sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Oficina de crítica cinematográfica


Cinema é a arte das imagens em movimento. Como arte é o canal de expressão de homens e mulheres que concebem o mundo sob um prisma poético. Como imagens é o espelho da humanidade nos últimos 120 anos: suas ilusões, vergonhas, vitórias e medos projetados em 24 quadros por segundo. E como movimento é a música da luz, a montanha russa nas mais impressionantes paisagens do inconsciente.

Tudo isso, porém, quase sempre passa batido na nossa convencional fruição de filmes. A dieta viciada de audiovisual imposta pela grande e pequena indústria de imagens nos impede de observar o universo por trás dos "roteiros e atuações".

Nesse sentido a Oficina de Crítica Cinematográfica, ministrado por Miguel Haoni (do Coletivo Atalante), propõe, com a ajuda da História Contemporânea e da Filosofia da Arte, lançar outro olhar sobre o fenômeno audiovisual artístico.

A oficina pretende observar como diferentes cineastas concebiam a arte em contextos chave de sua história. A partir do debate crítico, leitura de textos e análise de filmes investigaremos de que maneira esta linguagem de imagens é tecida na construção de discursos e sensações, configurando parte fundamental de nossa experiência no mundo contemporâneo.

1° Unidade - O neo-realismo de Roberto Rossellini: Uma investigação sobre o percurso do mestre italiano e seu amadurecimento ético-estético no pós-Segunda Guerra Mundial;

2° Unidade - Tempo e memória no cinema moderno: O estudo dos mecanismos cinematográficos para a representação da experiência e dos abismos temporais do indivíduo e suas sociedades;

3° Unidade - O cinema político de Claude Chabrol: A análise dos retratos ácidos da burguesia e da luta de classes nos dramas criminais do mestre francês do suspense .

Sobre a oficina:
Oficina de crítica cinematográfica (ministrada por Miguel Haoni do Coletivo Atalante) oferecerá uma abordagem teórica do cinema a partir do estudo de textos fundamentais e da apreciação de filmes. Filmes e textos, permitirão um percurso geral e específico em alguns capítulos essenciais da história recente do cinema.

Começaremos estudando a pequena revolução moderna perpetrada por Roberto Rossellini em seus filmes sociais e íntimos, católicos e existencialistas. Na sequência introduziremos a reflexão sobre a expressão cinematográfica da dimensão temporal e de como ela se completa na relação entre filme e espectador. Por fim, uma abertura sobre os pontos de interação entre o thriller e a reflexão política no cinema de Claude Chabrol.

Com este recorte, ao mesmo tempo amplo e restrito, a oficina pretende a formação do olhar crítico com embasamento histórico sobre a arte cinematográfica e suas diversas dimensões.


Programa:

Sobre o neo-realismo de Roberto Rossellini:
"Rossellini foi realmente e ainda é neo-realista? Parece-me que você lhe concederá o ter sido. Como contestar, com efeito, o papel desempenhado por Roma cidade aberta e Paisá, na instauração e no desenvolvimento do neo-realismo? Mas você descobrirá sua 'involução', já sensível em Alemanha ano zero, decisiva, segundo você, a partir deStromboli e de Francisco arauto de Deus; catastrófica com Europa 51 eViagem á Itália. Ora, de que acusam essencialmente tal itinerário estético? De abandonar cada vez mais aparentemente a preocupação do realismo social, da crônica da atualidade em prol, é verdade, de uma mensagem moral cada vez mais sensível, mensagem moral que podemos, conforme o grau de má vontade, solidarizar com uma das duas tendências políticas italianas. Recuso de saída deixar descer o debate para esse terreno por demais contingente. Mesmo se houvesse simpatias democratas-cristãs (da qual não conheço nenhuma prova pública ou privada), Rossellini não seria por isso excluído a priori como artista de qualquer possibilidade neo-realista. Deixemos isso. É verdade, todavia, que se tem o direito de recusar o postulado moral ou espiritual que cada vez mais claramente se mostra na obra, mas tal recusa não implicaria a recusa estética na qual se realiza a mensagem, a não ser se os filmes de Rossellini fossem filmes de tese, isto é, que se reduzem a dar uma forma dramática às ideias a priori. Ora, não há diretor italiano cujas invenções possam ser menos dissociadas da forma, e é justamente a partir daí que eu gostaria de caracterizar seu neo-realismo"
(André Bazin, Defesa de Rossellini)

Sobre o cinema moderno:
"Nos Cahiers, o bazinismo modernizado é substituído por um retorno a Eisenstein e Vertov, e o cinema de montagem retoma a palavra decisivamente. A crítica à 'fascinação pela imagem' e ao reinado da continuidade é feita através de uma ostensiva defesa da manipulação do material sonoro e visual - nesta manipulação está localizado o trabalho produtivo essencial. Mesmo o elogio de Jean-Louis Commoli ao cinema direto é feito em outros termos, não mais apoiado na ideia de uma verdade registrada (extraída do real), mas na ideia de que os métodos do cinema direto desafiam a 'representação' (projeção na tela de uma significação que pré-existe ao discurso) e afirmam a ideia de 'produção de significado' pelo trabalho de transformação e desrealização que a filmagem/montagem opera. No texto coletivo, 'Questão teórica' (n.210, 3/1969), Silvie Pierre, Commoli e Narboni, entre outros, afirmam a montagem descontínua, (portanto, algo que rompe com a decupagem clássica e com o bazinismo) como única forma 'não-reacionária' de fazer cinema. Contra o óbvio e o filme 'pleno de sentido', como Garroni, defendem a 'linguagem obscura' de Straub, o discurso de Godard, as experiências da vanguarda americana e o cinema da 'interdição do sentido' de Jean Daniel Pollet."
(Ismail Xavier, A desconstrução)

Sobre Claude Chabrol:
"Poucos terão reunido o unanimismo que ele conseguiu. O último dos críticos, convidado a pronunciar-se sobre a sua obra, dirá: prolífico e irregular. E ninguém levantará um dedo para contestar. Todavia, debaixo dessa ponta do 'iceberg', as constantes são inúmeras e, julgo eu, surpreendentes: os seus quarenta filmes são um permanente jogo com as leis do mercado, apostando nas regras da produção estabelecida (nem sequer se furtando ao confronto com a grande maquinaria televisiva); os atores formam uma família que regressa em cada filme (Stéphane Audran, Bernadette Lafont, Jean-Claude Brialy, Michel Bouquet), dando corpo a séries cuja regularidade e coerência começam a levantar a suspeita de que a visão global da obra - da obra enquanto construção, naquele sentido languiano que Chabrol tanto defende - é mais do que a simples soma das partes; o mesmo vale ainda para as 'séries' que Paul Gégauff, enquanto argumentista, e Jean Rabier, seu eterno diretor de fotografia, poderiam encabeçar; por fim há esse seu regularíssimo uso dos gêneros e das convenções sob a qual invariavelmente se descobre a mesma figura de desdobramento (Charles e Paul), o mesmo triângulo afetivo aproximando-se perigosamente da explosão irracional e do crime"
(M. S. Fonseca, De Paul a Charles passando por Hélène)

Referências bibliográficas:
BAZIN, André. O cinema - Ensaios. Brasiliense: São Paulo, 1991.
Blog Dicionários de Cinema: http://dicionariosdecinema.blogspot.com.br/
Foco revista de cinema: http://focorevistadecinema.com.br/
FONSECA, M. S. Claude Chabrol. Cinemateca Portuguesa: Lisboa, 1987.
OLIVEIRA JR, Luiz Carlos. Vertigo, a teoria artística de Alfred Hitchcock e seus desdobramentos no cinema moderno. São Paulo, 2015.

Referências fílmicas:
A flor do mal. Claude Chabrol. FRA. 2003. cor. 104 min.
Europa '51. Roberto Rossellini. ITA. 1952. p&b. 113 min.
La Jetée. Chris Marker. FRA. 1962. p&b. 29 min.
Mulheres diabólicas. Claude Chabrol. FRA. 1995. cor. 112 min.

Serviço: Carga horária: 24 horas
dias 4, 5, 6, 7, 11, 12, 13 e 14/04 (primeira quinzena de abril)
(de segunda a quinta)das 19 às 22 horasno Núcleo Cine(Rua Belém, 888 - Cabral- Curitiba/PR)
Inscrições pelo email: coletivoatalante@gmail.com
Investimento: R$120,00
VAGAS LIMITADAS
Realização: Núcleo Cine e Coletivo Atalante 

Nenhum comentário:

Postar um comentário