A classe operária não chegou ao paraíso. Pelo menos não naquele início dos anos 70, época de revoluções proletárias pelo mundo. A experiência soviética, chinesa, cubana, oferecia uma fresta, para os milhões de trabalhadores vitimados pelo capitalismo, respirar. Hoje podemos enxergar as injustiças e incoerências do socialismo praticado, entretanto em 1971, quando o italiano Elio Petri filma "A Classe Operária Vai Ao Paraíso", havia esperança.
Lulu, interpretado pelo delirante Gian Maria Volonté, é o trabalhador comum, que enxerga a sua vida sendo diariamente sugada por uma Máquina a qual ele é servil e sobre a qual não sabe rigorosamente nada. Jogado entre a alienação e o discurso, entre o consumismo e a fome, Lulu reage (sem saber direito como) pela fé de que um outro tempo se reserva para o Homem. Do outro lado de um muro que precisa ser derrubado.
Petri constrói esta historia com uma câmera nervosa, urgente, que trabalha recolhendo o suor no rosto e o sangue nas mãos de seus personagens. Com a ajuda do compositor Ennio Morricone (um gigante!), o diretor transforma um drama de classe em uma epopéia revolucionária, trágica, barroca e absolutamente moderna.
Este é um filme eterno que trata de conflitos, ilusões e realidades estampadas nas ruas, fábricas e escolas de qualquer tempo - pois onde houver a falta de fé no potencial transformador da arte, onde houver injustiça e fome, "A Classe Operária Vai Ao Paraíso" precisa ser exibido e discutido.
Miguel Haoni
(Atalante 2012)
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