entrada livre e gratuita.

O movimento mais próprio do cinema de Green é levar o ser ao limite do desaparecer e o sagrado ao limite do aparecer. Se a experiência dos seus filmes é tão epifânica, é sobretudo porque o próprio filme é o circuito pelo qual o ser e o divino estão a ponto de se confundirem. Sempre segundo um método rigoroso para que a obra não simplesmente faculte o entendimento, mas manifeste sensivelmente a presença da ordem divina através de procedimentos do cinema. Seja numa imagem flutuante do céu ou no rosto inexpressivo de um personagem. Seja no conteúdo da fala reagindo à forma cabal do personagem expressá-la, e vice-versa, indefinidamente. Em cada momento, uma relação tão absoluta que libera continuamente esta força metafísica que assombra todos os princípios do cinema de Green.
- Rodrigo de Abreu Pinto, em um dos textos recomendados para leitura deste mês.

Os filmes encontram-se disponíveis aqui. Qualquer problema, só avisar.

Textos recomendados para leitura:

A) Crítica de "O Filho de Joseph" por Francisco Noronha, disponível aqui.

B) Entrevista com Eugène Green, da época de "O Filho de Joseph", por Diego Olivares, disponível aqui.

C) "A Metafísica do cinema de Eugène Green" por Rodrigo de Abreu Pinto, disponível aqui.  

Como de costume, nosso propósito no Clube do Filme é discutir obras e textos com um pouco mais de tempo que nos debates após as sessões do cineclube, logo, o filme não será exibido na data. Recomendamos que o filme já tenha sido visto e também a leitura dos textos, porém isso não é exigido para participação. Devido ao formato virtual, não poderemos exibir com qualidade trechos do filme e de outros trabalhos, mas acreditamos ser importante retomarmos as atividades possíveis durante a pandemia. O ingresso, como sempre, é gratuito.

Devido a limitações de tempo do Meet, voltamos com nossa sala do Jitsi. O Jitsi dispensa downloads de aplicativos e senhas no PC, mas caso acesse pelo celular, recomendamos o download do aplicativo (gratuito).


Serviço:

Clube do Filme:"Correspondências" (2009) e "O Filho de Joseph" (2016) (2018), de Eugène Green
Dia 25/10 (quinta-feira)
Das 19h15 às 21h30
Via Jitsi:
https://meet.jit.si/ClubedoFilmeAtalante
ENTRADA FRANCA

Coordenação e mediação: Giovanni Comodo
Realização: Coletivo Atalante

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Le fils de Joseph (2016), de Eugène Green

 por Francisco Noronha

Curioso ovni, este, o que passou na sala 3 do Cinema São Jorge, desde logo pelo modo como se constitui num puzzle artístico onde cinema, pintura e música clássica se interpenetram, nunca pretensiosamente mas sempre com um propósito substancial (ainda que enigmático). Quando o filme terminou, a minha companhia disse que era “muita manteiga para pouco pão” (ou ao contrário, o ditado não consta do Google e a minha avó, sempre cirúrgica neste tipo de dúvidas, não atende o telefone), mas o certo é que, já cá fora e enquanto íamos comentando o filme, o slogan de Fernando Pessoa ganhou força – o último filme de Eugène Green (dramaturgo, além de cineasta) é um daqueles objectos que primeiro se estranham e depois se entranham, imagens e sons que ficam a reverberar nas nossas cabeças no caminho para casa. Essa estranheza deve-se, por um lado, à bressionana direcção de actores e, por outro, por mais paradoxal que isto seja relativamente à filosofia dos modèles de Bresson, à coreografia teatral que Green imprime às cenas e aos diálogos, filmando muitas vezes duas personagens em plano americano, de frente uma para a outra, falando com um ritmo e uma erudição absolutamente anti-naturalistas.

É isso que, de resto, confere um humor insólito ao filme e faz dele uma grande “comédia bíblica” (além das alfinetadas aos críticos), mais concretamente, uma alegoria da história do nascimento de Jesus Cristo situada na nossa contemporaneidade, com Vincent (Victor Enzenfis) no lugar de Jesus e Marie e Joseph a interpretar as correspondentes figuras bíblicas (e nem falta o burro, que aparecerá já quase no final do filme). E quem é, afinal, Oscar Pormenor (Mathieu Amalric), o pai que rejeitou Vincent, o homem que inseminou Marie? Será Deus, na contemporânea versão do Dinheiro-Todo-Poderoso? E se não for… quem é Deus, então? A sua eventual ausência do filme quererá sugerir a sua não existência? Joseph afirma que não foi Deus quem ordenou a Abraão que matasse o seu filho; que foi Abraão quem tomou essa decisão e que foi Deus, sim (e não um Anjo), que lhe disse para não o fazer. Com excepção desta “tese”, nada é explicativo ou assertivo no filme, tudo simbólico e especulativo, muito a lembrar o P’tit Quinquin (O Pequeno Quinquin, 2014) de Bruno Dumont (ele próprio um autor tributário de Bresson) no que de teológico ele carrega: a culpa (logo no primeiro roubo, só por “desporto”, de Vicent ressoando o Pickpocket de Bresson), a vingança e a violência (a degolação que Vincent, iluminado por uma imagem alva, aborta no último instante), a misericórdia, a redenção (a ilibação de Pormenor ao seu filho perante a presença da polícia).


Texto parte de “IndieLisboa 2016: Cinema, em ti cremos”, publicado em 28 de abril de 2016 e disponível em https://apaladewalsh.com/2016/04/indielisboa-2016-cinema-em-ti-cremos/. Mantivemos a grafia como no original de Portugal.

domingo, 1 de outubro de 2023

William Friedkin: A moral amoral

 por Giovanni Comodo

Em setembro, o Cineclube do Atalante celebra a vida e obra de William Friedkin, falecido em agosto deste ano aos 87 anos. Um dos nomes centrais da chamada Nova Hollywood, Friedkin foi responsável por alguns dos títulos mais célebres da breve invasão bárbara no império da capital do cinema. É de sua pena Operação França (1971) e O Exorcista (1973), sucessos absolutos que moldaram tudo o que veio a seguir em seus gêneros – e também filmes que ajudaram a encerrar este período, obsessões pessoais como Comboio do Medo (1977) cujos fracassos enormes colocaram o poder de volta para os executivos dos estúdios. Entretanto, tantas décadas depois, o nome e a carreira de Friedkin parecem menores que muitos dos seus colegas de geração, injustamente.

Nos anos 1980, Friedkin (e toda a Nova Hollywood) vê sua maré virar totalmente. Seus fracassos comerciais acabam com o prestígio da década anterior e marcam sua descida do Olimpo hollywoodiano para trabalhos na televisão e em projetos com muito menos liberdade de escolhas nos anos seguintes. Contudo, ali encontram-se algumas de suas apostas mais ousadas e em total domínio e maturidade. Dentro do gênero policial, Friedkin reinventa-se ao mesmo tempo em que busca novas possibilidades para todo o cinema. É também neste gênero que se sente mais à vontade para exercer sua visão de mundo, repleta de desilusão e pessimismo: desdenhoso de instituições, seu cinema se concentra nas fragilidades e zonas escuras das pessoas.

Viver e morrer em Los Angeles
(1985) é exemplar neste sentido: seu departamento de polícia é engessado, quase preguiçoso, incompetente em diversas vezes (seus policiais dormem fazendo tocaia e perdem o investigado), parte de um sistema arcaico e inquestionável maior que todos os que vivem abaixo dele. No mundo de Los Angeles – e Friedkin não hesitaria em dizer o mesmo sobre Hollywood – os agentes são dispensáveis e intercambiáveis e todos estão à serviço de somente uma coisa, grana (a sequência de créditos iniciais consegue resumir com precisão o enorme painel coletivo da cidade unido em volta das verdinhas). Não por acaso, sua maior ameaça é quem consegue perturbar esta ordem, alguém que consegue fazer surgir mais dinheiro do nada, um falsificador – que é, por consequência, um artista (uma boa defesa do diretor do papel da arte em geral, e não por acaso um personagem pelo qual o filme tem enorme simpatia). Ao final do filme, mesmo após tanto sangue, tantos carros batidos e avenidas em guerra, tantos incêndios, fica tudo como dantes no quartel d’Abrantes. Friedkin é um herdeiro declarado de Howard Hawks em seu gosto por seguir e observar o trabalho dos homens, porém por sua vez vê sua inutilidade, seus frutos gerarem apenas cinzas o tempo todo.

E, tal como Hawks, é um diretor afeito e sem julgamentos da sexualidade humana, que não hesita em incluir em seus filmes. Em Cruising – Parceiros da noite (1980), Friedkin coloca a plateia nos clubes privados da cena gay nova-iorquina da época. Obcecado com a fidelidade ao mundo material, o diretor grava sempre nos lugares reais em que acontece sua história: estamos de fato no necrotério da Polícia de Nova York, estamos de fato nos bares de members only – que eram de propriedade e esquema da máfia, com quem Friedkin foi conversar várias vezes para conseguir colaboração, assim como frequentou estes bares para elaborar seu roteiro (aliás, os frequentadores que vemos são de fato os habitués desses lugares, o que torna o filme um documento inesperado da cena queer realizado por um grande estúdio de cinema). Para os espectadores incautos que entraram na sessão para ver o novo filme de Al Pacino, só podemos imaginar como foram os primeiros 15 minutos de projeção.

No mergulho neste mundo repleto de códigos, segredos e identidades múltiplas, o perigo verdadeiro em Cruising é a violência que parece intrínseca ao homem, em um ciclo perpétuo que parece seduzir e se incutir a tudo e todos. Pois Friedkin entende o poder do olhar em sua capacidade de absorver o mundo e ser transformado pelo mesmo (o cineasta sabe filmar violência e sexo – e tão importante quanto o que é exibido, é o que não é mostrado).

Não só isso, Friedkin nos oferece a devolução do olhar: são muitas as cenas em que a plateia é encarada pelas pessoas em tela, inclusive o último instante de Pacino. Somos convocados. No cinema de Friedkin, não apenas se observa o abismo, ele nos olha de volta.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Cineclube do Atalante: Cruising - Parceiros da noite

O Cineclube do Atalante na Cinemateca de Curitiba exibe neste sábado um filme de William Friedkin. Entrada franca, sempre.


CRUISING – PARCEIROS DA NOITE
Dirigido por William Friedkin.

(Cruising, EUA, policial, 102 min., 18 anos)
Com Al Pacino, Paul Sorvino, Karen Allen.

Jovem policial (Al Pacino) é designado para investigar um caso de violentos homicídios contra homossexuais. Disfarçado, ele se infiltra num universo que lhe é completamente estranho, repleto de sexualidade e violência. Na busca pelo serial killer, passa a questionar seus próprios valores, seus desejos íntimos e se depara com uma assombrosa realidade.

Serviço:

CINECLUBE DO ATALANTE
“Cruising – Parceiros da Noite” (1980), de William Friedkin
Sábado, 30/09
Às 16h
Na Cinemateca de Curitiba
(Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174- São Francisco)
(41) 3321-3552
ENTRADA FRANCA

Realização: Coletivo Atalante

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Clube do Filme: La Sapienza

O Clube do Filme do Atalante continua com seu novo ciclo: o Cinema de Eugène Green.

Mensalmente nos reunimos para uma discussão de um filme e textos relacionados, agora abordando a obra de um dos cineastas mais interessantes e encantadores deste século.

Em setembro: "La Sapienza" (2014, 100 min.).

Nosso encontro será no dia 27 de setembro, excepcionalmente quarta-feira, às 19h15, via Jitsi, ao vivo, entrada livre e gratuita.


"E quem fala em lugar, faça em espaço, tema que, junto com a luz, vai ocupando os diálogos de Alexandre e Goffredo, que viajam juntos, numa trajetória em que os papéis de mestre e aluno vão deslisando a ponto de já não se saber mais quem ensina e quem aprende. Na verdade, ambos ensinam e ambos aprendem, sobre o espaço, a luz e um lugar para as gentes; e sobre modos de se estar no mundo."
- Vera Lúcia de Oliveira e Silva, em texto inédito escrito para o Clube do Filme deste mês.

O filme encontra-se disponível aqui. Qualquer problema, só avisar.

Textos recomendados para leitura:

A) Crítica do filme por Vera Lúcia de Oliveira e Silva, disponível aqui.
B) Crítica do filme por  Luiz Soares Junior

Como de costume, nosso propósito no Clube do Filme é discutir obras e textos com um pouco mais de tempo que nos debates após as sessões do cineclube, logo, o filme não será exibido na data. Recomendamos que o filme já tenha sido visto e também a leitura dos textos, porém isso não é exigido para participação. Devido ao formato virtual, não poderemos exibir com qualidade trechos do filme e de outros trabalhos, mas acreditamos ser importante retomarmos as atividades possíveis durante a pandemia. O ingresso, como sempre, é gratuito.

Devido a limitações de tempo do Meet, voltamos com nossa sala do Jitsi. O Jitsi dispensa downloads de aplicativos e senhas no PC, mas caso acesse pelo celular, recomendamos o download do aplicativo (gratuito).

Serviço:

Clube do Filme:"La Sapienza" (2014), de Eugène Green
Dia 27/09 (quarta-feira)
Das 19h15 às 21h30
ENTRADA FRANCA

Coordenação e mediação: Giovanni Comodo
Realização: Coletivo Atalante


terça-feira, 19 de setembro de 2023

La Sapienza, de Eugène Green

por Vera Lúcia de Oliveira e Silva

Um casal inscrito num laço de amor enlutado confronta-se com obstáculos à realização de suas ambições profissionais idealistas – ele (Alexandre) vê-se coagido a adulterar o projeto de Arquitetura e Urbanismo com o qual foi o vencedor de um concurso, para submetê-lo a restrições econômicas e políticas; e ela (Aliénor) tem sua proposta de humanização de uma comunidade de imigrantes ridicularizada como “injeção de testosterona”, já que diagnostica consequências da perda de poder paterno nas famílias desenraizadas de sua própria cultura.

Empreendem uma “Viagem à Itália”, pois ambos declaram que precisam pensar, viagem esta que terá uma trajetória diversa da mostrada por Rosselini – eles vão interagir com um casal de jovens irmãos (Goffredo e Lavínia) e este enlace produzirá efeitos transformadores nas vidas dos quatro personagens.

Com este argumento simples, Eugène Green vai desdobrar uma alternância de imagens arquitetônicas esplêndidas e diálogos densamente significativos, que são a marca de seu estilo: pessoas que falam, e o que dizem denota que escutam, em conversas marcadas por um genuíno interesse mútuo e uma profunda reflexão sobre a vida de cada qual.

Como sempre, o cineasta faz com que os atores ocupem sucessivamente o quadro, de frente para a câmera, falando com o olhar teoricamente dirigido para seu interlocutor no extracampo, porém com uma estratégia que acaba nos aliciando, nós expectadores, a receber a mensagem como se fôssemos nós, cada um de nós, o verdadeiro Outro a quem se destina o discurso.

À medida que o enredo se desdobra, Aliénor, que permanece na maravilhosa Stresa para se dedicar à frágil Lavínia, acometida por um adoecimento manifestamente histérico, conduz a sua cura, num tratamento que se resume a presença e palavra e culmina em um apelo à cultura como destino de salvação: é com o teatro de Moliére que a terapeuta dirige Lavínia a saber da natureza imaginária da sua doença. Lavínia, até então alienada no laço com o irmão e submetida a um papel de inválida atribuído pela mãe (desgostosa pela iminente chegada da cura), vai ao ponto de separação da novela familiar que a libertará de seu mal.

Simultaneamente Aliénor também se transforma. O próprio Eugène Green encarna um personagem arquetípico, que se apresenta como um “caldeu”, numa alusão à mística das forças da Natureza, mas também como “estrangeiro”, essa manifestação concreta da alteridade - e que lhe antecipa o futuro: você vai encontrar um lugar onde poderá amar.

E quem fala em lugar, faça em espaço, tema que, junto com a luz, vai ocupando os diálogos de Alexandre e Goffredo, que viajam juntos, numa trajetória em que os papéis de mestre e aluno vão deslisando a ponto de já não se saber mais quem ensina e quem aprende. Na verdade, ambos ensinam e ambos aprendem, sobre o espaço, a luz e um lugar para as gentes; e sobre modos de se estar no mundo.

Esta viagem à Itália marca uma transformação absoluta na vida dessas pessoas reunidas pela mágica do Cinema, num filme em que Eugène Green explicitamente dá lugar à psicanálise como ferramenta de trabalho. Será um puro acaso? Será também por acaso que ele se põe a mostrar com seu filme que, para além do Conhecimento e da Beleza, existe a Sapiência?

Finalizando:

Quem diz Beleza diz Estética. E toda Estética supõe uma Ética.

Então podemos perguntar: De que Ética se trata?

Em Green, a ética do bem dizer, da escuta e da palavra.


16 de setembro de 2023.