Funky Forest: The First Contact combina vinte e um curtas que parecem não ter nenhuma relação entre si, todavia, à medida que se sucedem, se vão ligando, como a vida de seus personagens, em uma história que os abarca a todos.
Takefumi e Nocchi, que não sabem se estão ou
não noivos e cujas frustrações aparecem em sonhos. Três garotas que pasam uma
tarde contando-se histórias, como a do extraterrestre Piko-Riko, relatada pelo
excêntrico Takefumi, que jura ter estado em um OVNI. Um convescote para
solteiras e solteiros que resulta um fiasco porque não vai nenhuma mulher. Uma
garota que se encontra com uns garotos que conectam seu umbigo a uma máquina
com uma abertura anal por onde sai um pequeno cozinheiro de sushi. Uma professora ginasial chamada Masaru
que está a cargo de um centro de atividades para estudantes onde as crianças
jogam badminton com testículos e criaturas que chupam sangre.
Pastiche em que se mesclam peças de anime com
capítulos de humor e números musicais de uma espécie de música electrónica
Cut-Up ou Sampling, gênero influenciado pela técnica de colagem de Merz (Kurt
Schwitters, 1919), a literatura cut-up de Burroughs, o dada e o surrealismo. A
Opera se divide em dois caras ou partes, Cara A e Cara B, interrompidos por
eclécticas intermissões musicais estruturadas em capítulos de humor que a modo de
sketches ou blocos conceituais repetem e variam algumas de suas partes. Algumas
destas mesmas parecem estar directamente influenciadas por uma espécie de fusão
entre o situacionismo, a performance e o Cronenberg mais
"transhumanista". Continuação de
O Sabor do Chá que, vistos em conjunto, extendem-se até cinco horas.
A exemplo de outros espécimes do cinema
japonês contemporâneo, como O Gigante do
Japão, mockmentary-reality-show de um homem sub-empregado que fica gigante
através de um processo científico e
enfrenta monstros numa atração televisiva, com referências que vão de Godzilla,
Dragon Ball e Ultraman à crítica social e econômica e aos tabus sexuais e O
Sabor do Chá, filme anterior de Katsuhito Ichii que homenageia o cinema de
costumes clássico japonês, no qual a familia é a base de criação de histórias
mínimas, Funky Forest: The First Contact
é um medley de nonsense, grotesco, freak, livre-associação, bizarro, bobo,
inconveniente, tabu, ridículo, que satiriza os usos e costumes de um povo
exemplar e suas maneiras ontológicas caracterização midiática.
Com olhar ocidental, pode-se identificar os
bonecos de resina e silicone dos filmes de David Croenenberg, o humor
auto-referente e erudito de Monty Phyton, as caricaturas e escritos satíricos
modernos, medievais e antigos europeus, a cultura pop do karaoke, do ukiyo, do
anime do mangaka.
O Japão é o país em que a economia e a cultura
funcionam às avessas do resto do mundo. Em sua cultura pop, o capitalismo
triunfante desembaraçado dos tabus ocidentais e permeados por contingências
diversas propicia uma propedêutica que nos leva a uma serendipicidade muito
além dos nossos conceitos de "seriedade" artística e estética.
(frequentador do Cineclube Sesi)
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