Ficção, 85 min.
Direção: André Luiz Oliveira
Roteiro: André Luiz Oliveira
Atores: Antônio Luis Martins, Milton
Gaúcho, Nilda Spenser, Manuel Costa Jr. Caveirinha, José Vieira, Carlos Bastos,
Ana Lúcia Oliveira, Adelina Marta
Era
uma época em que ecoava um brado dizendo “seja heroi seja marginal”. Não que o
heroísmo estivesse em baixa, só ver Macunaíma arrasando quarteirões ao juntar
Chanchada e Cinema Novo. Ou Sganzerla e sua psicanálise lírica do bandido, como
falaria Jean Claude Bernardet em sua investida lacaniana sobre os ditos
cineastas udigrudi. Na Bahia o um mito anarquista travestia-se de profeta na
grande mídia, angariando um séquito que caminhava através da mentira
anti-cristã, contracultura, de Aleister Crowley – Raul Seixas. Na mesma Bahia, o marginal herói viria das
galáxias distantes.
André
Luiz Oliveira, à parte de qualquer produção da sua época, produz com amigos
mais uma expressão fora dos padrões narrativos da época. Este filme de 1969,
seu primeiro longa, foi exibido no festival de Brasília e ganhou prêmio – num
contexto em que, para se ter uma idéia, a Belair já se via em gestação. Álvaro
Guimarães, este sim um excêntrico marginal da época, exibe mais tarde um filme
que durava a ser finalizado, o conhecido Caveira
My Friend (1968). Conta a lenda que esta novíssima onda baiana não tinha
Glauber como pai gerador, e em textos da época já se percebia que a juventude
pós-cinema novo aludia a outra época de radicalização de linguagens e
comportamentos.
Brasília
e seu festival viriam a ser o núcleo do furacão. No entanto, a Bahia não se
acalmava em seu tropicalismo latente. André Luiz, isolado como produtor, viria
dizer em entrevista recente que o mergulho de uma geração não teria sido
totalmente pacífico:
“Sabia que estava entrando em uma zona
perigosa relacionada à quebra de tabus familiares, sociais, políticos;
mergulhando numa região que de início era muito divertida e colorida, mas aos
poucos foi ficando demasiadamente sombria e assustadora. Eu intuía que a coisa
podia piorar como piorou, mas eu já havia mergulhado e tinha que seguir
nadando. Tanto que o filme é carregado desse tom divertido, esculhambado,
agressivo e melancólico.” (revista Zingu!)
Uma
festa, uma curtição, uma transa ( ou um transe) em celebrações undergrounds e
descompromissadas com qualquer seriedade oferecida por uma sociedade envolvida
pelos problemas de um governo ditatorial – assim seria também visto o filme
após o seu tempo e sua geração. Na chamada “irresponsabilidade” política
proferida acerca dos mais anárquicos, tal como o grupo do filme, se via também
uma derrota de um ideal utópico, uma perda de parâmetros e uma distopia que
continuaria por muitas décadas à frente: uma tomada de consciência.
Padrões
de comportamento também são alvo de um filme como Meteorango Kid. Se for visto
como uma proposição, um enunciado de uma época em que todos estavam perdidos,
algo se achava neste caos transitório. A liberdade andarilha da matilha humana,
a sombria Bahia que encarnava todos os caracteres coronelistas, uma dificuldade
em se submeter à cultura perfeccionista: está tudo isso em volta do herói Lula,
enviado, messias marginal da percepção jovial hippie.
Mauro Luciano
(Mestre em imagem e som pela Ufscar, crítico de cinema e realizador de vídeos.)
(Mestre em imagem e som pela Ufscar, crítico de cinema e realizador de vídeos.)
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