quinta-feira, 13 de março de 2014

Comédia? Ficção Científica? Fantasia? Genialidade?


Funky Forest: The First Contact combina vinte e um curtas que parecem não ter nenhuma relação entre si, todavia, à medida que se sucedem, se vão ligando, como a vida de seus personagens, em uma história que os abarca a todos.
Takefumi e Nocchi, que não sabem se estão ou não noivos e cujas frustrações aparecem em sonhos. Três garotas que pasam uma tarde contando-se histórias, como a do extraterrestre Piko-Riko, relatada pelo excêntrico Takefumi, que jura ter estado em um OVNI. Um convescote para solteiras e solteiros que resulta um fiasco porque não vai nenhuma mulher. Uma garota que se encontra com uns garotos que conectam seu umbigo a uma máquina com uma abertura anal por onde sai um pequeno cozinheiro de sushi. Uma professora ginasial chamada Masaru que está a cargo de um centro de atividades para estudantes onde as crianças jogam badminton com testículos e criaturas que chupam sangre.
Pastiche em que se mesclam peças de anime com capítulos de humor e números musicais de uma espécie de música electrónica Cut-Up ou Sampling, gênero influenciado pela técnica de colagem de Merz (Kurt Schwitters, 1919), a literatura cut-up de Burroughs, o dada e o surrealismo. A Opera se divide em dois caras ou partes, Cara A e Cara B, interrompidos por eclécticas intermissões musicais estruturadas em capítulos de humor que a modo de sketches ou blocos conceituais repetem e variam algumas de suas partes. Algumas destas mesmas parecem estar directamente influenciadas por uma espécie de fusão entre o situacionismo, a performance e o Cronenberg mais "transhumanista". Continuação de O Sabor do Chá que, vistos em conjunto, extendem-se até cinco horas.
A exemplo de outros espécimes do cinema japonês contemporâneo, como O Gigante do Japão, mockmentary-reality-show de um homem sub-empregado que fica gigante através  de um processo científico e enfrenta monstros numa atração televisiva, com referências que vão de Godzilla, Dragon Ball e Ultraman à crítica social e econômica e aos tabus sexuais  e O Sabor do Chá, filme anterior de Katsuhito Ichii que homenageia o cinema de costumes clássico japonês, no qual a familia é a base de criação de histórias mínimas, Funky Forest: The First Contact é um medley de nonsense, grotesco, freak, livre-associação, bizarro, bobo, inconveniente, tabu, ridículo, que satiriza os usos e costumes de um povo exemplar e suas maneiras ontológicas caracterização midiática.
Com olhar ocidental, pode-se identificar os bonecos de resina e silicone dos filmes de David Croenenberg, o humor auto-referente e erudito de Monty Phyton, as caricaturas e escritos satíricos modernos, medievais e antigos europeus, a cultura pop do karaoke, do ukiyo, do anime do mangaka.
O Japão é o país em que a economia e a cultura funcionam às avessas do resto do mundo. Em sua cultura pop, o capitalismo triunfante desembaraçado dos tabus ocidentais e permeados por contingências diversas propicia uma propedêutica que nos leva a uma serendipicidade muito além dos nossos conceitos de "seriedade" artística e estética.

Igor Viana Müller
(frequentador do Cineclube Sesi)

Nenhum comentário:

Postar um comentário