terça-feira, 16 de maio de 2017

Oficina de crítica cinematográfica: Cinema moderno




Cinema é a arte das imagens em movimento. Como arte é o canal de expressão de homens e mulheres que concebem o mundo sob um prisma poético. Como imagens é o espelho da humanidade nos últimos 120 anos: suas ilusões, vergonhas, vitórias e medos projetados em 24 quadros por segundo. E como movimento é a música da luz, a montanha russa nas mais impressionantes paisagens do inconsciente.

Tudo isso, porém, quase sempre passa batido na nossa convencional fruição de filmes. A dieta viciada de audiovisual imposta pela grande e pequena indústria de imagens nos impede de observar o universo por trás dos "roteiros e atuações".

Nesse sentido a Oficina de Crítica Cinematográfica, ministrado por Miguel Haoni (do Coletivo Atalante), propõe, com a ajuda da História Contemporânea e da Filosofia da Arte, lançar outro olhar sobre o cinema .

A oficina pretende observar como diferentes cineastas concebiam a arte em contextos chave de sua história. A partir do debate crítico, leitura de textos e análise de filmes investigaremos de que maneira esta linguagem de imagens é tecida na construção de discursos e sensações, configurando parte fundamental de nossa experiência no mundo contemporâneo
.

Programa:
1° Unidade – Neo-realismo italiano
2° Unidade – Novo cinema português
3° Unidade – Cinema francês dos anos 70
4° Unidade – Nova Hollywood

Sobre o neo-realismo:
"Essa perfeita e natural aderência à atualidade se explica e se justifica interiormente por uma adesão espiritual à época. A história italiana recente é sem dúvida irreversível. A guerra não é ressentida ali como um parênteses, mas como uma conclusão: o fim de uma época. Em certo sentido a Itália só tem três anos. Porém, a mesma causa podia produzir outros efeitos. O que não deixa de ser admirável, e de assegurar para o cinema italiano uma audiência moral bem ampla nas nações ocidentais, é o sentido que a pintura da atualidade ganha ali. E, ainda, em um mundo já obcecado pelo terror e pelo ódio, onde a realidade quase nunca é amada por ela mesma, mas apenas recusada e defendida como um sinal político, o cinema italiano é certamente o único que salva, no próprio seio da época que ele pinta, um humanismo revolucionário.”
(André Bazin, O realismo cinematográfico e a escola italiana da Liberação)

Sobre o Novo Cinema Português:
"Outro debate sobre o novo cinema consiste na dúvida se o Cinema Novo foi apenas inovador em nível estético, ou também ofereceu, apesar de censura e auto-censura, leituras políticas da sociedade? Ele efetuou de fato uma ruptura ou foi também continuidade? Nenhum dos primeiros filmes do Novo Cinema é panfletário, como também não o seriam os filmes realizados posteriormente. A política só podia invadir o cinema português após a revolução pacífica do 25 de Abril em 1974 que pôs fim ao regime totalitário. Mas tanto Acto da Primavera quanto Os Verdes Anos denunciam a realidade: o filme de Manoel de Oliveira em um sentido universal, humanista e cristão, enquanto o filme de Paulo Rocha capta a frustração e as poucas possibilidades da sociedade portuguesa classista e opressiva. Muitos outros filmes do Cinema Novo, como O Cerco (1969) de António da Cunha Telles, O Recado (1971) de José Fonseca e Costa, Uma Abelha na Chuva(1971) de Fernando Lopes, entre outros, tiveram esta envergadura de se opor entrelinhas, através de ambientes pesados ou dúbios, ou camuflado em narrativas complexas ou fragmentadas, ao regime totalitário e os seus efeitos na sociedade, mesmo que fosse de forma metafórica ou alegórica."
(Carolin Overhoff Ferreira, O Novo Cinema Português)

Sobre o pós-Nouvelle Vague:
"O que faremos agora é analisar brevemente, por meio de exemplos, como se manifestaram essas tendências estéticas que surgiram - e que não foram as únicas, evidentemente - em resposta à crise da mise en scène deflagrada pelo cinema moderno. (...) Por ora, veremos como Pialat, Eustache e Garrel, três cineastas pertencentes a um mesmo momento do cinema francês (o pós-nouvelle vague) posicionam-se propositalmente abaixo da "linha" da mise en scène, recuando às características originais do cinematógrafo e buscando o acesso imediato a uma emoção que, para ser captada em toda sua intensidade, não pode estar refratada por nenhum excesso de linguagem"
(Luiz Carlos Oliveira Jr., A crise da mise en scène no cinema moderno)

Sobre a Nova Hollywood:
"Acreditamos que a topografia do cinema moderno norte-americano, na qual a Nova Hollywood é catalisadora das suas principais linhas de força, deve ser estudada não só a partir do cânone estabelecido nos filmes realizados dentro do aparato da indústria (os filmes de Steven Spielberg, George Lucas, Paul Schrader e William Friedkin), mas também do fenômeno que aconteceu nas bordas de Hollywood e que ajudou direta ou indiretamente na renovação de formas, temas e quadros técnicos e artísticos da indústria - e que também possibilitou ao cinema americano assumir uma noção de modernidade que outras cinematografias do mundo já haviam assimilado, mais precisamente nas suas relações com a representação, com a revisão dos gêneros cinematográficos e com a intervenção da realidade nos filmes. Abandonou-se o velho naturalismo da era dos estúdios em função de um realismo mais acachapante: a televisão e as suas emblemáticas transmissões do assassinato do presidente John F. Kennedy e da Guerra do Vietnã, sínteses do desencanto e da perda da inocência, obrigaram o cinema a repensar o seu lugar e o seu papel dentro da sociedade americana. Não se podia ignorar que o horror da realidade e a mediação da televisão (com seu potencial ambíguo de documento e manipulação) transformaram a relação dos cineastas e da sociedade com as imagens."
(Francis Vogner dos Reis e Paulo Santos Lima, Nova Hollywood)

***
A Oficina de crítica cinematográfica: Cinema moderno (ministrada por Miguel Haoni do Coletivo Atalante) oferecerá uma abordagem teórica do cinema a partir do estudo de textos fundamentais e da apreciação de filmes. Filmes e textos, permitirão um percurso geral e específico em alguns capítulos essenciais da história recente do cinema.
Começaremos investigando de que maneira alguns italianos, nos anos 40, ofereceram uma nova saída ética e estética para o cinema em tempos de crises extremas.
Na sequência estudaremos a irrupção do cinema moderno em Portugal nos anos 60, e a crise do cinema moderno na França de Maurice Pialat, Jean Eustache e Philippe Garrel. 
Por fim, uma leitura sobre a renovação do cinema americano nos anos 70, quando a geração de Coppola, Scorsese e De Palma entram em cena.
Com este recorte, ao mesmo tempo amplo e restrito, a oficina pretende a formação do olhar crítico com embasamento histórico sobre a arte cinematográfica e suas diversas dimensões.

Referências bibliográficas:
BAZIN, André. O cinema - ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1985.
Blog do Lucky Star - Cineclube de Braga: http://luckystarcine.blogspot.com.br/
Foco - Revista de cinema: http://focorevistadecinema.com.br/
LIMA, Paulo Santos (org.). Easy riders: o cinema da Nova Hollywood. CCBB: 2015.
MAMEDE, Liciane. Cinema Novo: os verdes anos do cinema português. São Paulo: CCBB, 2008.
OLIVEIRA JR., Luiz Carlos. A mise en scène no cinema. Campinas: Papirus, 2013.

Referências fílmicas:
A vida como ela é. Jean-Claude Brisseau. FRA. 1978. cor. 95 min.
Ladrões de bicicleta. Vittorio De Sica. ITA. 1948. p&b. 93 min.
O espantalho. Jerry Schatzberg. EUA. 1973. cor. 108 min.
O estrangulador. Paul Vecchiali. FRA. 1970. cor. 93 min.
Paisá. Roberto Rossellini. ITA. 1948. p&b. 125 min.
Veredas. João César Monteiro. POR. 1977. cor. 120 min. 

Serviço: 
dias 19, 21, 23, 26, 28, 30/06, 03, 05 e 07/07 (segunda quinzena de junho e primeira semana de julho)
(segundas, quartas e sextas)
das 19 às 21 horas
na KNN Idiomas Bacacheri
(Rua Maximino Zanon, 598. Esquina com a rápida Canadá – Bacacheri - Curitiba/PR)

Inscrições pelo email: coletivoatalante@gmail.com
Investimento: R$150,00
VAGAS LIMITADAS

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