Fritz Lang foi o diretor das superproduções na República de Weimar. "Dr. Mabuse" (1922), "Os Nibelungos" (1924), "Metrópolis" (1927); seus filmes conciliavam uma inventividade de matriz expressionista com espetáculos populares para as grandes massas.
Com a ascensão de Hitler, Lang recusou-se a assumir a função de diretor oficial do III Reich, deixando a cadeira para Leni Riefenstahl. A dificuldade de produção, o cerceamento das liberdades individuais e a censura de seu filme "O Testamento do Dr. Mabuse", de 1932, tornaram o ambiente na Alemanha nazista insuportável para o espírito independente do diretor, o que o obrigou a migrar para Hollywood (com uma breve parada na França, onde produziu "Liliom" em 1934).
Diferente de seus conterrâneos Ernst Lubitsch e F.W. Murnau, que fizeram a travessia do atlântico anos antes, Lang era um exilado que não queria ter que deixar seu país, abandonar seus amigos e parceiros profissionais e sobretudo sua roteirista, esposa e companheira inseparável, Thea Von Harbou que, nazista convicta, recusou-se a acompanhá-lo. Lang, dilacerado, foi a Hollywood porque precisava. O que fez toda a diferença.
Nos EUA construiu uma carreira prolífica, mas nunca mais teve acesso a grandes orçamentos. Foi reduzido a "funcionário dos estúdios", no nicho mercadológico dos filmes B no qual produziu pequenos faroestes e policiais. Para a indústria Lang era um problema: apesar da inegável eficiência técnica, sua postura política e seu "intelectualismo" o impediam de assumir grandes produções. Para o "povo do cinema" (cinéfilos, críticos e jovens realizadores) Lang era um Deus: sua mise-en-scène única desenhava reflexões profundas sobre o Homem em sociedade. Nos 22 filmes que realizou nos 20 anos que trabalhou em Hollywood, desenvolveu a mais consistente obra sobre um tema quintessencial à nossa condição: a justiça.
Nestes filmes, a amargura do expatriado e a humilhação do profissional subvalorizado encontraram o ódio à hipocrisia do sistema americano. Enquanto a propaganda oficial (Holllywood na ponta da lança) pregava os mitos de liberdade, democracia e oportunidade, a América real era uma terra opressora, cruel e oportunista. Sob a maquiagem do dream, a vida nos EUA era tão sombria quanto na Alemanha de Hitler.
Este olhar crítico está na base da leitura que Lang empreendeu do filme "A Cadela" de Jean Renoir (1931), na adaptação "Almas Perversas", de 1945. O que em Renoir era um elogio à vida e suas razões, Lang interpreta como uma parábola expressionista sobre a crueldade humana. A atmosfera ímpia que contamina esta visão de mundo (compartilhada por muitos realizadores do contexto) seria a matriz do que posteriormente a crítica francesa chamará de film noir. Como diz o cliché, havia naquelas ruas algo mais escuro que a noite.
A história não poderia ter sido outra. Como escreveu o crítico francês François Truffaut, Renoir era um gênio, mas seu coração nunca sangrou como o de Lang. E é este coração que pulsa por baixo de cada linha de "Almas Perversas".
Miguel Haoni
(Cineclube Sesi, 2012)
Serviço:
dia 19/09 (excepcionalmente na quarta)
às 19h30*
na Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema Fiep**
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA
*Exibição seguida de debate em português e inglês.
** Sala com 25 lugares, sujeita à lotação.
Realização: Sesi
Apoio: Processo Multiartes
dia 19/09 (excepcionalmente na quarta)
às 19h30*
na Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema Fiep**
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA
*Exibição seguida de debate em português e inglês.
** Sala com 25 lugares, sujeita à lotação.
Realização: Sesi
Apoio: Processo Multiartes
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