O Expressionismo chega a Josef Von Sternberg através do contato com o grande encenador Max Reinhardt e de sua curta estadia, a convite deste, em Berlim durante alguns meses de 1926, nos quais, supostamente, teria assistido a tudo do cinema e do teatro alemão. Desta experiência nasceram algumas “visões” que assombram o seu “O Anjo Azul”, única experiência germânica do realizador.
Já no primeiro plano do filme somos lançados em uma fantasmagórica composição de telhados pontiagudos, que remete ao gosto medieval dos vanguardistas alemães. A concepção dos espaços no filme é nitidamente expressionista: as formas tortas e angulosas são o transbordamento visual dos perturbados estados de alma dos personagens. Quando, na primeira parte do filme, o professor Immanuel Rath (interpretado pelo maior ator expressionista, Emil Jannings) caminha tropegamente pelas ruas rumo à taverna, as luminárias e construções bizarramente dispostas representam a antecâmara (sedutora e perigosa) do inferno que o personagem está na iminência de mergulhar.
Nos interiores, o que domina é o jogo de ambiguidades: a austeridade da sala de aula em contraste com o barroquismo de palco e camarim do Anjo Azul. Se num primeiro momento a limpeza e a sobriedade encenada da sala de aula sufocam o professor, é justamente nesta “prisão” que ele procurará a redenção para o seu último suspiro, ao final do filme. Por sua vez, o universo de Lola Lola com seus brilho e véus radiantes encanta (personagem e público) para depois destruir, tal qual a aranha que seduz suas “refeições” pela complexa beleza de suas teias.
O brilho no filme, assim como a escuridão, está em todos os lugares. É a velha construção barroca dos contrastes acentuados, que desde “O Gabinete do Dr. Caligari” (1919), de Robert Wiene, pontua a estética expressionista: luz e sombra podem ser lidas como bem e mal ou sagrado e profano; as forças em eterno conflito na alma humana. O professor é, a princípio, ofuscado por um holofote, que o atordoa. Depois é ofuscado pela pele branca das pernas de Lola, cuja luminescência diáfana o arrebata. Em seguida é arremessado nas trevas da humilhação, para no fim expirar dentro de um recorte ínfimo de luz na escuridão circundante da velha sala de aula.
O movimento dramático-plástico do personagem é o desenho do drama humano segundo o expressionismo: não importa se na luz ou na sombra, o homem ,onde estiver, será sempre as duas.
Miguel Haoni
(Cineclube Sesi – 2012)
(Cineclube Sesi – 2012)
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