quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Cineclube do Atalante: Cidade das mulheres

Neste sábado, às 16h, na Cinemateca de Curitiba. Sempre com entrada franca e seguido de conversa!



Sábado, 23 de agosto:

CIDADE DAS MULHERES
Dirigido por Federico Fellini.

(La città delle donne, Itália, 1980, 140 min., drama/comédia, 16 anos.)
Com Marcelo Mastroianni, Donatella Damiani, Bernice Stegers, Anna Prucnal.

O sonhador Snàporaz é seduzido por uma bela mulher durante uma viagem de trem. A sensual moça auxilia o rapaz a idealizar uma fantasia, metade sonho, metade pesadelo, na qual é o único homem em uma cidade repleta de mulheres. Nesse universo novo, Snàporaz é simultaneamente reverenciado e julgado.


Serviço:

CINECLUBE DO ATALANTE
“Cidade das mulheres” (1980), de Federico Fellini
Sábado, 23/08
Às 16h
Na Cinemateca de Curitiba
(Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco)
(41) 3321-3552
ENTRADA FRANCA 

Design: @ogalsouza e @gw.vargas
Realização: Coletivo Atalante


 


quinta-feira, 31 de julho de 2025

Cineclube do Atalante: A Rua da Vergonha

Neste sábado às 16h na Cinemateca de Curitiba. Sempre com entrada franca e seguido de conversa!

Sábado, 02 de agosto:

A RUA DA VERGONHA
Dirigido por Kenji Mizoguchi.

(Akasen chitai, Japão, 1956, 87 min., drama, 14 anos.)
Com Machiko Kyo, Ayako Wakao, Hiroko Machida.

A trajetória e histórias de vida de diversas prostitutas que se encontram nos arredores de um famoso bordel em Tóquio, no Japão. A "Terra dos Sonhos", como era conhecida a casa, abriga diversos dramas que são trazidos à luz.

Serviço:

CINECLUBE DO ATALANTE
“A Rua da Vergonha” (1956), de Kenji Mizoguchi
Sábado, 02/08
Às 16h
Na Cinemateca de Curitiba
(Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco)
(41) 3321-3552
ENTRADA FRANCA 

Design: @ogalsouza e @gw.vargas
Realização: Coletivo Atalante

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Cinefilia, um bastião masculino a desconstruir

por Axelle Ropert

Não é fácil ser uma cinéfila feminista hoje em dia. Não vamos medir palavras: o ato poderoso de Judith Godrèche[1] nos obriga a questionar as ideias daqueles líderes de pensamento que construíram uma certa história do cinema – fundada em outra forma de poder, a masculina. É preciso ser feminista.

Contudo, criticar "o sistema" reduzindo-o aos supostos vícios do cinema de autor é completamente equivocado. A política dos autores nascida na década de 1950, aquela que conseguiu conceituar o cinema clássico e lançar o cinema moderno, não tem nada a ver com a promoção do poder masculino. Tratava-se principalmente de dar ao cinema, então considerado uma "arte incompreendida", o devido reconhecimento e colocar o diretor, antes visto como um mero empregado, no centro da obra. Nada mais, nada menos. É preciso ser cinéfila.

Vamos tentar fazer um inventário

Podemos ser simplesmente feministas para os casos espetaculares de abuso e estritamente cinéfilas para os outros? Não. Tudo está interligado. Como cinéfila desde a adolescência e feminista já há alguns anos, eu me coloco muitas perguntas.

Estamos em 2024. Vamos tentar fazer um inventário. Nenhuma mulher dirigindo um grande festival de cinema, nenhuma mulher à frente da Cinemateca Francesa (e uma desde 2021 no Institut Lumière). Nenhuma cineasta com o nome de uma autoridade como as vozes internacionais de Scorsese ou Tarantino. À frente das principais revistas cinéfilas francesas: nenhuma mulher liderando a Positif, uma mulher apenas nos últimos dois anos à frente dos Cahiers du Cinéma, quase nenhuma mulher liderando as inúmeras revistas cinéfilas e periódicos de prestígio criados desde a década de 1950. Uma mulher está no comando do Masque et la Plume há alguns meses, apesar de sua existência completar… 69 anos.

Nenhuma crítica francesa reconhecida no nível da americana Pauline Kael, nenhum livro sobre cinema francês escrito por uma mulher que se tenha tornado referência. Nenhuma (importante) história do cinema escrita por uma mulher. Onde estão os equivalentes de obras de nossas amigas críticas a "O Travelling de Kapò", "montagem proibida", "cinema filmado" e "o travelling é uma questão de moral" escritas por mulheres? Apenas Nicole Brenez conseguiu emergir, mas no campo bastante circunscrito do cinema experimental.

Os únicos conceitos que conseguiram deixar uma marca, como o "male gaze" de Laura Mulvey, são marcados com o rótulo de "feminista" – ou seja, um presente envenenado: um conceito feminista não pode ser um conceito cinéfilo. As raras ocasiões em que uma mulher tenta questionar formas de dominação masculina em filmes (obrigada, Laure Murat, obrigada, Iris Brey): zombaria imediata, desqualificação por princípio. Uma feminista só pode ser considerada intelectualmente deficiente em termos de cinefilia.

É um deserto. Posições de poder, materiais e simbólicas, bem como o campo das ideias, escaparam às cinéfilas: o que aconteceu?

E, no entanto, somos a anti-Mia Farrow em A Rosa Púrpura do Cairo: o que nos faz sonhar não é de maneira alguma entrar no filme, mas sim escrever sobre ele.

Então, a cinefilia é um assunto para homens?

Certamente, seria necessário realizar uma análise minuciosa dessa história: a história dos Cahiers du Cinéma não é a mesma que a dos Positif, nem a mesma que a da Première ou Starfix. Um Michel Ciment não tem nada a ver com um Jean-Claude Biette, um Narboni com um Jean-Baptiste Thoret, um Christophe Gans com um Jacques Lourcelles, um Tavernier com um Moullet[2]. Colocar todos juntos seria cometer uma grande justiça intelectual; a história dessas diferenças também é uma história de grande complexidade.

Um jogo com suas regras, suas punições, suas recompensas

Mas, ainda assim, o que deu errado para que tão poucas mulheres entrassem nesse jogo? Porque, sim, a cinefilia é de fato um jogo, com suas práticas, suas regras, suas exigências, suas punições, suas recompensas. Essencialmente, são os homens jovens que passam a vida na Cinemateca. Às vezes, há garotas jovens, muitas vezes silenciosas por meses – eu só ousei entrar na cinefilia “acompanhada” por dois meninos.

A cinefilia envolve atos de classificação: listas, rankings, fichas informativas. Organizamos o mundo, o miniaturizamos, o encaixamos em caixinhas.

A cinefilia é uma relação muito particular com o tempo: infinita e repetitiva. Discutir um filme por horas, assisti-lo 256 vezes, pensar nele por dez anos. É o tempo de maceração, cristalização, reavaliação que faz o trabalho do pensamento cinéfilo, e é por meio dessa relação com o tempo que os textos mais profundos são inventados.

A cinefilia é uma relação com a vida baseada em uma rejeição radical. É porque não gostamos da vida que somos cinéfilos, e a sala escura do cinema é acima de tudo um refúgio com as costas para o mundo exterior. Grandes cinéfilos são indivíduos aterrorizados pela "vida real" – e essa é a grandeza deles, sua verdade, seu heroísmo bizarro também, e como eles estão corretos.

Classificar, repetir, fugir: por que nós mulheres não seguimos esse triplo movimento do grande gesto cinéfilo? Eu diria que a vida material, tal como se impõe às mulheres, é o que nos impediu: enquanto vocês listavam seus dez melhores filmes de Preminger, nós fazíamos a lista de compras. The Human Factor versus Canard Gel WC[3]. Enquanto vocês reviram Vertigo pela 356ª vez, nós também revisamos, pela 356ª vez, os verbos do presente do indicativo para o nosso filho de 8 anos. Alfred H. versus a lição de casa da Sra. Quentin para o segundo ano. Enquanto vocês escapavam da realidade trancando-se em um cinema, fomos obrigadas a organizar as férias de verão.

Odiamos a vida prática tanto quanto vocês. Odiamos a realidade e suas obrigações entediantes, queremos sonhar acordadas sem parar em uma sala escura de cinema, mas não tínhamos escolha: em algum momento, tivemos que voltar, porque as mulheres são sempre chamadas de volta pela vida prática, pela vida física, pela vida em geral. Desde que tive filhos não assisto a uma retrospectiva completa na Cinemateca, é uma queda livre, sei que regredi e agora conheço o corredor de compras do meu Franprix[4] melhor do que o jogo de encontrar as diferenças entre as versões de 1939 e 1957 de Love Affair – que vergonha.

Uma lendária e beligerante cartografia

A cinefilia é uma lendária e beligerante cartografia com acampamentos, mestres, estratégias, derrotas, vitórias e batalhas. É emocionante, e eu jamais diria que é trivial ou imatura. Por que nenhuma de nós se tornou General? Provavelmente uma questão de prioridades: a reserva de agressividade que vocês colocam em batalhas cinéfilas é mobilizada em outro lugar para nós. Estamos ocupadas resistindo em outro lugar. Para batalhas muito menos nobres, muito mais triviais – não sermos assediadas, agredidas, estupradas, por exemplo. Sim, o argumento pode constranger, mas é verdadeiro. Vocês podem empregar sua energia combativa a questões externas em sua vida cotidiana, nós não.

E então, ainda mais profundamente, não apenas quanto às práticas cinéfilas, mas também sobre a sua essência – a cinefilia não foi sempre postulada como masculina? Partindo da premissa de que só os homens entenderiam verdadeiramente o cinema – porque não somos perversas o suficiente, obcecadas o suficiente, mórbidas o suficiente, órfãs o suficiente, clandestinas o suficiente, saudáveis ​​demais, vivas demais, integradas demais, normais demais. Bobagem, claro, vocês subestimam demais a escuridão da nossa psique.

A cinefilia não se baseia na homofilia, um mundo espelhado melvilliano onde os efeitos do reconhecimento masculino brilham, onde os homens se reconhecem como semelhantes e solidários, e onde o gênero feminino é majoritariamente ignorado?

Receio que sim.

Deveríamos nos aprofundar no caso de Serge Daney, o maior crítico teórico francês. Li e reli-o com paixão, e, no entanto, ele certamente contribuiu para tornar a cinefilia algo exclusivamente masculino. Será que seu conceito de "ciné-fils" (cine-filho), tão rico, tão profundo, não nos excluiu ao fazer da cinefilia uma história de linhagem estritamente masculina? De pais, filhos, irmãos? Ele não colocou de fato a impossibilidade de sua versão feminina? Pode uma "ciné-fille" (ciné-filha) existir dentro de seu sistema, privada como está de validade histórica, sexual, existencial e dramática? Duvido.

Então, sim, tristeza: a cinefilia não nos foi muito acolhedora.

A história do cinema foi tecida com o sangue das atrizes

E uma raiva tremenda: se há uma área em que a cinefilia errou grosseiramente foi na questão do corpo feminino – neste caso, o da atriz. Como vocês, eu colecionava fotos de atrizes, mas, diferentemente de vocês, fiquei imediatamente revoltada com os maus-tratos que notava por trás dos filmes. Em trinta anos de cinefilia, não ouvi um único questionamento profundo sobre esse assunto, nem uma única palavra de empatia (recordemos do sinistro caso Brisseau em 2003).

Vocês não queriam ver o quanto a história do cinema foi tecida com o sangue das atrizes. Não é por acaso que o escândalo surge agora através da figura da atriz[5], não é por acaso que meu primeiro texto crítico de verdade foi dedicado às atrizes: era o domínio "obscuro" onde havia um novo pensamento para produzir, enquanto meus amigos homens ocupavam o domínio já demarcado da "mise en scène".

Então, vamos propor um axioma: o corpo da atriz é a Pedra de Roseta[6] da cinefilia – através dela, lemos um exercício de admiração, cegueira e sadismo. Uma pedra cujas ambiguidades brilham loucamente. Através dela, tudo é traduzido, tudo é iluminado, tudo faz sentido, três vezes.

Então, sim, a cinefilia é uma prática estimulante. Adorei frequentar sua franja "menor", antissocial, poética e selvagem, que não tem nada a ver com os machos básicos: os Biettes, Guiguets, Vecchialis, Delahayes, Narbonis, Skoreckis – seres secretos, seres da música, seres originais e profundos.

E, no entanto, tem sido fundamentalmente um "assunto de meninos".

Portanto, ainda há perguntas a serem feitas. E se vocês quiserem se aprofundar, talvez possamos dizer juntos: "L'exercice a été profiter, messieurs"[7].

---

Nota da autora: agradecimentos a Marie S., Elisabeth L., Chloé L., Christine M., Blandine L.

Axelle Ropert (Paris, 1972) é cineasta, roteirista, jornalista, crítica de cinema e ex-editora da revista La Lettre du cinéma. Escreveu e dirigiu os filmes Étoile Violette (2004), Mostre a língua, moça (2013, cujas imagens ilustram esta postagem), Petite Solange (2021), dentre outros.

Publicado originalmente em 4 de abril de 2024 no jornal Libération (https://www.liberation.fr/idees-et-debats/tribunes/la-cinephilie-un-bastion-masculin-a-deconstruire-20240404_5UQLIK2VPNE6NANVVFXTWJAWIM/) e traduzido para o inglês por Jhon Hernandez para a revista The Lucky Star em setembro do mesmo ano (https://theluckystarfilm.net/2024/09/09/translation-corner-axelle-ropert-on-metoo-judith-godreche-cinephilia-and-more/), versão em que se baseou esta tradução realizada por Giovanni Comodo por não haver a íntegra em francês disponível para não-assinantes do jornal.



[1] Judith Godrèche (Paris, 1972) é uma atriz francesa que veio a público denunciar abusos sexuais e psicológicos que sofreu quando adolescente por dois diretores franceses de renome, Benoît Jacquot (conhecido por, dentre outros, Adeus minha rainha, 2012) e Jacques Doillon (conhecido por, dentre outros, Rodin, 2017), o que despertou uma série de denúncias de abuso na França e o questionamento da autoridade dos diretores homens em sets de filmagens e no sistema do cinema francês, em um ponto de virada do movimento #MeToo no país (N. do T.).

[2] A autora cita uma série de publicações e críticos franceses de diferentes matizes, épocas e públicos (N. do T.).

[3] Produto de limpeza desinfetante de banheiro popular na França, cuja marca é vendida no Brasil como Pato Limpeza Profunda Gel (N. do T.).

[4] Rede de supermercados francesa (N. do T.).

[5] Retomando Judith Godrèche do início do texto (N. do T.).

[6] A Pedra de Roseta é um fragmento de uma coluna egípcia com inscrições em três escritas diferentes: hieróglifos, demótico e grego antigo. Descoberta no Egito em 1799, a pedra foi crucial para a decifração dos hieróglifos (N. do T.).

[7] A frase “O exercício foi um sucesso, senhores” faz referência ao livro “L'exercice a été profitable, messieur” (1993) de Serge Daney, publicado postumamente, mantido na tradução para o inglês (N. do T.)


quinta-feira, 24 de julho de 2025

Cineclube do Atalante: Variety

 Neste sábado às 16h na Cinemateca de Curitiba. Sempre com entrada franca e seguido de conversa!


Sábado, 26 de julho:

VARIETY
Dirigido por Bette Gordon.

(Variety, Estados Unidos, 1983, 97 min., drama, 16 anos.)

Com Sandy McLeod, Nan Goldin, Luis Guzmán.

Christine, uma jovem inteligente e modesta, aceita um emprego como vendedora de ingressos em um cinema pornô perto da Times Square. Em vez de se distanciar da natureza sombria e erótica do ambiente do cinema, Christine logo desenvolve uma obsessão que começa a consumir sua vida.

Serviço:

CINECLUBE DO ATALANTE
“Variety" (1983), de Bette Gordon
Sábado, 26/07
Às 16h
Na Cinemateca de Curitiba
(Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco)
(41) 3321-3552
ENTRADA FRANCA

Design: @ogalsouza e @gw.vargas
Realização: Coletivo Atalante



quinta-feira, 10 de julho de 2025

Cineclube do Atalante: Everybody wants some!!

 Neste sábado às 16h na Cinemateca de Curitiba. Sempre com entrada franca e seguido de conversa!


Sábado, 12 de julho:

EVERYBODY WANTS SOME!! (JOVENS, LOUCOS E MAIS REBELDES!!)
Dirigido por Richard Linklater.

(Everybody wants some!!, Estados Unidos, 2016, 117 min., comédia, 14 anos.)

Com Blake Jenner, Zoey Deutch, Ryan Guzman.

O filme acompanha os relacionamentos do jovem Jake, que começa a estudar em uma universidade americana em 1980 e vai morar em uma república com os jogadores do time de beisebol. Eles navegam a liberdade, a responsabilidade e as descobertas de sua nascente vida adulta.

Serviço:

CINECLUBE DO ATALANTE
“Everybody wants some!!” (Jovens, loucos e mais rebeldes!!) (2016), de Richard Linklater
Sábado, 12/07
Às 16h
Na Cinemateca de Curitiba
(Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco)
(41) 3321-3552
ENTRADA FRANCA

Design: @ogalsouza e @gw.vargas
Realização: Coletivo Atalante


domingo, 29 de junho de 2025

O negro que fala de rios : um poema de Langston Hughes


Para acompanhar a sessão de "
Looking for Langston" (1989) do ciclo Corpo para ver e ser visto, selecionamos um poema de Langston Hughes (1901-1967), artista que inspirou o filme de Isaac Julien:

O negro que fala de rios 
                       (Para W. E. B. DuBois)

Conheci muitos rios:

Conheci rios velhos como o mundo, e mais velhos que o sangue correndo nas veias humanas.

Minha alma sulcou fundo como os rios.

Banhei no Eufrates quando as madrugadas eram jovens.
Fiz minha cabana perto do Congo, que me ninava para dormir.
Vi o Nilo, e ergui as pirâmides para poder contemplá-lo.
Ouvi o Mississippi cantar quando Abe Lincoln desceu para Nova Orleans, e vi suas dobras de lama ficarem douradas com o pôr do sol.
Conheci muitos rios:
Antigos e escuros rios.

Minha alma sulcou fundo como os rios.

Publicado em “The weary blues” (1926), tradução de Gilberto G. Pereira. Disponível em https://ermiracultura.com.br/2023/02/12/cinco-poemas-de-langston-hughes/.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Cineclube do Atalante: Looking for Langston

Neste sábado às 16h na Cinemateca de Curitiba. Sempre com entrada franca e seguido de conversa!


Sábado, 28 de junho:

LOOKING FOR LANGSTON
Dirigido por  Isaac Julien.

(Looking for langston, Inglaterra/Estados Unidos, 1989, 45 min., drama, 16 anos.)
Com Ben Ellison, Matthew Baidoo, Akim Mogaji, John Wilson.

Durante a Harlem Renaissance, um grupo de gays de alta sociedade se encontram em uma trama que mistura imagens de arquivo, sonhos, clubes de jazz e poesias em uma homenagem a Langston Hughes.

Serviço:

CINECLUBE DO ATALANTE
“Looking for Langston” (1989), de Isaac Julien
Sábado, 28/06
Às 16h
Na Cinemateca de Curitiba
(Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco)
(41) 3321-3552
ENTRADA FRANCA

Design: @ogalsouza e @gw.vargas
Realização: Coletivo Atalante

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Cineclube do Atalante: Flesh

Neste sábado às 16h na Cinemateca de Curitiba. Sempre com entrada franca e seguido de conversa!




Sábado, 17 de maio:


FLESH
Dirigido por Paul Morrissey.

(Flesh, Estados Unidos, 1968, 89 min., drama, 18 anos.)
Com Joe Dallesandro, Geraldine Smith, Candy Darling, Jackie Curtis.

Clássico filme produzido por Andy Warhol na virada dos anos 1970 nas ruas de Nova York apresenta um dia na vida de um homem que, desesperado por dinheiro e sem renda, começa a interagir com uma variedade de clientes e traficantes.

SERVIÇO:

CINECLUBE DO ATALANTE
“Flesh” (1968), de Paul Morrissey
Sábado, 17/05
Às 16h
Na Cinemateca de Curitiba
(Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco)
(41) 3321-3552
ENTRADA FRANCA

Design: @ogalsouza e @gw.vargas
Realização: Coletivo Atalante

sábado, 3 de maio de 2025

Corpo [sobre Husbands de John Cassavetes]

 por João Piovan


Mais uma vez retornamos ao evidente interesse de Cassavetes na fisicalidade das ações de seus personagens e retornamos à temática do corpo enquanto veículo de manifestação de gestos, sentimentos e intenções. O “cinema de ação” de Cassavetes é menos impulsionado por uma necessidade narrativa, como provavelmente seria se estivesse mais intimamente ligado ao cinema clássico, e mais vinculado à uma necessidade expressiva, uma forma de sublimar os sentimentos latentes e daí deriva sua intensidade. Ainda dentro desta sequência na casa de banho do bar, Archie acaba por vomitar em seu próprio sapato. Gus expressa um absoluto asco, beirando o completo desespero causado pelo nojo. Narrativamente, esse momento não progride ou acrescenta informações relevantes, mas oferece a oportunidade de Gus, interpretado por Cassavetes, incorporar um certo comportamento, a expressão de um sentimento de horror absoluto e, profundamente, a possibilidade da atuação em plena liberdade.

O corpo masculino surge como veículo ideal para esse cinema, uma vez que mais livre para alcançar seus limites, suspensos de censura, e mais constitutivamente apto para o exercício dos gestos de expressão, comummente violentos, mas também das mais variadas naturezas. Em oposição, dentro da própria filmografia de Cassavetes, temos A Woman Under the Influence, em que a protagonista, interpretada por Gena Rowlands, vive crises nas quais age de forma infantilizada, ou, em outras palavras, expressa um profundo afeto pelo seu marido, pelos amigos do marido ou pelos seus filhos. A esta mulher, cabe ser constantemente podada, constrangida e finalmente internada para retomar seu estado de normalidade. Seja de forma consciente ou não, Cassavetes expressa essas duas diferentes formas de experiência do corpo entre o homem e a mulher, como sintetizado por Simone de Beauvoir em ‘O Segundo Sexo’:

(O homem) Encara o corpo como uma relação direta e normal com o mundo, que acredita apreender na sua objetividade, ao passo que considera o corpo da mulher sobrecarregado por tudo o que o especifica: um obstáculo, uma prisão.” (Beauvoir, 2009, 10-11, o ênfase é meu)


A cena inicial de Husbands oferece um retrato interessante sobre a dúbia relação desses homens com seus corpos. Perante uma concepção ancestral do corpo masculino, como símbolo de poder tal qual nas figurações gregas das divindades, sempre tão cheias de vigor e virilidade física, belos em suas proporções harmônicas e plenos de potência atlética, vemos Archie, Gus, Harry e Stuart celebrando seus corpos ao redor da piscina. Nestas imagens, que passam tal qual slides fotográficos ou uma revisita a um antigo álbum familiar, este grupo de homens exibe seus músculos e celebram seus corpos, orgulhosos e satisfeitos. A contradição, no entanto, é que em pouco podem se comparar com a vigorosidade juvenil ou a plenitude física: sua condição já se aproxima de uma certa decadência, os músculos contraídos apresentam flacidez e a gordura abdominal é evidente. A calvície avança por entre alguns fios grisalhos. Todos esses elementos expressam a contradição entre o ideal masculino e a realidade destes homens, mas que não é motivo de vergonha, pois possuem o privilégio da liberdade. Com isso, nada os impede de exibi-los livremente e expressar, simbolicamente, suas aptidões físicas, e, mesmo que em tom jocoso, gozar.

A resposta de Harry, Archie e Gus para a crise que lhes é imposta se posiciona entre a lógica esportiva e a bélica: necessitam superar seus inimigos particulares (o trabalho, a vida doméstica, a sociedade) e a si mesmos (a insatisfação, a tristeza, o luto) através de vitórias, ou, melhor dizendo conquistas simbólicas que afirmam a sua superioridade e a sua capacidade de dominação. Tal qual Archie diz a Harry, quando questionado sobre a sua indignação sobre aqueles que jogam para ganhar, “If you don't' play to win, why keep scoring?

Esta expressão tão tensa da vida certamente só pode ser aliviada pela amizade, pelo profundo afeto que compartilham. Em conjunto, contam com a compreensão de seus pares, conscientes das que só eles podem compartilhar. Este coletivo, como posto anteriormente por Bourdieu, facilita a expressão da carga à qual esses homens são submetidos, pois unidos podem triplicar suas capacidades de dominação, de expressão da violência e também da sua compreensão mútua. Formam assim um time ou um pelotão, daí também derivam suas inseguranças e desconfianças, advindas do medo da traição ou do abandono. Recusam sua individualidade por que nela são mais frágeis. Eis a contradição: na prisão desta parceria, encontram sua liberdade.


Texto retirado de "
Homens sob influência: a masculinidade em ‘Husbands’ (1970), de John Cassavetes" (Editora Onze Cultural, 2024) de autoria de João Piovan, resultado de sua dissertação de mestrado homônima defendida na Escola Superior de Teatro e Cinema da Politécnica de Lisboa, disponível em e-book pela Amazon.