Seria impossível fazer uma análise do século XX sem levar em conta o poder que o cinema exerceu sobre as pessoas, influenciando tendências, costumes, e impondo uma ideologia dominante por quase toda sua existência. Produto das revoluções industriais - o cinema se dividiu desde os seus primórdios entre mercadoria da indústria cultural e arte autoral. Auguste e Louis Lumière inventaram o cinematógrafo e muitos críticos, historiadores e especialistas consideram a sessão realizada por eles no Grand Café de Paris, em 28 de Dezembro de 1895 como a primeira exibição pública dessa nova arte. Esse é um fato meramente simbólico, pois Max e Emile Skladanowsky na Alemanha e Jean Acme Leroy nos Estados Unidos já promoviam projeções públicas muito antes dos primeiros espectadores dos Lumière. Se a invenção da 7ª arte não é consensualmente francesa, a contribuição artística da nação é incontestável e uma das maiores. O país é o berço de muitas das principais vanguardas e movimentos cinematográficos do século XX - impressionismo, dadaísmo, surrealismo, realismo poético, nouvelle vague, cinema du look. Ainda hoje esse cinema é um dos raros que fogem ao imperialismo cultural homogeneizante, produzindo e exibindo mais de 200 filmes por ano. A cinematografia do país é bem eclética, abrangendo diversos estilos e gêneros, por mais que o senso comum generalize e atribua características de “difíceis e chatos”.
O recorte apresentado na mostra “Introdução ao Cinema Francês Contemporâneo” busca explicitar a variedade de riquezas de um dos cinemas mais relevantes e originais do globo. A seleção reúne 4 títulos produzidos de 1994 a 2009, obras que vão desde um decano recém-falecido (Claude Chabrol) a novos autores-experimentadores (Philippe Grandieux). Chabrol fez parte da mítica geração dos jovens turcos (ao lado de Godard, Rivette, Rohmer e Truffaut) que renovaram o cinema francês nos anos 60. O filme escolhido nessa seleção sintetiza alguns traços de sua vasta filmografia. Já “Um Lago” de Philippe Grandieux é um OVNI de difícil classificação. O diretor já transitou por diferentes linguagens: vídeo-arte/instalação, televisão, documentário. Sua fase mais recente opta por uma mise-en-scène sensorial. O filme proposto lança um olhar radical sobre a desconstrução familiar. A diretora Catherine Breillat é o exemplo de feminização que atingiu o cinema francês nas últimas décadas. A França, historicamente falando, sempre teve mulheres que se dedicavam a realização. Germaine Dulac e Agnés Varda são duas cineastas bem ousadas e renomadas em seus respectivos períodos, porém, permaneceram praticamente sozinhas nesse universo. De uns anos para cá é visível o aumento de mulheres encabeçando os filmes: Claire Denis, Noémie Lvovsky, Valérie Donzelli. Breillat em “Barba Azul” recorre a Perrault e uma de suas fábulas para desnudar uma impactante tragédia moral sobre o universo infantil. Tony Gatlif é um cineasta franco-argelino que possui uma filmografia de inclinação mais humanista. Seu cinema aborda a vida cigana e/ou protagonistas em deambulações. O filme selecionado reflete sobre os devaneios geracionais da juventude francesa e a multiplicidade étnica que permeia o país. Através de um olhar politizado, irônico, duas marcas de sua assinatura, Gatlif filtra e homenageia sua obra em referências explícitas a um dos cânones máximos da 7ª arte mundial – Jean-Luc Godard. Esses 4 filmes apontam para o passado, o presente e o futuro do cinema francês. Um recorte multifacetado que explora o drama, a comédia e o inventivo, mas que acima de gêneros e classificações, honram a longa tradição de qualidade e apresenta novas tendências francesas.
(Curador convidado)
Programação:
09/08 - "Um Lago", de Phillipe Grandieux
16/08 - "Barba Azul", de Catherine Breillat
23/08 - "Nasci de uma Cegonha", de Tony Gatlif
30/08 - "Ciúme, o inferno do amor possessivo", de Claude Chabrol
Serviço:
Toda quinta de agosto*
às 19h30
Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema FIEP**
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA
*Exibições seguidas de debate em português e francês
** Sala com 25 lugares, sujeita à lotação.
Realização: Sesi
Parceria:Aliança Francesa
Apoio: Processo Multiartes
Conheça outras atividades do Sesi:http://www.sesipr.org.br/cultura/
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