Rara é minha amizade. Eu atingi a idade em que não podemos mais dá-la
senão numa troca: um cálculo de avarento que só quer seu dinheiro.
Quanto mais cara é a contrapartida, mais a amizade é sólida.
Sautet, ao permitir-me admirá-lo, me fez feliz. Este jovem, cheio de
maturidade, deu uma lição de pudor e de eficácia que não parece muito adequado
ao momento em que sabemos que só o esnobismo imposto pelos clientes de uma
Drug-Store fazem e desfazem os talentos e os valores (Uma mulher é uma
mulher - Jules e Jim).
Se tenho certeza que em 1965 Claude Sautet será nosso maior cineasta é
porque, fora o seu talento, conheço sua coragem tranquila. No caso "Aurel"
ele não aceitou nenhum compromisso. E, para impressionar película, nós
todos conhecemos uma boa centena de pseudo-cineastas que aceitarão todas as
infâmias. Sautet, o falso taciturno, tão preocupado quanto seguro de si, espera
ser inspirado para filmar.
Mas quando filma, ele põe o coração na obra.
Jamais, de coração, Lino Ventura ganhou tanto quanto em Como
fera encurralada, onde, contudo, ele compartilhou com um Belmondo
desconhecido, poderoso e grave, verdadeiro como um homem verdadeiro.
O segredo da criação artística permanece, com a vulgaridade, um dos dois
únicos mistérios absolutos.
Isto não se aprende. Não mais no cinema que em outro lugar. Em 1896,
Picasso nunca tinha tomado a menor lição, nem Errol Garner em 1945.
A estação de Milão, os correios em Nice, a passagem Doisy (cara a Peugeot
e a Rolland) Sautet não os aprendeu nos filmes dos outros.
Imagine um só instante a história se passando nos States e no México ou
no Canadá, com Robert Ryan e Sinatra, e me diga se, transposta desta forma,
Sautet não seria grande lá!
Me diga se ele não poderia assinar Deus sabe quanto amei, Homens em fúria, Desafio à corrupção ou O
segredo das jóias.
Falamos freqüentemente de filmes onde
as relações entre homens, a amizade, tem uma enorme importância. Eu acreditei
na amizade de Abel Davos e Stark, absolutamente. Ela é interior e não aparece
por intermédio dos diálogos. O comportamento dos dois homens explicita seus
sentimentos sem que seja útil que eles falem, um ou outro, de sua amizade. É um
pouco por isso que eu não consigo acreditar na amizade de Jules e Jim que, no
entanto, falam dela o tempo inteiro.
Evidentemente, eu não oponho a fatura
Sautet à fatura Truffaut: o classicismo absoluto e o cinema novo são duas
formas da mesma arte. Resta saber se, em 1965, as duas subsistirão ou se uma, só,
substirá.
Témoignage publicada na revista Présence du Cinéma, n°12, março-abril de 1962. Tradução: Miguel Haoni.
Témoignage publicada na revista Présence du Cinéma, n°12, março-abril de 1962. Tradução: Miguel Haoni.
Nenhum comentário:
Postar um comentário