sábado, 14 de fevereiro de 2015

Caixa de Surpresas


Pois se o neorrealismo não é o suficiente para explicá-lo, sem o neorrealismo, O Posto não existiria. Nós estamos, ao mesmo tempo, com o neorrealismo e além dele: o futuro dirá se é de um impasse que se trata, ou, ao contrário, de um novo caminho proposto ao cinema italiano.

Do neorrealismo, O Posto conservou o princípio da desdramatização da intriga. Aqui, quase não há história. Mas às propriedades que fundaram a estética neorrealista (prioridade do ator sobre o personagem, do personagem sobre a história, da história sobre o documento), Ermanno Olmi opõem um novo equilíbrio estético. Novamente, o personagem invade o campo, polariza o interesse, distribui em proveito próprio os papéis acessórios. Olmi destruiu o suspense dramático (esta isca que desvia a atenção do essencial), mas o substituiu por um outro, de ordem psicológica, mas que também restringe a liberdade do espectador. Uma vez que ele destrói o espaço (o jovem empregado é quase sempre filmado em primeiro plano), porque rompe com a continuidade temporal, Ermanno Olmi se afirma como o anti-Rosselllini, e O Posto como o anti-Viagem à Itália. O detalhe realista devora o real para terminar por reinventar a intriga. Aqui triunfa sobre as propostas neorrealistas um cinema analítico que deixa para trás o neorrealismo.

Sob está ótica, O Posto é um êxito. O mais sintomático, sem dúvida, do jovem cinema italiano. Afinal, um Bolognini, um Zurlini (depois da esquete profética de Dino Risi em Amor na Cidade) não procedem de outra corrente. Vamos chamá-lo, enquanto outro termo melhor não aparece, de realismo psicológico.

André Labarthe
(Publicado originalmente sob o título “La Boîte à Surprises” na revista Cahiers du Cinéma.)


Nenhum comentário:

Postar um comentário