Sentados em uma mesa, no bar, no chão da sala, numa praça, em circulo. Olho por olho, ideias por ideias, pessoas por pessoas e uma conversa por uma conversa. Assim talvez tenham começado a maioria dos momentos importantes para muitos que mudaram a maneira de pensar e interfiriram na sociedade. Também para o Coletivo Atalante. Na verdade bem antes, em Belém do Pará, Miguel Raony, Cauby Monteiro e Murilo Monteiro já haviam começado um movimento de cineclubes na Universidade Federal do Pará, que se espalhou pela cidade e levou exibições a outras localidades e aldeias indígenas no estado.
“Começou-se a discutir cinema de uma forma mais intensa e haver uma certa contaminação na cidade. Por exemplo, hoje, tem cinema de graça e de qualidade de domingo a domingo. Era necessário haver uma proposta de desconstrução da educação que havia até então em relação ao audiovisual, que, afinal de contas é nenhuma, entre aspas”, explicou Murilo.
Agora os três estão em Curitiba, atuando pelo Coletivo Atalante em um grupo do qual faz parte a estudante de arquitetura Nara Massena: “Cada um que faz parte do Atalante hoje, na verdade se uniu por um anseio individual de realizar projetos e que encontrou dentro do coletivo uma maneira de realizá-los. Em cima disso nós desenvolvemos uma identidade, que no final é de todos". Nara entrou para o coletivo por convite de Murilo. Além das discussões, prepara o primeiro trabalho autoral do Coletivo, um documentário com foco nos arquitetos da cidade.
A primeira intervenção do Atalante na cidade foi o sarau Leitura e Prosa, com cinco edições, três delas na casa de amigos e duas no Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Paraná. “Quando a gente chegou aqui já estávamos amadurecendo a ideia de fazer um sarau havia um tempo, que acabou não acontecendo antes talvez por displicência nossa. Fomos amadurecendo a ideia, pensamos possibilidades, tivemos alguns contrários na maneira de materializar. Nós estávamos amadurecendo aquilo que se tornou o Leitura e Prosa, que é um sarau de literatura, em que se reúne pessoas para ler textos literários e há uma conversa a respeito de nossas impressões. É um encontro informal, não tem nenhuma pessoa ali que domine o negócio, que vá dar uma aula às pessoas.”
Sentados na mesa do bar, escutei cada um dos integrantes do grupo me descrevendo o quão envolvente foram os dois Leitura e Prosa no DCE da UFPR, com discussões prolongadas em cada leitura e boas surpresas com autores desconhecidos. O próximo já tem até data marcada, apesar da incerteza de ser no DCE por conta da greve na UFPR. Será no dia 30 deste mês, ainda sem local confirmado, mas com participação de músicos e perfomances já certas.
Agora a discussão é Televisão levada a sério. A segunda edição do segundo ciclo de discussões sobre audiovisual, que acontece durantes as terças-feiras do mês de junho na Bicicletaria Cultural, exibe hoje Intervenções de Glauber Rocha no programa Abertura. Participei do primeiro, estou curioso pelo segundo e lamentando ter perdido o (trans) cinema Diálogos entre Cinema, Artes e Humanidade, que aconteceu em maio no Espaço de Arte.
Perguntei sobre a possibilidade do grupo fazer intervenções artísticas, já que as primeiras ações foram mais para expor trabalhos artísticos de terceiros e discutir. Estela Basso, estudante de Direito, explicou “que na verdade nós estamos avaliando o terreno, começando as atividades, conhecendo quem é o público e maneira de ocupar os espaços. Nada impede que a gente como coletivo faça algum trabalho artístico". Cauby colocou ainda que “a própria questão de experimentar espaços é uma forma de interação. Acredito que a questão espacial seja importante e esse é um dos focos”, explorar diferentes espaços em cada ação.
“O Atalante é um espaço, de pensamento e para colocar projetos em prática”, me interou Murilo. Assim como eu, que fui na terça-feira passada ver episódios das séries Além da Imaginação e Hitchcok Apresenta, todos os outros integrantes do grupo que não tinham envolvimento com cinema também foram ver e discutir pela primeira vez. Como um coletivo se colocando aberto a participar com o coletivo.
Assim, das ideias passa-se ao movimento e então as ações se realizam. “Eu acredito que quando o Atalante amadurecer nós vamos descobrir novas formas de relacionar este saber. Vai chegar um momento em que vamos perceber as possibilidades de trabalhar com as diferentes áreas. Por enquanto nós estamos dando sustância para a ideia inicial e caminhando para fazer algo mais unificado”, comentou Murilo. Eu penso comigo, vida longa ao Coletivo.
http://www.curitibacultura.com.br/noticias/entrevistas/a-vontade-coletiva-pela-arte