Coletivo Atalante


Formado em fevereiro de 2012, o Coletivo Atalante é resultado do encontro de um grupo de estudantes e profissionais de arte que reconheceram a necessidade urgente de dividir suas pesquisas e reflexões através de um novo modelo de educação.
A imagem da embarcação que protagoniza o filme francês de 1934 sintetiza estas pretensões: uma estrutura sólida que desliza, flui por diversos canais num permanente movimento e que eventualmente ancora redefinindo paisagens e percepções. As relações entre artes, ciências, filosofias e saberes são ao mesmo tempo porto e passagem, caminhos a percorrer e desenhar. Tal fluidez também contamina a estrutura humana do coletivo: não existem limites entre observadores e tripulantes, professores e alunos. Todos estão juntos no desbravamento de novos territórios.
O Atalante como organização, porém, se estrutura sobre alguns princípios: em primeiro lugar trata-se de um grupo de trabalho e não de um grupo de estudos. É a materialização de pesquisas individuais ou coletivas através de "ações" que vão de saraus poéticos, mostras de cinema, cursos e oficinas, a intervenções artístico-filosóficas em espaços públicos (materiais e virtuais). Os limites se definem pelas disposições dos integrantes e as necessidades da comunidade.
O projeto visa também a democratização do acesso a artes e saberes que estão enclausurados nas torres de marfim acadêmicas e nos nichos profissionais. A informação é livre e o conhecimento precisa ser compartilhado, preferencialmente, em espaços educativos não-oficiais onde a estrutura hierárquica pode ser desobedecida e o processo de apreensão é mais democrático.
É essencial portanto compreender a dimensão política da apropriação do conhecimento artístico. Algumas obras (especialmente as que ainda serão produzidas) possuem um poder radical de libertação das nossas prisões conceituais, nos municiam com um repertório amplo de experiências, alimentam nosso espírito para os enfrentamentos da vida. Isto precisa estar acessível a todos. O que os artistas comunicam não pode ser reduzido a "biscoito fino" para determinadas elites intelectuais. E aí surge o arte-educador como um facilitador neste processo. Através de uma mediação sensível muitos podem descobrir aquilo que lhes foi historicamente negado por um sistema aprisionador e alienante. É o velho e honesto clichê do "comida, diversão e arte".
A dimensão militante do projeto não se enquadra, contudo, numa cartilha paralisada. Ao tratar da matéria poética, o Atalante precisa operar sobre rituais mais livres, usando a irreverência, a agressividade e o lirismo como ingredientes para os processos educativos. Nitidamente o rock'n roll está no DNA do projeto.
Por último, o coletivo se constrói na confluência de olhares, na multiplicidade que se manifesta em suas práticas. O direito, a arquitetura, as artes plásticas, a literatura e o cinema são apenas o ponto de partida.
Para onde iremos? Estamos sempre voltando para casa...

2 comentários:

  1. "[...]O que os artistas comunicam não pode ser reduzido a "biscoito fino" para determinadas elites intelectuais[...]".

    A margem de inúmeras discordâncias sobre um texto industrialmente pré-fabricado - esse sim biscoito fino - o que não compreendo é esse ranço infundado que pseudo-artistas-militantes possuem em relação aos intelectuais... além disso, COMO convencer-me da seriedade de tal projeto, se, AO MESMO TEMPO em que se propõem "arte-educadores", "paladinos da cultura do povo" (e para o povo), realizam seus eventos DENTRO de um café/bistrôt, cujas estufas se entopem de guloseimas finas que, definitivamente, NÃO É para o povo. Que "ruptura radical com as linguagens" (sic) é essa? Porque não fazem eventos na rua? Ou na periferia? Porque numa tela de cinema e não em um lençol? Porque a tela é branca ou retangular? Enfim... de qual ruptura estamos falando aqui? Existem vários coletivos país afora, garganteando poesias, miltâncias e ideais revolucionários, porém, de pouco (ou nenuhum) efeito prático. Enquanto isso, a dita "cultura" continua confinada em "guetos" decorados de croissant e cappuccinos. Vida longa ao Atalante!! A História os absolverão. Abraço.

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  2. Em primeiro lugar preciso te agradecer pela violência na argumentação. Agora sim! Sempre soube que o conflito era essencial para qualquer busca. Fora isso trazes coisas super pertinentes, colocadas de maneira apropriadíssima (lembrei de mim quando tinha todo o tempo do mundo em Belém). O fato de tu ter te disposto a fazer a crítica à nossa postura/discurso me entusiasmou tanto que eu te convido (independente da briga no mundo virtual) a tomar um chá com biscoitos e produzirmos alguma coisa em parceria (como diria um velho amigo: se queres ajudar, vamos colar cartazes na periferia)a não ser é claro que prefiras ficar gastando energia por aqui, neste caso não serás o primeiro nem o último doidinho da internet que cruza nosso caminho.

    Vamos lá:
    1 - O texto é um texto. Haverão outros. E existe discordância mesmo dentro do coletivo sobre os discursos que ele agrega.
    Agora, ele é industrialmente fabricado aonde?
    2 - Eu adoro os intelectuais. Eles verificam se eu to escrevendo com o português direitinho.
    3 - Não pretendemos convencê-lo de nada. Ainda estamos no processo . Como diria o Raul: "não sei onde to indo mas sei que to no meu caminho"... ou como diria o Glauber:"Sou um artista. Não me exija coerência!" Apesar de que nesse caso é bem simples argumentar: somos novos na cidade e estamos experimentando os espaços, estabelecendo laços com instituições/grupos/pessoas que podem ser interessantes para projetos futuros ou não. Este mês foi o Espaço de Arte, o DCE da UFPR, Casa Selvática e Coletivo Maio. Para o mês (se tudo der certo) faremos alguma coisa com a Urgentepalestina e a Bicicletaria Cultural. Em breve vamos fazer trabalhos com a FAP, com a UFPR, Fundação Cultural, Cineclube da Lapa e por aí vai. O plano é disseminar esse trabalho em várias pequenas ações (as quais, a propósito, nunca foste, mas és mais que bem vindo).
    4 - Também temos críticas ao Espaço de Arte(e o Espaço de Arte também tem críticas ao Atalante), mas desenvolvemos esse diálogo com franqueza e tranquilidade. Se me incomodam alguns rituais da casa, isso é pouco perto da estrutura massa do auditório e da liberdade com que estamos conduzindo este trabalho (insisto, que precisas ver).
    5 - Fazer eventos na rua, na periferia e com lençol exige uma infra (projeção de imagem e som) da qual nós não dispomos. Se tiveres o equipamento para nos emprestar fazemos HOJE a ruptura que estás exigindo.
    6 - A propaganda é essencial, mas o nosso foco é a prática. O blog é só uma dimensão deste trabalho e talvez a menos interessante. Te recomendo que conheças o projeto em ação antes de qualquer julgamento.
    7 - Vida longa ao rock'n roll!

    Miguel Haoni

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