sexta-feira, 10 de abril de 2015

Cine FAP: "Over The Edge" de Jonathan Kaplan

Nesta segunda-feira, dia 13, o Cine FAP apresenta "Over The Edge". Sempre com entrada franca!
 Cine FAP apresenta:
"Over The Edge" de Jonathan Kaplan

Nova Granada é uma comunidade planejada onde Ritchie White (Matt Dillon), Claude Zachary (Tom Fergus) e Johnny (Tiger Thompson) vivem em harmonia com outros adolescentes e suas famílias. Contudo, o que foi desenhado para ser correto e organizado acaba resultando em uma confusão fora do controle quando a rebeldia dos jovens é colocada em prática.

Serviço:
dia 13/04 (segunda)
às 19 hs
no Auditório Antonio Melilo
(Rua dos Funcionários, 1357, Cabral)
ENTRADA FRANCA

Realização: Cine FAP e HATARI! (Grupo de Estudos de Cinema)
Apoio: Coletivo Atalante

9 comentários:

  1. Ontem eu vi um filme no Cine FAP que, depois de uma noite de sono, ainda continua me assombrando.
    Como disse ontem, no debate que se seguiu ao filme, se eu o tomo na sua materialidade factual, eu entro em pânico. Para me defender do mal estar, saio em busca da metáfora, quase sempre tranqüilizadora.
    Digo “quase” porque, ao olhar por baixo do pano, buscando o quê de tão familiar e sinistro aquela rebelião de jovens contra o Outro evoca, o encontro com o Real não é muito confortável.
    O que eu encontro?
    Encontro que nós, os inscritos no rol dos humanos, conhecemos aquele conflito, saibamos disso ou não: Eros X Tânatos – luta de titãs – diz Freud.
    Aí, nesse reconhecimento, nem sempre consciente, mora a perenidade desse filme.

    Tânatos é um dos nomes freudianos para a pulsão de morte que nos habita. Pulsão que, na sua face conservadora, perpetua o morto; na sua face agressiva, destrói sem remissão; mas que, na sua face criadora, quebra o velho para dar lugar ao novo.

    No filme, o velho é o impasse, o beco sem saída em que todos acabaram metidos em nome de valores... -vá lá- ... “capitalistas” (odeio a palavra porque ela não diz nada e assume pose de ter dito tudo). Aqui a pulsão de morte está do lado da conservação e perpetuação de tais valores: que nada mude! que tudo fique sempre igual!

    Os jovens lutam pela vida e, portanto, encarnam Eros. Mas Tânatos, em sua versão de pura fúria e agressividade, mescla-se com Eros para produzir o terror.

    Tem alguma outra saída?

    Não sei. Mas prefiro a alternativa trilhada, por exemplo, pelos impressionistas: incendiaram o cenário cultural de Paris. O incêndio se alastrou pelo mundo e sua chama ainda aquece a alma humana e não dá sinais de se extinguir. Se me é permitido, já não digo “escolher”, mas, simplesmente, “preferir” – prefiro a saída impressionista: Tânatos, em sua face criadora, rompendo o velho para dar lugar ao novo, ao inédito, ao maravilhoso.

    É só questão de gosto?

    Acho que não: é questão de eficácia. Por que se contentar com tão pouco, como quebrar maçanetas da escola ou incendiar automóveis? Se é para transgredir, não se deve deixar barato: que tal mudar o mundo?

    A gurizada libertária de Nova Granada vai para a cadeia (pelo jeito, alegres, não sabemos exatamente o porquê: se pelo triunfo passageiro ou se pelo limite, finalmente encontrado, já que o “não” civiliza e apazigua). O Impressionismo permanece tão libertador para todos nós quanto o foi para os próprios impressionistas.

    Nova Granada, com certeza, retomou seu destino: uma nova cidade para um velho modo de viver. O mundo nunca mais foi o mesmo depois dos impressionistas. Libertário não quer dizer libertador.

    Vera Lúcia de Oliveira e Silva
    14 MAR 15

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  2. A atitude de destruição das crianças é certamante de rebelião, libertária, mas não revolucionária. é um ponto de escape confuso da opressão. O filme em si, ao contrário, é libertador, especialmente por conter um protagonista que vê e compreende a verdade do que está acontecendo - "pra mim já chega". é uma revolução que ele sozinho não pode empreender no nível social - mudar os adultos, mudar o modo como os adultos lidam com o mundo - a única coisa que ele pode fazer é manter a revolta em si mesmo e, no futuro, fazer a revolução ao ser diferente, diferente dos pais, embora saibamos que essa é uma tarefa difícil, pois como diz novamente Alisson do Clube dos Cinco, é inevitável ficar igual aos pais quando se cresce - sim, é uma tendência, ao crescer compreendemos certas coisas, certas atitudes, que não compreendiamos antes - o impulso de vendas de Jerry, o pai, vinda do desejo de dar a sua família uma boa vida, sua opressão vinha do descontrole que sentia na relação com seu filhinho, cada vez mais diferente e distante, um desespero de perda, que Carl não compreendia - Quando Carl chega espancado, o pai fica muito preocupado. Ele sobe, arisco, e não vê o pai que é praticamente segurado na sala pelo colega, que diz que a mãe cuidará disso. Depois, quando a mãe sai do quarto, a única coisa que Carl ouve pela porta entreaberta é uma discussão alegre do pai na sala, ou seja - para Carl, o pai nem se importa com ele, e há aí um desentendimento, do tipo - "Qual é, meu pai não me ama mais", e, além disso, parece estar tomando todas as atitudes erradas? - "Vocês estão loucos", Carl diz na discussão com os pais. Enfim, o final de felicidade vem de uma misteriosa visão mais ampla da vida, que pode ser ligada ao fato de que Carl quase morreu, viu a morte, e agora a vida é mais um presente ou milagre que qualquer outra coisa, mais que nunca, e vendo a vida nessa perspectiva, é difícil continuar a sentir essa opressão transitória dos adultos do mesmo modo intenso de antes. O pai está diferente - na despedida, ele murmura "I am sorry" para o filho, e, além de tudo isso, temos o amor que permanece, Cory, que quase sempre vimos pelos olhos apaixonados de Carl.
    A destruição é um modo violento e traumático de dizer; "Porra, tá tudo errado! Vocês não vêem isso?" e "Foda-se essa merda!". Mas com o tempo outra atitude, para os rebeldes que sabem compreender, se faz refletir: a mudança de si mesmo - fazer diferente - que é amplamente esboçada aqui, além de um ou dois adultos divergentes no filme, que tentam compreender de outros modos, mais compreensivos, o que está acontecendo, amplamente esboçada no protagonista exemplar. Nova York e Veermer - ao que tudo indica foi Carl quem pendurou a reprodução de Veermer na casa abandonada - são símbolos de uma outra vida que Carl perdeu ao ir para Nova Granada, e igualmente sinais dessa consciência em formação.

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    1. Bem legal seu comentário, Eduardo.

      Concordo plenamente com você que o filme é libertador e não libertário.
      Também entendo que há transgressões possíveis para todos e transgressões impossíveis para muitos.
      Só penso que não dá para deixar barato.

      Até a próxima.

      Vera

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  3. Eduardo – um cinéfilo – e eu.

    Eduardo:

    Volto a reler seu texto sobre o filme Over de Edge, de Jonathan Kaplan.
    Volto a me assombrar e quero dizer por quê.
    Você toma o filme como a superfície de um abismo – e mergulha (Miguel também faz isso muito bem). Explora a sua profundidade, sem nunca perder o fio que o liga à superfície. Você se mantém fiel ao filme. Vai do conteúdo manifesto ao conteúdo latente. Trabalha como um analisante interpretando um sonho. No que vai desdobrando fios, da superfície para a profundeza, transforma o filme num objeto tridimensional. Esse é o seu trabalho e a sua produção, no seu ofício de cinéfilo.
    Eu, ao contrário, tomo o filme como uma superfície sólida, em que tomo apoio para decolar meu aviãozinho. O filme, para mim, acaba sendo um mero álibi para viajar (espero que, nem sempre, na maionese).
    Se para vocês, cinéfilos, cada filme leva a um lugar diferente, eu embarco sempre num mesmo vôo, com destino marcado, e chego sempre ao mesmo lugar.
    Esta é a diferença que nos separa e que, paradoxalmente, me aproxima de vocês pelo caminho da admiração.

    Vera

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Logo depois de postar meu comentário, fiquei bem preocupado que, devido à má escrita, o tom soasse meio impositivo, quando na verdade a essência é de complemento, reflexivo: reflexões que seu comentário me suscitou, assim que o li.

    Quanto a mim, não sou no momento um grande analista, apenas estudante: mas sua mensagem também se dirige ao cinéfilo, aos meus colegas - e essa sua decolagem sobre o filme é sobretudo esclarecedora, bem esclarecedora pra mim: portanto, ao menos no que me concerne, a admiração então é recíproca.

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  6. Agradeço a reciprocidade.
    Agradeço e pergunto: o que é que marca a viragem de "apenas estudante" para "grande analista"?
    Tem idéia?
    Vera

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  7. Não deve haver, apenas um desenvolvimento eterno: mas existe aquela segurança sobre o que se fala e amplidão do conhecimento. O meu ainda acho muito estreito. Um estudante então seria quem ainda está muito no início do caminho, ou pelo menos que se sente ainda muito no início. Também há como os outros o vêem e o que esse analista significa para os outros. Nesse caso acho que ele poderia ser mestre para uns, estudante para outros, estudante para si mesmo.

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    1. Eduardo:

      Refleti sobre suas palavras. Destaco o "que se sente ainda muito no início". Aí, no "que se sente" é que me parece estar a "viragem" pela qual perguntei.
      Você tem toda razão quando diz que é preciso trabalhar para adquirir segurança e amplidão (eu diria que é mais uma questão de profundidade que de extensão).
      É verdade: autorização não vem de graça, há que se trabalhar.
      Mas ela não vem de fora - a gente só se autoriza no si mesmo, trabalhando para tornar próprio aquilo que herdamos do Outro, da cultura.
      Mas é reconhecida desde fora, você tem razão.
      O que eu posso lhe dizer é que, tomando sua palavra falada no dia da apresentação do filme; e a paixão de sua palavra escrita em resposta ao meu texto; eu diria que, para mim, você já está sendo um cinéfilo - mesmo que, eventualmete, ainda não saiba disso.
      Enfim, no mínimo você já pegou o caminho.
      O que não é pouco.

      Abraços.

      Vera

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