Cineclube Sesi apresenta: Theo Angelopoulos e a mise-en-scène moderna
Talvez a grande diferença entre o cinema clássico e o moderno seja que no primeiro todos os jogos e experimentações com a linguagem cinematográfica estão em função da história: movimentos de câmera, enquadramentos, cortes e mise-en-scène agregam sempre uma função narrativa. Para os autores que seguem esta tradição, a liberdade e a criatividade são valores equivalentes ao de qualquer outra (vanguarda, modernismo, fluxo), desde que estejam dentro do projeto de contação da história, dando-lhe andamento, estabelecendo desvios, rupturas e muitas vezes transcendendo-a.
Para os modernos a história ainda é central, mas a ela se agregam intenções exteriores - expressivas, abstratas, poéticas, pictóricas, políticas, estéticas, intelectuais, sensoriais - que a dissolvem num caldo criativo complexo.
Tomemos por exemplo a mise-enscène, da maneira como foi concebida por Andre Bazin e a crítica francesa dos anos 50. Em realizadores como John Ford (paradigma clássico), a disposição de personagens e objetos em cena, suas relações com a câmera, com o fora de campo e entre si, seus movimentos dentro do plano e entre os planos, convidavam quase sempre a um olhar ancorado na cadeia significativa do drama: Quem são estes personagens no espaço? Quais são suas histórias? O que os move? São questões que o silêncio das imagens sustentam, muito além das respostas nas ações e diálogos.
Em contrapartida, o que "dizem" as composições desdramatizadas de Michelangelo Antonioni, os movimentos "espirituais" de Andrei Tarkovsky, a austeridade dos tableux de Jean-Marie Straub? Do ponto de vista narrativo, nada. A mise-en-scène moderna se desenrola em outro lugar e "comunica" (palavra inapropriada) outras coisas. Mas o quê?
Para enfrentar esta questão, nada mais apropriado que iniciarmos pela investigação do estilo naquele que foi considerado o mais importante diretor de planos-sequencia (longos trechos de filme em que toda aunidade ação/tempo/espaço se encerra entre o corte inicial e o final do plano) de seu tempo: o grego Theodoros Angelopoulos.
Iniciando nos anos 70, Angelopoulos foi um moderno tardio. Chega ao cinema no tempo da autoconsciência absoluta do estilo. Em função disto, e de sua formação humanista/mítica, figura-se em pouco mais de 40 anos como um dos grandes autores do cinema.
Sua leitura heróica da História e sua técnica ao mesmo tempo emocional e desdramatizada transforma suas narrativas em exercícios expressivos e pictóricos fascinantes, nos quais a encenação materializa uma espécie de espetáculo do desencanto.
Como escreveu o teórico David Bordwell, a mise-en-scène de Angelopoulos prova que o velho modernismo cinematográfico ainda pode abrir nossos olhos.
Miguel Haoni
(Cineclube Sesi, 2013)
(Cineclube Sesi, 2013)
Programação:
17/01 (excepcionalmente às 18h30) - A Viagem dos Comediantes
24/01 - Um Olhar a Cada Dia
17/01 (excepcionalmente às 18h30) - A Viagem dos Comediantes
24/01 - Um Olhar a Cada Dia
31/01 - Vale dos Lamentos
Serviço:
Sessões às quintas-feiras
às 19h30 (excepcionalmente dia 17)
Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema Fiep
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA
Realização: Sesi
Apoio: Processo Multiartes
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