domingo, 13 de maio de 2012

Texto sobre "A Ascensão de Luis XIV" de Roberto Rossellini (1966)


O absolutismo –  A ascensão de Luís XIV (La prise de pouvoir par Louis XIV). Dir: Roberto Rossellini. França/1966. Cor, 94 min. Com Jean-Marie Patte, Raymond Jourdan, Silvagni e Katharina Renn. Distribuição em DVD: Versátil.

            Roberto Rossellini é um nome chave para o cinema moderno. Primeiramente ajudou a consolidar a estética do neo-realismo italiano, movimento que desglamorizou as bases de produção cinematográfica. Eram filmes rodados numa Itália destruída pós-II Guerra, que incorporamvam as precariedades a mise-en-scène. Nos anos 50, como os outros autores, se desvinculou dessa estética comum a Vittorio De Sica, Luchino Visconti e Giuseppe De Santis e realizou obras de cunho mais existencial, sendo estes uma importante referência para a geração seguinte (cinemas novos dos anos 60). No entanto, Rossellini compreendeu logo no início a força da televisão, e novamente abandono um certo tipo de produção. Ele migrou para esse novo veículo em meados da década de 60 e realizou alguns filmes para a telinha. A série mais famosa são os filmes sobre as vidas de grandes filósofos – Sócrates, Santo Agostinho, Descartes e Blaise Pascal.
            A Ascensão ao Poder de Luis XIV (1966) também foi financiado e exibido pela TV. No Brasil, a distribuidora Versátil inseriu o termo Absolutismo antes do título original, ajudando a contextualizar o rei retratado numa esfera de pensamento e teoria política. O próprio nome do filme é bem pedagógico em sua escolha, Rossellini tinha convicção de que o audiovisual poderia ser utilizado com fins didáticos. O mote é o detalhamento da ascensão do monarca ao trono francês em meados do século XVII. Com o falecimento do Cardeal Mazarin (primeiro-ministro), Luís XIV assume o poder cercado de intrigas e conspirações. Esse filme é um bom retrato da banalização do termo político, em prol de politicagem. O novo rei se mostra hábil em decisões, seduzindo e manipulando seus inimigos políticos. Luis XIV, um dos reis mais poderosos da França foi conhecido como Rei Sol, devido ao seu modo de ser. Rossellini opta por representá-lo em seu microcosmo, esmiuçando o seu luxuoso cotidiano e consequentemente alguns acontecimentos dos bastidores do poder da sociedade da corte. A força do filme consiste em abordar a neutralização política de seus opositores, ilustrando como, por exemplo, ele utilizou o palácio de Versailles. Momentos banais e rituais secos ocupam a maior parte da obra. Rossellini dedica toda uma cena de Luís XIV com sua nova roupa. O final do filme é composto quase inteiramente de um jantar elaborada por Luís. A Ascensão ao Poder de Luis XIV mostra o espetáculo da política em sua forma nua e crua. 

Lucas Murari
(Atalante, 2012)

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