quinta-feira, 5 de julho de 2012

Cineclube Sesi estréia dia 19 com ciclo em homenagem a Luis Buñuel



Sobre "Obscuro Objeto: O Cinema de Luis Buñuel"
Porque homens e mulheres buscam tão ardentemente a liberdade? Talvez porque através dela possamos atingir a plenitude de nossa condição. Talvez porque sem ela sejamos apenas o esboço de potências direcionadas a lugar nenhum. Talvez ainda, porque apenas nela e com ela a realidade se revele em sua inteireza. Mas, liberdade para quê? E qual realidade estamos buscando?
Liberdade e Realidade. Na história do cinema ninguém se viu tão perdido nestas veredas quanto Luis Buñuel. Desde antes de sua estreia ao lado do conterrâneo Salvador Dalí em "Um Cão Andaluz"(1928) até depois de sua aposentadoria no cinema, nos anos 1980, isto sempre constituiu o obscuro objeto que o velho mestre desejou.
Junto ao "Comando dos Putrefatos" (Dalí, Pepin Bello, Rafael Alberti, José Bergamin e Federico Garcia Lorca), ainda nos dias de estudante em Madri, Buñuel já exercia a vontade de romper com os limites castradores da sociedade, em peças escandalosas, num Surrealismo avant la lettre.
O que seria o Surrealismo, então, senão a revelação, a partir do uso inconsciente da linguagem, desta realidade livre das amarras da razão? Para o grupo de André Breton em Paris, o qual Buñuel integraria na segunda metade dos anos 1920, o artista deveria empreender a libertação absoluta dos signos e a partir dela encontrar a poesia inerente nos objetos, nas coisas e nos homens. A liberdade criativa era o primeiro passo para a constituição de uma nova sociedade.
A revolução, porém, não chegou para aquela geração. Apesar do sucesso estrondoso das obras, a mudança radical nos valores com que sonhavam os surrealistas, não ocorreu. Ninguém amargou mais este trauma que Buñuel. Tendo que ganhar a vida como funcionário de estúdios hollywoodianos, separado de sua terra e amigos pelo regime sanguinário do General Franco, Buñuel abandonou o cinema por quase vinte anos, até que a oportunidade de produzir no México reacendeu as velhas brasas.
No México, Buñuel produziu melodramas e filmes comerciais de gênero. Pelo menos é o que diriam espectadores desatentos. Nos subtextos, porém, toda a poética feroz dos primeiros filmes permanecia intacta. As condições de produção dos estúdios mexicanos não lhe garantiam a "velha liberdade", mas o instigou a inventar uma nova, na qual lhe foi permitido dizer tudo, desde que sorrateiramente. Em filmes como "Ensaio de um Crime", "O Alucinado", "Subida ao Céu" e "A Ilusão Viaja de Trem", a fina ironia substituiu o riso de escárnio.
Mas para Buñuel era pouco e, graças à calorosa recepção da crítica internacional na ocasião da "descoberta" de sua obra mexicana, Buñuel cavou sua fuga para um sistema de produção mais aberto à experimentação estética. O que resultou num retorno à França, trinta anos depois, e muitos filmes-chave para o Cinema Moderno, como "A Bela da Tarde", "O Discreto Charme da Burguesia" e "Esse Obscuro Objeto de Desejo" - que, a propósito, empresta o nome para este ciclo.
Nas próximas três semanas (re)encontraremos Buñuel na sua estreia heróica ("Um Cão Andaluz", 19/07) e em dois títulos significativos de uma "fase de transição" entre a produção mexicana e a francesa ("Viridiana", 26/07 e "O Anjo Exterminador", 02/08). Estes filmes nos mostram o quanto o Surrealismo foi essencial na revelação do Homem interior, escondido nos sonhos e alucinações e como a busca a contrapelo pela liberdade (mais que seu pleno exercício) foi o motor para uma das obras mais importantes da história do cinema. Um cinema obscuro, mas iluminador.

Miguel Haoni
(Cineclube Sesi, 2012)



Sobre o Cineclube Sesi:
Cineclube Sesi é a mais nova ação arte-educativa do Serviço Social da Indústria que, através da exibição regular de títulos essenciais da cinematografia local, nacional e internacional e de conversas sobre o cinema e suas inumeráveis dimensões (linguagem, história e cultura por exemplo), se configura como lugar privilegiado para a introdução e aprofundamento da reflexão crítica.
Concebido como espaço informal de educação, o cineclube foi, historicamente, um dos grandes colaboradores para o desenvolvimento da expressão cinematográfica, seja como “escola de cinema” para gerações de cineastas do mundo todo, seja como fórum agregador de olhares e discursos sobre os filmes. Na sua dinâmica, não existe a hierarquia professor-aluno e todos os participantes são convidados a se envolver organicamente no processo de construção do conhecimento. Para os coordenadores do Cineclube Sesi esta estrutura democrática é essencial visto que o compartilhamento de experiências e perspectivas numa sociedade cada vez mais individualista, carente de trocas e embrutecedora é um ato político urgente. E nada mais apropriado do que colocar o cinema no centro deste processo.
Os filmes, como todas as obras-de-arte, são portais para universos poéticos enriquecedores e convites permanentes para conhecermos as expressões culturais de diversos povos (inclusive o nosso), visto que na ampliação de nosso repertório vale tanto a (re)descoberta dos “clássicos” quanto um mergulho nos mais recentes experimentos.
Cabe ressaltar, entretanto, que a dimensão educativa do projeto baseia-se também na ativação não apenas do conhecimento intelectual, mas, sobretudo do conhecimento sensível, num modelo didático inspirado na paixão e na criação artística, que não reduz o filme a recurso pedagógico para nobres saberes e nem se furta ao prazer da investigação estética.

Cineclube Sesi funciona às quintas-feiras, 19:30, no Espaço Multiartes da Fiep (Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico). Sempre com entrada e conversa franca.


Cineclube Sesi apresenta
Obscuro Objeto: o Cinema de Luis Buñuel

19/07 - Palestra: Do Amor e da Morte: Buñuel e o Surrealismo
           "Um Cão Andaluz" 

26/07 - "Viridiana" 

02/08 - "O Anjo Exterminador" 

(*Exibição seguida de bate-papo em língua espanhola)

Serviço:
Sessões às quintas-feiras
19h30
Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema Fiep
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA

Realização: Sesi
Parceria:Instituto Cervantes 
Apoio: Processo Multiartes

Conheça outras atividades do Sesi:http://www.sesipr.org.br/cultura/

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