domingo, 7 de outubro de 2012

Texto sobre “Napoleão”, de Abel Gance (1927)


Parece-me que a arte cinematográfica é inerente aos povos do Norte e que nós, latinos, carregados de tradição, de misticismo, de cultura, de êxtase – receptores sensíveis de outras formas de arte – nós somos impedidos de assimilar o cinematógrafo. Cada uma das nossas tentativas afirma ainda mais a superioridade dos povos jovens sobre nós.
Tem-se culpado muito a trivialidade dos filmes americanos em geral. Mas não importa qual, mesmo o mais simples contém sempre uma ingenuidade primitiva, um charme fotogênico integral, um ritmo absolutamente cinegráfico.
Os americanos nos deixam ver a essência do drama – ele não é mais que secundário – e quando efetuam qualquer idéia feliz, não se enganam jamais. Eles não a mostram nunca demais, pois seu modo de ser os conduz sempre mais longe.
É incontestável que eles possuem o sentido do cinema em um grau muito mais elevado que nós.
É bem certo que as pessoas da elite tem uma certa prevenção contra à sétima arte. Mas é igualmente certo que, arrastadas pela correnteza da época, elas se disporão a abrir cordialmente os braços à tentativa tão nobre. Para tanto há de se criar o filme próprio para lhes iniciar nas numerosas possibilidades do cinema. Confiantes talvez na batuta dos críticos mais estimados, os incrédulos têm ido ver Napoleão, e que têm eles deduzido?
Senhores, dizemos a eles, isto não é cinema. É uma injustiça para com o cinema. Vão, antes, vão ver L’Ingénu, filme americano sobre a amazona amorosa cujo final é um beijo discreto, este é menos superficial, fresco, cheio de imagens ritmadas, talhados no momento de uma intuição verdadeiramente cinematográfica.

Luis Buñuel
Cahiers d’Art, n 3, 1927

Tradução de Juliana Fausto
(originalmente publicado em 
http://www.contracampo.com.br/20/napoleon.htm)

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