domingo, 31 de julho de 2016

Viver e morrer em Los Angeles

  

O que William Friedkin, expert em corridas de carro (Operação França, 1971) e especialista em efeitos visuais (O Exorcista, 1973), faz em companhia de cineastas que nós celebramos aqui há alguns dias, Vincente Minnelli, Kenji Mizoguchi, John Ford? A resposta resume-se a três palavras. É um clássico. Um pequeno clássico, mas ainda assim um clássico. Formado pela lei tecnicista da televisão (entre 17 e 27 anos, ele assina centenas de documentários, de telefilmes, de emissões escolares), o ex-sr. Jeanne Moureau pode se deixar levar por uma valsa se o roteiro tem senso de ritmo. E o pouco que podemos dizer é que Viver e Morrer em Los Angeles balanceia como os filmes não sabem mais fazer há muito tempo.                                                                                                                                                                                                                      
Passaram-se uma quinzena de anos entre o sucesso comercial de O Exorcista e de Operação França, e esse thriller muito pessoal. Mais habituado à encomenda e ao cinema multi-estilístico, o próprio Friedkin adapta o universo bastante Jim Thompson do romance de Gerald Pitievich. O resultado é um filme estranho e desestruturado, quase desarticulado, do qual o belo título americano exprime bem o pessimismo. A partir de um argumento clássico, uma história contada cem vezes (dois jovens policiais decidem vingar o seu chefe, baleado a alguns dias de sua aposentadoria), Viver e Morrer em Los Angeles embarca o espectador em uma corrida mortal, uma corrida em pleno dia e em cores em que a luminosidade contrasta com a escuridão. Sem desvendar a arritmia do filme, nós diremos que ele reedita em um tom menor, deslocando-o para o meio da intriga, o terrível basculamento inaugural de Os Corruptos (The Big Heat), obra-prima ultra-noir de Fritz Lang (nós podemos encontrá-la ainda em DVD zona 1 por menos de 20 euros). É o tipo de roteiro no qual Mel Gibson e Bruce Willis se aventuram em vão em versões insípidas. Os atores levam a história sobre seus ombros como uma cruz: Willem Dafoe, certamente, mas acima de tudo o estranho William L. Petersen cujos olhos azuis furam a tela de tanta incandescência. Bertrand Travernier escreve em Cinquenta Anos de Cinema Americano que Friedkin “não pôde se decidir em tornar o personagem desagradável, nem em adotar o ponto de vista (dramático ou moral) que uma tal opção pedia”. É preciso muito talento para conseguir fazer isso. É todo o mal que desejamos à Tavernier.                                                                

Louis Skorecki        

Police fédérale, Los Angeles RTL9, 22 h 35.   

Publicado no jornal Libération, 06/02/2002.    

Tradução: Letícia Weber Jarek

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