O Coletivo
Atalante o convida a participar do Flash Mob¹ “O Leitor”, que, nesta sua
segunda edição, ocorrerá no Terminal Portão, em uma Segunda-Feira², das 18:30
às 19:30³, no dia 11/03/2013.
No que
consiste este Flash Mob? Objetivamente, consistirá num grupo espontâneo de pessoas
que irão ao Terminal Portão e lerão um livro durante uma hora. Aqueles que
estiverem lendo não deverão conversar, sob nenhuma circunstância, com os demais
participantes/leitores do evento, mas sim, pura e simplesmente, se restringir a
exercer esta atividade tipicamente solitária que é a leitura! Recomendamos aos
Leitores que levem algum livro que seja especial, algo que o tenha marcado de
alguma maneira e que, como recompensa, você o homenageará durante esta uma hora
de leitura. Caso alguém, dentre os Transeuntes do Terminal, que, diante de um
número tão atípico de Leitores em um mesmo lugar, o indague sobre o porquê de
haver tanta gente lendo, faça-se de desentendido e, se julgar conveniente,
comece a falar a respeito da obra, divulgue-a, leia algum pequeno trecho do
livro, pois assim, caso algum curioso resolva indagar vários Leitores, ele
ouvirá vários relatos e trechos tornando-se assim, igualmente, um Leitor. A ideia,
muito singela, é simplesmente causar um certo estranhamento nos Transeuntes do
Terminal e, quem sabe, suscitar-lhes um certo desejo, ainda que inconsciente e
tíbio, pela leitura.
Agora,
refaçamos a pergunta do início: “No que consiste este Flash Mob?” Em termos
mais idealistas e figurados, este Flash Mob consiste em uma intervenção, por
parte de uma figura inusitada, em um dos templos mais representativos de nossas
rotinas: os terminais de ônibus da cidade (Cabral, Portão, Boqueirão, Pinheirinho
e Guadalupe). A tal figura inusitada é o Leitor, geralmente em minoria em
praticamente qualquer espaço, mas que possui uma postura tão única e
inequívoca: livro à mão, cabeça curvada e olhar atento e navegado.
André
Bazin, no seu livro Charlie Chaplin, diz a respeito de Carlitos, o grande
personagem de Chaplin: “A sociedade impõe mil cerimônias que não passam
igualmente de uma espécie de missa permanente que ela oferece a si própria. Um
exemplo disso é a maneira de se comer em sociedade. Carlitos jamais consegue usar
os talheres de modo conveniente. Põe sempre o cotovelo dentro dos pratos,
derruba a sopa sobre a calça etc... Religioso ou não, o sagrado está presente
em toda a vida social não apenas no magistrado, no policial, no sacerdote, mas
no ritual de alimentação, nas relações profissionais, nos transportes públicos.
É por ele que a sociedade mantém sua coerência, como em um campo magnético.
Inconscientemente, a cada minuto, nos posicionamos segundo suas linhas de
força. Mas Carlitos é feito de outro metal. Não apenas escapa à sua influência,
mas a própria categoria do sagrado não existe para ele, sendo tão inconcebível
quanto a rosa para um cego de nascença”.
Tendo isso
em vista, propomos esta intervenção por parte dos Leitores: nos lugares já
consagrados a determinados usos tão restritos e funcionais, iremos realizar uma
das atividades mais negligenciadas em nosso país que conta, segundo a última
pesquisa, com a quantia de 27% da população de analfabetos funcionais, fora os
totalmente analfabetos. Por fim, esta intervenção é também uma maneira, ainda
que indireta, de dizer à população que os leitores existem e que a leitura é
possível nem que seja somente durante nossas viagens diárias de ônibus rumo aos
nossos trabalhos, escolas ou outras instituições afins.
1 Flash
Mobs são aglomerações instantâneas de pessoas em certo lugar para realizar uma
ação inusitada que tenha sido previamente combinada. Após a ação, os
participantes se dispersam tão rapidamente quanto se reuniram. Os Flash Mobs são
filhos das redes sociais de comunicação, que acabaram por facilitar a união de
grupos que possuam gostos e interesses em comum, sendo o seu primeiro evento
articulado por e-mail e, hoje em dia, têm sido articulados com mais frequência
através do Facebook. Em Curitiba, por exemplo, Flash Mob mais tradicional é o
Zombie Walk, o qual ocorre em todo o mundo.
2 O evento
tem que ocorrer na Segunda-Feira porque é o primeiro dia útil da semana e
representa o retorno ao cotidiano do trabalho e de nossas outras obrigações
para com a estrutura socioeconômica na qual estamos inseridos até o pescoço. Além
disso, a segunda-feira, em escala semanal, corresponderia, digamos, aos
primeiros minutos subsequentes ao nosso despertar do sono, logo, supostamente,
estaríamos com nossa sensibilidade mais suscetível ao divagar próprio de nossa
imaginação.
3 Este
horário foi escolhido tendo em vista que o mesmo corresponde à hora do rush
que, em nossa cidade e em todas as outra metrópoles do mundo, está cada vez
mais caótica e estressante. A idéia é sugerir a temporalidade própria do ato de
leitura como uma alternativa mais salutar que a carregada temporalidade deste
horário.
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