terça-feira, 31 de julho de 2012

Cineclube Sesi apresenta: "O Anjo Exterminador" de Luis Buñuel



Sinopse:
Drama surrealista. Chegando da ópera, o casal Leandro e Luzia Nobile recebem em seu palacete um grupo de vinte pessoas para jantar. São cantores, maestros, doutores, gente da alta sociedade. Inexplicavelmente, porém, os empregados que deveriam servi-los vão aos poucos deixando o local, ficando apenas o mordomo Julio para atender todos os convidados. Apesar disso o jantar é um sucesso, embora os anfitriões estranhem que, passando das cinco horas da manhã, ninguém se manifeste para ir embora. Os quartos são então oferecidos para que passem a noite, mas ninguém parece interessado em deixar o cômodo, e todos dormem na sala, espalhados pelo chão. Quando amanhece, as pessoas dão-se conta de que simplesmente não conseguem atravessar a porta para sair da sala, sem que haja qualquer impedimento para fazê-lo. O grupo começa a preocupar-se. Aos poucos, a elegância e a cordialidade vai cedendo lugar à impaciência, à irritação, e logo começam as hostilidades. Anoitece novamente, não há mais o que comer. Da mesma forma que no interior, fora da casa ninguém consegue atravessar o portão de entrada, nem a polícia. Passam-se dias, um dos convidados morre, vem o pânico, a depressão, o desespero. E na irracionalidade crescente, já há quem pense em assassinato. 

Sobre o filme:
"O Anjo Exterminador" talvez represente o primeiro filme da última fase do diretor Luis Buñuel. A fase em que não precisa mais fazer concessões e seus ataques à moral burguesa tornam-se cada vez mais diretos e perturbadores. Usando as categorias de Martin Scorsese, Buñuel deixa de ser um Contrabandista e reassume sua função de Iconoclasta (experimentada nos seus dias de Surrealismo).
A narrativa, um estudo do comportamento de um grupo de aristocratas que se vêem inexplicavelmente presos numa sala, retoma a poética do confinamento, que já havia aparecido em filmes como "Subida ao Céu", "A Ilusão Viaja de Trem" e "Robinson Crusoé", mas que aqui é radicalizada por um dispositivo kafkiano.
O absurdo da situação é a mola ignidora do absurdo das reações (estas sim, apavorantes). Os personagens sistematicamente vão abandonando as funções que representam e revelando suas reais faces. 
A bestialidade solta é o motor da alegoria: o discreto charme de nossa civilização sustenta-se em bases podres e a fragilidade desta hipocrisia, violentamente exposta, é o caminho para a liberdade. Só precisamos dar um passo.

Miguel Haoni
(Cineclube Sesi, 2012)

Serviço:
dia 02/08 (quinta)
às 19h30*
na Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema FIEP**
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA

*Exibição seguida de debate em português e espanhol.
** Sala com 25 lugares, sujeita à lotação.

Realização: Sesi
Parceria:Instituto Cervantes 
Apoio: Processo Multiartes

Programação de agosto no site do Sesi:

terça-feira, 24 de julho de 2012

Cineclube Sesi apresenta: "Viridiana" de Luis Buñuel



Sinopse:
Pouco antes de ser ordenada freira, Viridiana faz uma visita a um solitário tio seu, que está à beira da morte. O homem, pervertido e obcecado por sua beleza, tenta seduzi-la de todas as formas, antes de morrer, repentinamente. Com a morte dele, acaba desistindo de ser freira, passando a morar na casa deixada pelo tio. Decide transformá-la em um albergue, movida pelo seu sentimento cristão de piedade e solidariedade, mas os mendigos que lá abriga acabam lhe mostrando as verdadeiras facetas dos seres humanos.

Sobre "Viridiana":
Luis Buñuel foi um dos pilares da história do cinema. Sua trajetória comporta uma vasta filmografia na França (onde realizou as maiores obras do Surrealismo cinematográfico) e no México (onde sagrou-se como maior cineasta da história do país). Espanhol de Calanda, Buñuel, entretanto, até 1961 havia realizado apenas um documentário em seu país - o maldito Terra sem Pão - quando teve oportunidade de executar a obra-prima Viridiana.
Na quase ilegalidade, Buñuel dirige em Madri o seu filme mais subversivo desde A Idade do OuroViridiana representou um reencontro com a terra que um dia foi dele e naquele instante ardia sob as botas da ditadura de Francisco Franco. O autor destila toda a sua poesia anárquica contra as falidas instituições burguesas: a família, a religião, o autoritaritarismo no amor e a falsa filantropia. Tudo isso através de símbolos oníricos e sexuais.
Viridiana é a fé na violência das imagens. Com cenas imortais, o filme permanece até hoje como um grito desesperado pela liberdade total. Não podemos esperar nada menos da arte.

Miguel Haoni

Serviço:
dia 26/07 (quinta)
às 19h30*
na Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema FIEP**
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA

*Exibição seguida de debate em português e espanhol.
** Sala com 25 lugares, sujeita à lotação.

Realização: Sesi
Parceria:Instituto Cervantes 
Apoio: Processo Multiartes

Mais informações no site do Sesi:

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Curitiba ganha um novo cineclube

Caderno G

Quinta-feira, 19/07/2012
Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Aniele Nascimento/Gazeta do Povo  / Os idealizadores Paula (à esq.), Miguel e Ana Luiza: promoção de conhecimentoOs idealizadores Paula (à esq.), Miguel e Ana Luiza: promoção de conhecimento
INICIATIVA

Curitiba ganha um novo cineclube

Com palestra e debate sobre o filme Um Cão Andaluz, de Luis Buñuel, Sesi inicia hoje sessões que ocorrerão semanalmente
Publicado em 19/07/2012 | ISADORA RUPP
A experiência do cineclube – apesar de crucial na formação de grandes cineastas – parece quase surreal em um tempo em que baixar filmes na internet, ou assistir a um longa-metragem sozinho em um equipamento que simula uma sala de cinema em casa é quase regra. O curador do projeto Cineclube Sesi, Miguel Haoni, quer ir contra essa lógica com a série de filmes que começam a ser exibidos hoje, às 19h30, na Sala Multiartes do Centro Cultural Sistema Fiep.
Cinéfilos
Saiba mais sobre outros cineclubes que estão em atividade em Curitiba:
Cineclube Espoleta
Iniciativa do cineasta Beto Carminatti junto com o Museu Guido Viaro. As sessões ocorrem sempre aos sábados, às 17h30. Na programação, entram clássicos como Hiroshima, Meu Amor (Alain Resnais). Depois das sessões é realizado um bate-papo com os presentes. Desde maio, o Espoleta começou um ciclo de exibição de filmes do diretor italiano Federico Fellini. Já foram exibidos títulos como Noites de Cabíria (1957) e 8 1/2 (1963). Neste sábado, La Nave Va (1983) é o filme escolhido. No próximo fim de semana (28), o ciclo fecha com Fred e Ginger (1986).
Museu Guido Viaro (R. XV de Novembro, 1.348 – Centro), (41) 3018-6194. Sessões do cineclube sempre aos sábados, às 17h30. Entrada gratuita. Mais informações no sitewww.museuguidoviaro.blogspot.com.
Cineclube Contramão
Este ano, o cineclube já iniciou a sua sexta temporada de atividades, projeto do artista visual Tom Lisboa. Em cinco anos, foram exibidos 200 filmes – sendo que, entre as sessões mais movimentadas, estão a Trilogia do Silêncio, de Ingmar Bergman, composta pelos filmes Através de um Espelho (1961), Luz do Inverno (1975) e O Silêncio (1963). Neste mês e no próximo, o Contramão, que faz exibições duas vezes ao mês, sempre aos sábados, está dedicando a programação a filmes de ficção científica. No dia 28, o longa escolhido é Videodrome (1983), de David Cronenberg. Em agosto, ainda sem data definida, será a vez de Solaris (1972), de Andrei Tarkovski.
Cineclube Contramão
Espaço Cinevídeo (R. Padre Anchieta, 458 – Mercês), (41) 3223-4343. Sessões duas vezes por mês, aos sábados, às 18 horas. Entrada gratuita. Mais informações no grupo do Contramão no Facebook ou pelo e-mail tomlisboa@terra.com.br.
Serviço
Cineclube Sesi
Centro Cultural Sistema Fiep – Sala Multiartes (Av. Cândido de Abreu, 200 – Centro Cívico), 0800 6480088. Hoje, às 19 horas. Palestra e exibição do filme Um Cão Andaluz. Inscrições pelo site www.sesipr.org.br/cultura. Entrada gratuita.
Classificação indicativa: 14 anos.
“Perdemos o contato humano nesse universo hostil. Tornar o conhecimento meu, e não nosso, tem consequências terríveis. O que nos interessa é propor outra forma de apreensão, uma construção coletiva do saber”, diz Haoni, que já tem uma experiência cineclubista vasta. Ele comandava um cineclube em Belém do Pará (está na capital paranaense há apenas cinco meses), foi presidente da Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema e integra o Coletivo Atalante, que faz trabalhos de arte-educação em Curitiba, além de ser acadêmico do curso de Cinema e Vídeo da Faculdade de Artes do Paraná (Fap).
O projeto é uma iniciativa integrada das áreas de Cultura e Educação do Sesi/PR, e terá parcerias com centros de língua da cidade, como o Instituto Cervantes, o primeiro nesta rodada de filmes (que estreia com a exibição de Um Cão Andaluz, de Luis Buñuel, e a palestra Do Amor e da Morte: Buñuel e o Surrealismo). Inter Americano e Aliança Francesa são outras escolas convidadas – no mês que vem, o Cineclube Sesi fará um apanhado sobre a cinematografia francesa contemporânea.
O cineclube, entretanto, não é voltado apenas para estudantes das línguas, e qualquer pessoa da comunidade pode participar. Até o começo de agosto, pretende-se discutir com o público as várias fases de Buñuel, passando por produções realizadas pelo cineasta na França e no México. “Um professor das escolas parceiras sempre virá para debater os filmes, mas não será um ambiente de sala de aula”, salienta a gerência de educação do Sesi, Ana Luiza de Oliveira e Silva. A gerência de cultura da instituição, Paula França Tissot ressalta que parcerias com outros institutos de línguas estrangeiras, como o Goethe, serão firmadas ao longo do ano.
Escolhas
Para selecionar os filmes que farão parte do cineclube, Miguel Haoni tem como critério escolher títulos com o qual tenha uma “dívida.” “São filmes essenciais, fundamentais para mim, que têm um poder transformador. O fato de um cinéfilo estar envolvido nesse tipo de projeto sempre humaniza o trabalho, faz toda a diferença.” No total, 25 lugares estão disponíveis na sala, e é preciso realizar inscrição prévia pelo site para assistir aos filmes (veja serviço). Não inscritos também podem participar, e serão encaminhados para a sala por ordem de chegada. Todos os filmes têm legenda em português.

Entrou feioso no blog mas quebra um galho. Para guardar e discutir (já que não tem como no site da Gazeta).

terça-feira, 17 de julho de 2012

Cineclube Sesi apresenta: "Um Cão Andaluz" de Luis Buñuel e Salvador Dali

Nesta quinta (dia 19), às 19h30, o Cineclube Sesi estréia com uma programação especial. A abertura do ciclo "Obscuro Objeto: o Cinema de Luis Buñuel" começa com uma conversa-palestra intitulada "Do Amor e da Morte: Buñuel e o Surrealismo", seguida da exibição de "Um Cão Andaluz" e do debate em língua espanhola sobre o filme.


Sobre "Do Amor e da Morte: Buñuel e o Surrealismo":
Ao lado de Karl Marx, Sigmund Freud foi o grande tradutor, ainda no século XIX, do que seria a vida no Ocidente do Século XX. Podemos afirmar que grande parte de nossa experiência em sociedade, de nossas pretensões humanas, e de uma gorda fatia de nossas expressões artísticas, interagem com as noções de inconsciente, trauma, sublimação, pulsões e neuroses. Barro fundamental da primeira psicanálise.
A ideia de que somos regulados por elementos anteriores à nossa Razão e que grande parte de nossas escolhas resultam de necessidades íntimas, socialmente condenáveis, oferecia uma resposta libertadora à permanente hipocrisia em que se fundamentou  nossa civilização.
Ao mesmo tempo a sétima arte nascia trazendo sexo e violência para os espetáculos populares e eruditos, fascinando o jovem Luis Buñuel, então apenas o filho tímido de um rico proprietário no medieval município de Calanda, Espanha. Como todo espanhol provinciano, Buñuel cresceu sob a influência repressora da Igreja Católica. E como todo burguês foi conduzido pelo pai a escolher uma profissão e estudar na capital. Em Madri, Buñuel desenvolveu o gosto pela liberdade.
Nos anos 20 em Paris, ingressava já totalmente corroído pelo amor à vida, no escandaloso círculo de André Breton: o Movimento Surrealista; que mais do que nenhuma outra vanguarda artística, interagia despudoradamente com o repertório e o método freudiano.
Para Buñuel, o Surrealismo era mais que um projeto ético-estético, era um projeto de vida, que o acompanhou do primeiro ao último feito cinematográfico. Com liberdade total ou nenhuma, na forma clássica ou moderna, seu cinema sempre lançou luz às dimensões sombrias da experiência humana.
A palestra “Do Amor e da Morte: Buñuel e o Surrealismo” pretende investigar de que maneira as pulsões básicas (eros, ou pulsão sexual, para a vida, e tânatos, ou pulsão agressiva, de morte) são determinantes na trajetória de Buñuel e matéria-prima para a criação cinematográfica do autor, especialmente em suas fases surrealista e mexicana.

Sobre "Um Cão Andaluz":
Nenhum filme materializou tão precisamente o ideário surrealista quanto “Um Cão Andaluz”, de Luis Buñuel e Salvador Dalí. Em pouco mais de quinze minutos somos arremessados em uma realidade reconfigurada, na qual os objetos do cotidiano perdem sua familiaridade, estabelecendo aproximações incomuns. Parafraseando Arnaldo Antunes, a mão cheia de formigas pode ser chamada de axila, que pode ser chama de ouriço, que pode ser chamado de cordão de isolamento policial. São as coisas da vida em permanente revolução.

Textos: Miguel Haoni
(Cineclube Sesi, 2012)

Serviço:
dia 19/07 (quinta)
às 19h30
na Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema FIEP
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA

Realização: Sesi
Parceria:Instituto Cervantes 
Apoio: Processo Multiartes

Programação completa do "Obscuro Objeto" no site do Sesi:

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Cineclube Cinemateca - "Filme de Amor"



Neste sábado, 28 de julho de 2012, às 13:00, na Cinemateca de Curitiba (Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco, Curitiba)

FILME DE AMOR
(2003, Brasil, 90 min, Ficção)
Direção de Julio Bressane
DVD
Entrada Franca

Cineasta de obra marcadamente autoral, Júlio Bressane é reconhecido internacionalmente como responsável por filmes de narrativa não convencional e de temática sofisticada. Filme de amor, vencedor dos prêmios de melhor filme, fotografia e trilha sonora no Festival de Brasília, em 2003, está perfeitamente inserido no diálogo promovido pelo diretor, ao longo de sua carreira de quase 30 longas-metragens, entre cinema e literatura. A ideia central, seja quando fala da História, de personagens notáveis ou do desejo — como é o caso deste filme —, é criar uma relação entre a palavra falada e a imagem, sem lançar mão de uma retórica reiterativa. Aqui, ele busca referências no mito das Três Graças (o amor, a beleza e o prazer) e na filosofia árabe para estabelecer esse laço.

Após a sessão teremos um debate sobre o filme mediado por
Miguel Haoni (Coletivo Atalante).

Miguel Haoni é cineclubista, ex-diretor da Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema e coordenou os projetos "Cine Uepa", "Cinema na Casa", "Cine CCBEU", "Cineclube do Colégio Sucesso" e o projeto "INOVACINE-FAPESPA", além de participar dos projetos "Cine EGPA", "Sessão Maldita", "Cineclube da Aliança Francesa", "Coisas de Cinema" e "TV Clube" e escrever crítica de cinema para o Jornal Amazônia. Atualmente mora em Curitiba,e coordena o Coletivo Atalante com o qual organizou as mostras "(Trans)cinema: diálogos entre cinema, artes e outros saberes" e "A Televisão Levada a Sério". Atualmente produz o Cineclube SESI.

Lembrando que o cineclube da Cinemateca acontece todo último sábado do mês.


Sobre "Filme de Amor":
Julio Bressane concebe seus filmes como jogos. Jogos eróticos, engraçados e ameaçadores, em que os participantes tomam seus lugares sem saber como tudo terminará, mas disponíveis sempre a perder tudo.
Em "Filme de Amor" (2003), uma de suas experiências mais misteriosas e sensoriais, o cineasta reencontra aquilo que para ele sempre foi o traço mais expressivo do jogo cinematográfico: a arte da mise-en-scène. Em composições hipnóticas, que emulam a iconografia religiosa (cristã e pagã), Bressane distribui suas peças (duas mulheres e um homem) em místicos tableux vivants, que passeiam vertiginosamente pela história da arte.
Estes atores entram no jogo com suas vozes sujas de uma teatralidade sardônica, que contrasta com seus corpos reais, objetos de uma exuberante e prosaica beleza.
A Beleza no prosaico, talvez seja a grande busca do filme como um todo. A música, o cenário e a fotografia, o tempo inteiro encontram a decrepitude no sublime e vice-versa. O mundo de fora e o mundo de dentro em permanente choque cósmico.
Para o espectador, resta perder-se ou encontrar-se nos estilhaços embriagados, assustadores, pornográficos de "Filme de Amor". Perder tudo para encontrar tudo.

Miguel Haoni
(Atalante, 2012)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Cineclube Sesi estréia dia 19 com ciclo em homenagem a Luis Buñuel



Sobre "Obscuro Objeto: O Cinema de Luis Buñuel"
Porque homens e mulheres buscam tão ardentemente a liberdade? Talvez porque através dela possamos atingir a plenitude de nossa condição. Talvez porque sem ela sejamos apenas o esboço de potências direcionadas a lugar nenhum. Talvez ainda, porque apenas nela e com ela a realidade se revele em sua inteireza. Mas, liberdade para quê? E qual realidade estamos buscando?
Liberdade e Realidade. Na história do cinema ninguém se viu tão perdido nestas veredas quanto Luis Buñuel. Desde antes de sua estreia ao lado do conterrâneo Salvador Dalí em "Um Cão Andaluz"(1928) até depois de sua aposentadoria no cinema, nos anos 1980, isto sempre constituiu o obscuro objeto que o velho mestre desejou.
Junto ao "Comando dos Putrefatos" (Dalí, Pepin Bello, Rafael Alberti, José Bergamin e Federico Garcia Lorca), ainda nos dias de estudante em Madri, Buñuel já exercia a vontade de romper com os limites castradores da sociedade, em peças escandalosas, num Surrealismo avant la lettre.
O que seria o Surrealismo, então, senão a revelação, a partir do uso inconsciente da linguagem, desta realidade livre das amarras da razão? Para o grupo de André Breton em Paris, o qual Buñuel integraria na segunda metade dos anos 1920, o artista deveria empreender a libertação absoluta dos signos e a partir dela encontrar a poesia inerente nos objetos, nas coisas e nos homens. A liberdade criativa era o primeiro passo para a constituição de uma nova sociedade.
A revolução, porém, não chegou para aquela geração. Apesar do sucesso estrondoso das obras, a mudança radical nos valores com que sonhavam os surrealistas, não ocorreu. Ninguém amargou mais este trauma que Buñuel. Tendo que ganhar a vida como funcionário de estúdios hollywoodianos, separado de sua terra e amigos pelo regime sanguinário do General Franco, Buñuel abandonou o cinema por quase vinte anos, até que a oportunidade de produzir no México reacendeu as velhas brasas.
No México, Buñuel produziu melodramas e filmes comerciais de gênero. Pelo menos é o que diriam espectadores desatentos. Nos subtextos, porém, toda a poética feroz dos primeiros filmes permanecia intacta. As condições de produção dos estúdios mexicanos não lhe garantiam a "velha liberdade", mas o instigou a inventar uma nova, na qual lhe foi permitido dizer tudo, desde que sorrateiramente. Em filmes como "Ensaio de um Crime", "O Alucinado", "Subida ao Céu" e "A Ilusão Viaja de Trem", a fina ironia substituiu o riso de escárnio.
Mas para Buñuel era pouco e, graças à calorosa recepção da crítica internacional na ocasião da "descoberta" de sua obra mexicana, Buñuel cavou sua fuga para um sistema de produção mais aberto à experimentação estética. O que resultou num retorno à França, trinta anos depois, e muitos filmes-chave para o Cinema Moderno, como "A Bela da Tarde", "O Discreto Charme da Burguesia" e "Esse Obscuro Objeto de Desejo" - que, a propósito, empresta o nome para este ciclo.
Nas próximas três semanas (re)encontraremos Buñuel na sua estreia heróica ("Um Cão Andaluz", 19/07) e em dois títulos significativos de uma "fase de transição" entre a produção mexicana e a francesa ("Viridiana", 26/07 e "O Anjo Exterminador", 02/08). Estes filmes nos mostram o quanto o Surrealismo foi essencial na revelação do Homem interior, escondido nos sonhos e alucinações e como a busca a contrapelo pela liberdade (mais que seu pleno exercício) foi o motor para uma das obras mais importantes da história do cinema. Um cinema obscuro, mas iluminador.

Miguel Haoni
(Cineclube Sesi, 2012)



Sobre o Cineclube Sesi:
Cineclube Sesi é a mais nova ação arte-educativa do Serviço Social da Indústria que, através da exibição regular de títulos essenciais da cinematografia local, nacional e internacional e de conversas sobre o cinema e suas inumeráveis dimensões (linguagem, história e cultura por exemplo), se configura como lugar privilegiado para a introdução e aprofundamento da reflexão crítica.
Concebido como espaço informal de educação, o cineclube foi, historicamente, um dos grandes colaboradores para o desenvolvimento da expressão cinematográfica, seja como “escola de cinema” para gerações de cineastas do mundo todo, seja como fórum agregador de olhares e discursos sobre os filmes. Na sua dinâmica, não existe a hierarquia professor-aluno e todos os participantes são convidados a se envolver organicamente no processo de construção do conhecimento. Para os coordenadores do Cineclube Sesi esta estrutura democrática é essencial visto que o compartilhamento de experiências e perspectivas numa sociedade cada vez mais individualista, carente de trocas e embrutecedora é um ato político urgente. E nada mais apropriado do que colocar o cinema no centro deste processo.
Os filmes, como todas as obras-de-arte, são portais para universos poéticos enriquecedores e convites permanentes para conhecermos as expressões culturais de diversos povos (inclusive o nosso), visto que na ampliação de nosso repertório vale tanto a (re)descoberta dos “clássicos” quanto um mergulho nos mais recentes experimentos.
Cabe ressaltar, entretanto, que a dimensão educativa do projeto baseia-se também na ativação não apenas do conhecimento intelectual, mas, sobretudo do conhecimento sensível, num modelo didático inspirado na paixão e na criação artística, que não reduz o filme a recurso pedagógico para nobres saberes e nem se furta ao prazer da investigação estética.

Cineclube Sesi funciona às quintas-feiras, 19:30, no Espaço Multiartes da Fiep (Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico). Sempre com entrada e conversa franca.


Cineclube Sesi apresenta
Obscuro Objeto: o Cinema de Luis Buñuel

19/07 - Palestra: Do Amor e da Morte: Buñuel e o Surrealismo
           "Um Cão Andaluz" 

26/07 - "Viridiana" 

02/08 - "O Anjo Exterminador" 

(*Exibição seguida de bate-papo em língua espanhola)

Serviço:
Sessões às quintas-feiras
19h30
Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema Fiep
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA

Realização: Sesi
Parceria:Instituto Cervantes 
Apoio: Processo Multiartes

Conheça outras atividades do Sesi:http://www.sesipr.org.br/cultura/