(Haut bas fragile,
França, 1995, 169 min., drama, 16 anos.)
Com Anna Karina, Marianne Denicourt, Nathalie Richard, Laurance Côte.
No verão parisiense de 1994, três jovens mulheres decidem mudar o rumo de suas
vidas. Louise (Marianne Denicourt) acaba de ser liberada do hospital após estar
em coma durante 5 anos e descobre que sua tia deixou um grande patrimônio para
ela. Ninon (Nathalie Richard) é carteira e foge de seu namorado maluco, um
criminoso, além de ter que roubar o dinheiro do caixa da empresa para sair para
dançar. Ida (Laurence Côte) é bibliotecária em uma sala de leitura
artística e descobre que foi adotada. Ela decide então procurar por seus
verdadeiros pais. Contudo, a única pista que tem para achar sua verdadeira mãe
é uma antiga canção.
Serviço:
CINECLUBE DO ATALANTE
“Paris no verão” (1995), de Jacques Rivette
Sábado, 23/11
Às 16h
Na Cinemateca de Curitiba
(Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco)
(41) 3321-3552
ENTRADA FRANCA
Realização: Coletivo Atalante
Apoio: @fcccuritiba
PROJETO
REALIZADO POR MEIO DA LEI MUNICIPAL COMPLEMENTAR 57/2005 DO PROGRAMA DE APOIO E
INCENTIVO À CULTURA, FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA E PREFEITURA MUNICIPAL DE
CURITIBA, SECRETARIA DA CULTURA E GOVERNO FEDERAL.
Os mestres do gênero cinematográfico geralmente são aqueles que levam
um gênero a seu apogeu de perfeição estilística. São frequentemente
artistas que se identificam com os valores do gênero em questão e usam
de sua mestria artesanal para criar peças meticulosamente equilibradas e
bem dosadas. Mas e quando o gênio organiza sua mestria para ir contra o
gênero, para explodir o gênero por dentro, para sapatear em cima de
suas convenções? Se pudermos chamar esse tipo de artista de antimestre,
então o primeiro cineasta a quem devemos atribuir essa designação será
Seijun Suzuki.
Suzuki é mais conhecido pela exuberância anárquica de A marca do assassino (Koroshi no rakuin,
1967) e pelo escândalo em que se envolveu com a produtora Nikkatsu, que
considerou a narrativa “incompreensível” e o baniu da indústria
cinematográfica japonesa. Mas a rebeldia moral e a inquietação artística
características de Suzuki já podem ser sentidas desde o começo de sua
trajetória como cineasta. Depois de um período protocolar como
assistente de direção, ele sobe na hierarquia da indústria escrevendo
roteiros e, em 1956, dirige seu primeiro longa, um filme de encomenda no
gênero kayo eiga, ou “filme de canção popular”.
Ele se
estabelece na Nikkatsu fazendo filmes baratos e rápidos (no modelo de
três semanas de filmagem e três dias de montagem), geralmente com jovens
estrelas da cultura pop. A partir de 1960, ele começa a fazer filmes policiais no estilo mukokuseki akushon (literalmente, “ação sem nacionalidade”), sob a influência do cinema noir e dos filmes de gângster americanos. No mesmo ano ele filma também Tudo vai mal (The Precipice), um drama existencialista sobre juventude transviada que o aproxima estilística e tematicamente da florescente nouvelle vague japonesa. A audácia em filmar jovens despojados vadiando na rua em estilo semidocumentário evoca o paralelo com Acossado, de Jean-Luc Godard, marco da nouvelle vague francesa lançado no mesmo ano.
Mas
é com os filmes policiais “sem nacionalidade” que o estilo visual de
Suzuki se desenvolve, tomando as convenções do gênero e levando-as a
extremos. O que interessa no cinema de gângster não são os confrontos e
tiroteios? Então por que encher linguiça com a cadência narrativa quando
no fundo o que importa é outra coisa? A partir de Detetive Bureau 2-3 (Tantei jimusho 23: Kutabare akuto-domo,
1963), o cinema de Suzuki começa a zombar da verossimilhança e
importar-se pouco com a clareza ou a complexidade narrativa, fazendo de
tudo para potencializar o espetáculo visual e cinético. A escolha de Joe
Shishido para protagonista reflete a proposta cinematográfica:
hiperestilização antipsicológica e insolência bem-humorada. Cores
chamativas, explosões, gestualidade de interpretação expandida, cortes
abruptos (jump cuts): é a poesia do movimento e do choque em plena atividade.
De
1963 a 1967, Suzuki procede à radicalização de seu estilo. A quebra da
verossimilhança atinge não só a interpretação e as guinadas narrativas,
mas também a direção de arte e o espaço cênico, que se tornam elementos
de simbologia e de beleza visual. A depuração narrativa chega a um
limite com Tóquio violenta (Tokyo nagare-mono, 1966) e A marca do assassino.
A trama é desenvolvida em seu mínimo para estabelecer a vaga ideia de
que todo mundo quer matar o protagonista, e depois é ele que vai tentar
matar todo mundo. Depois que isso está assentido, o que resta é elaborar
cenas de ação fragmentárias em que o importante é a construção visual, o
charme da atmosfera e a excentricidade do estilo. O antimestre mostra
as suas garras: ele leva o gênero ao máximo de sua expressividade, mas,
ao fazer isso, ele não produz mais, a rigor, filmes de gênero, e sim
obras abstratas e modernistas, em par com toda a reconstrução da
linguagem cinematográfica que era operada pelos cinemas novos ao redor
do globo nos anos 1960.
Banido e ostracizado da indústria, Suzuki
fica dez anos sem filmar. Quando volta, não é mais como cineasta dentro
de um regime industrial, mas como autor independente com total
autonomia sobre os projetos em que se engaja. Naturalmente, a abstração e
a fragmentação, que eram incidentais nas obras anteriores, passam a
estar no cerne dos filmes que vêm a seguir. Em História de melancolia e tristeza (Hishu Monogatari,
1977) e na celebrada “trilogia Taisho”, há uma aparente indistinção
entre sonho e realidade. Tudo parece factível e nada parece palpável.
Surge um mundo de requinte visual e rítmico pleno, e um regime narrativo
em que as leis de causalidade não funcionam mais: personagens que somem
ou morrem reiteradamente e voltam com indefinido estatuto de realidade
(eles mesmos ou fantasmas?), além de uma pronunciada sensação de
inebriamento – tanto pela beleza da cor, do enquadramento, dos
movimentos e da música quanto pela suspensão da lógica que imprime a
tudo um caráter onírico.
Pistol Ópera (Pisotoru Opera, 2001) e Princesa Guaxinim (Operetta tanuki goten, 2005) são o dístico final de uma trajetória de artista experimental que recupera elementos da cultura pop para criar beleza ríspida e abstrata. Pistol Ópera é uma espécie de reencenação de A marca do assassino,
mas agora em chave declaradamente vanguardista, mais Raul Ruiz do que
Jean-Pierre Melville. Personagens morrem repetidas vezes e voltam, até
mesmo a personagem principal. A linearidade dá lugar a um eterno
recomeço, que é o prazer da cena, da cor, do ritmo, da ambientação. Mas
nada é plácido. Afinal, Seijun Suzuki é um mestre e um antimestre do
movimento.
Seu último filme, Princesa Guaxinim, é um
conto de fadas e uma opereta. Dois gêneros tidos como menores, não
sérios. Um tendendo à simbologia; outro, ao espetáculo musical ligeiro. A
concreção dos dois num filme só é uma perfeita explicitação do que
Suzuki ama: o signo opulento, recheado de alusões mas sem significado
preciso; a velocidade das superfícies contra a falsa profundidade da
seriedade; o poder sem limites da invenção visual e rítmica, com ênfase
nas síncopes do jump cut e das quebras de sentido operadas pela
montagem. Um pintor pelo apreço à cor, um músico pela dedicação ao
ritmo, um bárbaro pelo prazer em burlar as regras, um cineasta pela
conjugação de todos os elementos em experiências audiovisuais intensas,
que pedem olhos ávidos.
Texto retirado de https://ims.com.br/blog-do-cinema/seijun-suzuki-o-antimestre-por-ruy-gardnier/
Sábado, 09 de novembro: TÓQUIO VIOLENTA Dirigido por: Seijun Suzuki. (Tôkyô Nagaremono, Japão, 1966, 89 min., policial, 16 anos.) Com Tetsuya Watari, Chieko Matsubara, Hideaki Nitani. A trama gira ao redor de Tetsu, um membro da yakuza que, quando sua gangue é dissolvida, permanece leal ao seu chefe e tenta levar uma vida dentro da lei. Contudo, essa não é uma tarefa fácil, já que a yakuza está determinada a trazê-lo de volta à cena – ou matá-lo se ele se recusar. Serviço: CINECLUBE DO ATALANTE “Tóquio Violenta” (1966), de Seijun Suzuki Sábado, 09/11 Às 16h Na Cinemateca de Curitiba (Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco) (41) 3321-3552 ENTRADA FRANCA Realização: Coletivo Atalante Apoio: @fcccuritiba PROJETO REALIZADO POR MEIO DA LEI MUNICIPAL COMPLEMENTAR 57/2005 DO PROGRAMA DE APOIO E INCENTIVO À CULTURA, FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA E PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA, SECRETARIA DA CULTURA E GOVERNO FEDERAL.