Sobre "Do Amor e da Morte: Buñuel e o Surrealismo":
Ao lado de Karl Marx, Sigmund Freud foi o grande tradutor, ainda no século XIX, do que seria a vida no Ocidente do Século XX. Podemos afirmar que grande parte de nossa experiência em sociedade, de nossas pretensões humanas, e de uma gorda fatia de nossas expressões artísticas, interagem com as noções de inconsciente, trauma, sublimação, pulsões e neuroses. Barro fundamental da primeira psicanálise.
A ideia de que somos regulados por elementos anteriores à nossa Razão e que grande parte de nossas escolhas resultam de necessidades íntimas, socialmente condenáveis, oferecia uma resposta libertadora à permanente hipocrisia em que se fundamentou nossa civilização.
Ao mesmo tempo a sétima arte nascia trazendo sexo e violência para os espetáculos populares e eruditos, fascinando o jovem Luis Buñuel, então apenas o filho tímido de um rico proprietário no medieval município de Calanda, Espanha. Como todo espanhol provinciano, Buñuel cresceu sob a influência repressora da Igreja Católica. E como todo burguês foi conduzido pelo pai a escolher uma profissão e estudar na capital. Em Madri, Buñuel desenvolveu o gosto pela liberdade.
Nos anos 20 em Paris, ingressava já totalmente corroído pelo amor à vida, no escandaloso círculo de André Breton: o Movimento Surrealista; que mais do que nenhuma outra vanguarda artística, interagia despudoradamente com o repertório e o método freudiano.
Para Buñuel, o Surrealismo era mais que um projeto ético-estético, era um projeto de vida, que o acompanhou do primeiro ao último feito cinematográfico. Com liberdade total ou nenhuma, na forma clássica ou moderna, seu cinema sempre lançou luz às dimensões sombrias da experiência humana.
A palestra “Do Amor e da Morte: Buñuel e o Surrealismo” pretende investigar de que maneira as pulsões básicas (eros, ou pulsão sexual, para a vida, e tânatos, ou pulsão agressiva, de morte) são determinantes na trajetória de Buñuel e matéria-prima para a criação cinematográfica do autor, especialmente em suas fases surrealista e mexicana.
Sobre "Um Cão Andaluz":
Nenhum filme materializou tão precisamente o ideário surrealista quanto “Um Cão Andaluz”, de Luis Buñuel e Salvador Dalí. Em pouco mais de quinze minutos somos arremessados em uma realidade reconfigurada, na qual os objetos do cotidiano perdem sua familiaridade, estabelecendo aproximações incomuns. Parafraseando Arnaldo Antunes, a mão cheia de formigas pode ser chamada de axila, que pode ser chama de ouriço, que pode ser chamado de cordão de isolamento policial. São as coisas da vida em permanente revolução.
Textos: Miguel Haoni
(Cineclube Sesi, 2012)
Serviço:
dia 19/07 (quinta)
às 19h30
na Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema FIEP
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA
Realização: Sesi
Parceria:Instituto Cervantes
Apoio: Processo Multiartes
Programação completa do "Obscuro Objeto" no site do Sesi:
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