Os anos 60 representaram uma das maiores crises no cinema hollywoodiano. A auto-censura resultante da histeria anti-comunista, implicou numa defasagem do modelo até então próspero fundado na autonomia dos estúdios. Foi um período de falências, de medidas desesperadas e da fuga de cérebros: Aldrich, Ray, Dassin, Hitchcock, Chaplin, Kubrick, Lang, Preminger, Losey, Welles, Ophuls e Renoir partem (ou retornam) para a Europa junto com um exército de artesãos e artistas insatisfeitos com as condições miseráveis de trabalho nos estúdios sobreviventes. É o fim de um ciclo prolífico.
A política oficial é a dos poucos filmes milionários, dos épicos bíblicos e dos filmes catástrofe concebidos como um contra-ataque gigantesco ao domínio dos pequenos televisores. À margem, pululam produções vagabundas, carregadas de sexo e violência, voltadas para os jovens frequentadores de drive-ins, que encontraram na esperteza e sensibilidade de Roger Corman um modelo a ser seguido.
Em outro extremo, cresciam as art houses, bem como os festivais de documentários e curta-metragens. Os filhos do baby-boom pós-45 eram agora hippies, maoistas, rockeiros, feministas, anti-vietnã e seu fascínio se voltava antes para os Cinemas Novos (francês, brasileiro, italiano, japonês, sueco) do que para o gatilho civilizatório de um sexagenário John Wayne.
Quem eram neste contexto os que insistiam na profissão de um cinema comercial estética e criticamente relevante? O limbo entre os exploitation movies e os espetáculos em cinemascope era ocupado por um time estranho, desarticulado, obscuro e fascinante. Muito jovens para a Hollywood Clássica e muito velhos para a Nova, estes artistas provinham da grande escola de artesanato audiovisual: a arqui-inimiga televisão. A competência técnica e o pendor popular encontravam (em gente como Lumet, Siegel e Peckinpah) a inquietação criativa, a abertura crítica e um time de velhos e disponíveis gigantes da atuação.
Apesar da riqueza da produção de meados dos anos 60, grande parte da memória cinematográfica se ofusca com a chegada de "Bonnie e Clyde", "A Primeira Noite de um Homem", "Easy Rider" e "Perdidos na Noite", e mais ainda com o quê tais filmes representam. A ruptura (estética e discursiva) empreendida pela Nova Hollywood é muito mais resultado de um processo, enraizado na história próxima, do que uma "revolução" como muitos desejam.
Visto de perto, o cinema da "geração do meio" sempre foi crítico e alienante, ousado e convencional, experimental e clássico. Tudo depende dos referenciais que se assume. A beleza bruta deste cinema é como a do México de "Meu Ódio Será Sua Herança": simples apesar de nem todos conseguirem admirá-la.
Miguel Haoni
(Cineclube Sesi, 2013)
Programação:
14/02 - Meu Ódio Será Sua Herança, de Sam Peckimpah
21/02 - O Estranho que Nós Amamos, de Don Siegel
28/02 - Corrida Contra o Destino, de Richard C. Sarafian
Serviço:
Toda quinta às 19h30
Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema Fiep
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA
Realização: Sesi
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Apoio: Atalante
Mais informações:
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