domingo, 28 de setembro de 2014

Schock (Shock – Mario Bava, 1977)


Mommy, i have to kill you.

Arquitetura do medo em estado puro. Estão ali, todos os insights, todos os conceitos, toda a matéria-prima pra se um dia você resolver fazer um filme com uma atmosfera insuportável e manter o espectador na palma da sua mão, já saber por onde começar. É impressionante como nada foge ao controle do mestre, como todas as decisões tomadas em todos os momentos certos podem levar uma historieta imbecil ao status de obra de arte do horror italiano.
Em Schock, Mario Bava não apenas pratica a fina arte da sugestão como corresponde à cada insinuação oferecendo algo muito maior do que parecia inicialmente. Ele gasta em torno de uma hora preparando terreno, brincando, jogando com o público, provocando sua sede além do limite só pra em seguida afogá-lo numa imersão climática que não oferece nem permite uma fuga. Os últimos dez minutos, principalmente, são poderosíssimos, além do climão surreal onipresente e reforçado por uma seqüência mais criativa que a outra naquele que talvez seja o filme mais inventivo do cara, considerando a crueza do ambiente e do próprio potencial que a trama oferecia.
Schock é o filme de despedida de Mario Bava numa carreira que nasceu tarde e sequer completou o 20º aniversário, deixando, afinal, a impressão de que talvez não precisasse. A herança e a influência de Bava ainda estão para ser devidamente atestadas, assim como seu talento pra manipulação (que é bem dizendo a habilidade básica do cineasta) e sua estranha capacidade pra amplificar-se ilimitadamente. Foi absoluto como artesão das cores e dos movimentos, no despudor pra torcer e desfigurar a narrativa, pra construir atmosferas que sustentavam-se sozinhas, para encerrar sua trajetória exatamente da maneira que merecia. Porque Schock é obra-prima-ponto-final.

Luis Henrique Boaventura
(Texto original: 
http://multiplot.wordpress.com/2009/01/24/schock-mario-bava-1977/)

Nenhum comentário:

Postar um comentário