sábado, 9 de junho de 2012

Tevê também é arte

+ Debate

Tevê também é arte

Curitibanos debatem o que é bom na telinha
09.06.2012 | 00:42 | Fábio Cherubini, @FabioCherubini
Foto: Hugo Harada/GP
Galera do Coletivo Atalante reunida: em novo projeto eles demonstram que a tevê pode ser levada a sério
Galera do Coletivo Atalante reunida: em novo projeto eles demonstram que a tevê pode ser levada a sério
Responda rápido: há bons programas nos canais de tevê brasileiros? E quando você está zapeando com o controle remoto, sente que a variedade deles é grande ou pequena? Para os artistas e estudantes ligados ao Coletivo Atalante, de Curitiba, exemplos de produções de qualidade é o que não faltam, sobretudo no campo da ficção,
E quando os canais dão uma bola dentro, o nível dos programas pode chegar ao status de arte. Para comprovar essa tese por A + B, o coletivo realizará toda terça-feira do mês de junho o encontro “A Televisão Levada a Sério”, sempre às 19 horas, na Bicicletaria Cultural. Nos eventos, que são gratuitos e abertos para quem quiser ver – e debater –, os participantes assistirão a alguns exemplos dessa “televisão arte” e conversarão sobre o fazer televisivo nos tempos da internet.
“Apesar de existirem poucas tentativas de ruptura com a programação convencional, é possível encontrar exemplos de experimentação na linguagem televisiva, principalmente na teledramaturgia norte-americana e na tevê europeia”, diz o estudante de Cinema e Vídeo da Faculdade de Artes do Paraná (FAP) e organizador dos encontrosMiguel Haoni, de 28 anos. Ele foi um dos responsáveis por escolher a programação do evento, que apresentará episódios de séries como Além da Imaginação e capítulos dos enlatados The Office e Família Soprano – veja todas as atrações abaixo.
Para Miguel, apesar das tentativas de se romper com o tradicionalismo na televisão brasileira, a programação nacional está ousando menos do que poderia. “Nos anos 1980, existia a TV Pirata e a teledramaturgia de Dias Gomes – criador da novela Roque Santeiro –, só que agora vejo um maior acanhamento na tevê brasileira. Há muita autocensura, embora existam programas como o Pânico na TV, que tem um humor escrachado e usa a linguagem e a estética dos vídeos da internet”, avalia.
Faltam opções
O diretor-geral da UFPR TV, Carlos Rocha, professor e pesquisador da área, considera que a tevê perdeu muito espaço para a web. E a razão para isso está na falta de diversidade de conteúdo nas grades televisivas. “Um exemplo disso é o YouTube. Por que ele faz tanto sucesso? Porque mesmo com filmagens de baixa qualidade, há opções do que assistir, diferente da tevê, que não nos dá essa possibilidade”, explica.
Para o professor, as emissoras ainda não perceberam essa exigência do público, principalmente quando se trata dos mais jovens, que estão acostumados a fuçar na internet e criar uma programação própria. “As redes de tevê ainda têm dificuldade em lidar com essa mudança. Tanto que quando elas criam as suas páginas na internet, apenas disponibilizam o conteúdo do dia ou o transmitem ao vivo. Mas elas não dão a possibilidade de o telespectador criar uma grade personalizada ou acessar o seu acervo”, analisa Rocha.
Ainda influente
Mesmo com a perda gradativa de audiência e tantos desafios pela frente, as emissoras de tevê ainda têm uma grande influência sobre a opinião pública. O pesquisador lembra que mais de 70% dos lares brasileiros têm um aparelho de tevê em casa, o que já dá uma ideia. E além disso, é comum ainda ver alguma atração televisiva entre os assuntos mais comentados do Twitter, ou mesmo o quanto as séries de ficção conquistam novos fãs. O que por si só já comprova que existe interesse, sim, independente de qual geração é o telespectador.
* * * * *
Programação
Interessado em participar dos encontros? Saiba quais serão as próximas atrações
12/06
Glauber Rocha e o programa Abertura
19/06
Episódios da série The Office
26/06
Episódios da série Família Soprano
Serviço
A Televisão Levada a Sério. Toda terça-feira de junho, às 19h30. Bicicletaria Cultural. R. Presidente Faria, 226, Centro. Entrada gratuita. Informações:http://coletivoatalante.blogspot.com.br.

2 comentários:

  1. Quando, na Literatura, surgiu o romance todo mundo entortou o nariz. "É coisa de mulherzinha" (afinal, as mulheres e as crianças sempre foram tratados como a parte retardada do público, e o que era feito pra um dos dois era necessariamente inferior), ou "São folhetins pra fazer chorar", e tínhamos Balzac, Cervantes e Flaubert. Com a fotografia foi a mesma coisa... com o cinema, de novo, a mesma postura otária.
    Isso se repete com a TV.
    Imagino daqui a alguns (espero,poucos) anos livros sobre Anos Incríveis, debates intermináveis sobre Mad Men e The Office sendo exibido nas aulas de arte contemporânea. Talvez eu esteja delirando, até porque grandes obras de arte são grandes obras de arte, mesmo quando não recebem o reconhecimento devido (o número de vezes que isso aconteceu é tão grande que nem adianta citar exemplos).

    Mas iniciativas como essa já dão o recado e em alguém o recado vai chegar e essa pessoa vai repassar... foi assim que descobriram que Jane Austen era um gênio e que Cartola era incomparável.

    Pra vocês, meus parabéns :)

    Felipe Cruz

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  2. Porra valeu Felipe, o plano é esse mesmo. Legitimação do veículo como instrumento de poesia mesmo. E propor outras leituras, deslocar estes debates pra outros espaços. Nosso plano (não sei se conseguiremos) é exibir TV na Biblioteca e discutir literatura na TV. Nouvelle Vague nos acampamentos do MST e Terror Italiano no Teatro Guaíra.
    Até a galera perceber que o The Office é tudo o que o Lars Von Trier queria ser e não tem capacidade...

    Miguel Haoni

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