Mama, take this badge off of me
I can’t use it anymore.
It’s gettin’ dark, too dark for me to see
I feel like I’m knockin’ on heaven’s door.
Knock, knock, knockin’ on heaven’s
door
door
Mama, put my guns in the ground
I can’t shoot them anymore.
That long black cloud is comin’ down
I feel like I’m knockin’ on heaven’s door.
I can’t shoot them anymore.
That long black cloud is comin’ down
I feel like I’m knockin’ on heaven’s door.
Antes de produzir Pat Garret & Billy the Kid, Peckinpah já
havia decretado o fim da era western no cinema, mas nunca de forma tão romântica
e alegórica quanto neste monumento erguido à passagem do tempo – que muito bem
pode ser encaixado como último capítulo do epílogo de um gênero. Aliás, tem um
único plano, sutilmente posicionado no princípio da fuga que estabelece a
caminhada final de Pat e Billy rumo à morte, que mais ou menos representa o
próprio filme, em tom e substância: um take em contraluz que mostra a silhueta
de um dos protagonistas enquanto anda a cavalo às margens de um lago, no
período crepuscular.
É talvez o plano mais representativo de todo o velho-oeste; não
este do filme de Peckinpah, mas a própria ação e o exercício de se fotografar o
cowboy em passos lentos rumando em direção a qualquer lugar, com o horizonte ao
fundo, abusando de uma atmosfera romântica e, porque não, completamente épica.
Mas Peckinpah filma tudo ao contrário. Não é no horizonte que se forma a
silhueta – ele está encoberto por tantos outros contornos pretos que compõem a
paisagem arborística da locação. O que vemos é o reflexo invertido nas águas do
lago, sempre tremulas, deixando o cowboy desfigurado, torto, com linhas
balançantes.
O que encontramos neste Peckinpah não é o nosso velho-oeste,
aquele que tanto adoramos; vigoroso, embrutecido, musicado pelo tilintar das
esporas e recheado com a macheza e violência corriqueiras. Pat Garret &
Billy the Kid é a distorção, o fim definitivo de tudo isso, mais do que
qualquer outro ensaiado anteriormente – não simplesmente o desencaixe do velho
código de honra, mas a punição a quem ainda não havia se entregado aos novos
costumes, através dos quais a lei finalmente tomava o posto de maestro social,
numa forma de tentar coibir a violência e encobrindo, automaticamente, a
justiça autônoma, pessoal.
Garret e Kid, sendo assim, representam dois lados de uma mesma
moeda. Ambos são homens à moda antiga, velhos amigos, mas que acabam
desenvolvendo uma diferença determinante: enquanto Pat se rende ao novo modelo
social, Billy nega a adaptação. O fato que os coloca em lados opostos de uma
mesma batalha – enquanto um permanece como caça, o outro se transforma em
caçador – também motiva a melancolia que tanto as imagens, sempre crepusculares
em sua anti-epicidade e não raramente representantes de uma antologia
totalmente contrária à mitologia do western, quanto à trilha-sonora de Dylan
constroem através de cada seqüência.
Por sinal, o momento-chave do filme, quando Pat finalmente
encontra e assassina Billy the Kid, pode ser visto facilmente como o último
suspiro do faroeste. Porque todos sentiam o contragosto sempre explícito pelo
amargor irrefutável com o qual o personagem de James Coburn mantinha arduamente
sua perseguição a Bill-, não por estar realizando um trabalho do qual não se
orgulha, mas por saber que, matando Billy the Kid, estaria fatalmente
assassinando a si próprio. E poucas coisas são tão dolorosas quanto ver o
homem, plenamente iluminado pela claridade solar, trilhar rumo ao horizonte
passos mortos que celebram o fim de toda uma era.
Diferente de tudo o que você já viu no gênero – e na retratação
de um mito, coisa feita sem nenhum brilho, sem nada de épico -, talvez por ser
o maior anti-western do mundo. Devastador.
Daniel Dalpizzolo
(Texto original: http://multiplotcinema.com.br/antigo/2008/05/17/pat-garret-billy-the-kid-sam-peckinpah-1973/)
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