No que consiste este Flash Mob? Objetivamente, consistirá num grupo espontâneo de pessoas que irão ao Terminal Cabral e lerão um livro durante uma hora. Aqueles que estiverem lendo não deverão conversar, sob nenhuma circunstância, com os demais participantes/leitores do evento, mas sim, pura e simplesmente, se restri
ngir a exercer esta atividade tipicamente solitária que é a leitura! Recomendamos aos Leitores que levem algum livro que seja especial, algo que o tenha marcado de alguma maneira e que, como recompensa, você o homenageará durante esta uma hora de leitura. Caso alguém, dentre os Transeuntes do Terminal, que, diante de um número tão atípico de Leitores em um mesmo lugar, o indague sobre o porquê de haver tanta gente lendo, faça-se de desentendido e, se julgar conveniente, comece a falar a respeito da obra, divulgue-a, leia algum pequeno trecho do livro, pois assim, caso algum curioso resolva indagar vários Leitores, ele ouvirá vários relatos e trechos tornando-se assim, igualmente, um Leitor. A ideia, muito singela, é simplesmente causar um certo estranhamento nos Transeuntes do Terminal e, quem sabe, suscitar-lhes um certo desejo, ainda que inconsciente e tíbio, pela leitura.
Agora, refaçamos a pergunta do início: “No que consiste este Flash Mob?” Em termos mais idealistas e figurados, este Flash Mob consiste em uma intervenção, por parte de uma figura inusitada, em alguns dos templos mais representativos das nossas rotinas de trabalho e consumo: os terminais da cidade (Cabral, Portão e Pinheirinho) e shopping centers (Muller, Palladium e Estação). A tal figura inusitada é o Leitor, geralmente em minoria, mas que possui uma postura tão única e inequívoca: livro à mão, cabeça curvada e olhar atento e navegado.
André Bazin, no seu livro Charlie Chaplin, diz a respeito de Carlitos, o grande personagem de Chaplin: “A sociedade impõe mil cerimônias que não passam igualmente de uma espécie de missa permanente que ela oferece a si própria. Um exemplo disso é a maneira de se comer em sociedade. Carlitos jamais consegue usar os talheres de modo conveniente. Põe sempre o cotovelo dentro dos pratos, derruba a sopa sobre a calça etc... Religioso ou não, o sagrado está presente em toda a vida social não apenas no magistrado, no policial, no sacerdote, mas no ritual de alimentação, nas relações profissionais, nos transportes públicos. É por ele que a sociedade mantém sua coerência, como em um campo magnético. Inconscientemente, a cada minuto, nos posicionamos segundo suas linhas de força. Mas Carlitos é feito de outro metal. Não apenas escapa à sua influência, mas a própria categoria do sagrado não existe para ele, sendo tão inconcebível quanto a rosa para um cego de nascença”.
Tendo isso em vista, propomos esta intervenção por parte dos Leitores: nos lugares já consagrados a determinados usos tão restritos e funcionais iremos realizar uma das atividades mais negligenciadas em nosso país que conta, segundo a última pesquisa, com a quantia de 27% da população de analfabetos funcionais, fora os totalmente analfabetos. Por fim, esta intervenção é também uma maneira, ainda que velada, de dizer à população que os leitores existem e que a leitura é possível nem que seja somente durante nossas viagens diárias de ônibus rumo aos nossos trabalhos, escolas ou outras instituições afins.
1 Flash Mobs são aglomerações instantâneas de pessoas em certo lugar para realizar determinada ação inusitada previamente combinada, estas se dispersando tão rapidamente quanto se reuniram. A expressão geralmente se aplica a reuniões organizadas através de e-mails ou meios de comunicação social.
2 O evento tem que ocorrer na Segunda-Feira porque é o primeiro dia da semana e representa o retorno ao cotidiano do trabalho e de nossas outras obrigações para com a estrutura socioeconômica na qual estamos inseridos até o pescoço.
3 Este horário foi escolhido tendo em vista que o mesmo corresponde à hora do rush que, em nossa cidade, tá cada vez mais caótico.
Agora, refaçamos a pergunta do início: “No que consiste este Flash Mob?” Em termos mais idealistas e figurados, este Flash Mob consiste em uma intervenção, por parte de uma figura inusitada, em alguns dos templos mais representativos das nossas rotinas de trabalho e consumo: os terminais da cidade (Cabral, Portão e Pinheirinho) e shopping centers (Muller, Palladium e Estação). A tal figura inusitada é o Leitor, geralmente em minoria, mas que possui uma postura tão única e inequívoca: livro à mão, cabeça curvada e olhar atento e navegado.
André Bazin, no seu livro Charlie Chaplin, diz a respeito de Carlitos, o grande personagem de Chaplin: “A sociedade impõe mil cerimônias que não passam igualmente de uma espécie de missa permanente que ela oferece a si própria. Um exemplo disso é a maneira de se comer em sociedade. Carlitos jamais consegue usar os talheres de modo conveniente. Põe sempre o cotovelo dentro dos pratos, derruba a sopa sobre a calça etc... Religioso ou não, o sagrado está presente em toda a vida social não apenas no magistrado, no policial, no sacerdote, mas no ritual de alimentação, nas relações profissionais, nos transportes públicos. É por ele que a sociedade mantém sua coerência, como em um campo magnético. Inconscientemente, a cada minuto, nos posicionamos segundo suas linhas de força. Mas Carlitos é feito de outro metal. Não apenas escapa à sua influência, mas a própria categoria do sagrado não existe para ele, sendo tão inconcebível quanto a rosa para um cego de nascença”.
Tendo isso em vista, propomos esta intervenção por parte dos Leitores: nos lugares já consagrados a determinados usos tão restritos e funcionais iremos realizar uma das atividades mais negligenciadas em nosso país que conta, segundo a última pesquisa, com a quantia de 27% da população de analfabetos funcionais, fora os totalmente analfabetos. Por fim, esta intervenção é também uma maneira, ainda que velada, de dizer à população que os leitores existem e que a leitura é possível nem que seja somente durante nossas viagens diárias de ônibus rumo aos nossos trabalhos, escolas ou outras instituições afins.
1 Flash Mobs são aglomerações instantâneas de pessoas em certo lugar para realizar determinada ação inusitada previamente combinada, estas se dispersando tão rapidamente quanto se reuniram. A expressão geralmente se aplica a reuniões organizadas através de e-mails ou meios de comunicação social.
2 O evento tem que ocorrer na Segunda-Feira porque é o primeiro dia da semana e representa o retorno ao cotidiano do trabalho e de nossas outras obrigações para com a estrutura socioeconômica na qual estamos inseridos até o pescoço.
3 Este horário foi escolhido tendo em vista que o mesmo corresponde à hora do rush que, em nossa cidade, tá cada vez mais caótico.
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